Princesa Astrid da Bélgica visita Jardim Botânico do Rio
Princesa está na cidade comandando a missão econômica belga no país e se encantou com historia do pau-brasil
A Rainha Elisabeth (1876-1965) — a belga, aquela mesmo, que nomeia avenida em Copacabana — e o Rei Albert (1875-1934) estiveram no Rio em 1920 e, no Jardim Botânico, plantaram um jequitibá e uma peroba, respectivamente, que lá estão até hoje.
Nesta quinta-feira, 104 anos depois, a bisneta deles, Princesa Astrid da Bélgica, que está na cidade comandando a missão econômica belga no país, esteve no parque para conhecer pessoalmente as árvores imponentes. Com seu próprio celular em mãos, ela não deixou escapar um clique sequer.
Além das fotos das placas — que têm não só nome dos parentes, mas também as datas dos plantios — e das árvores em si, a princesa se interessou pelas histórias das plantas.
Uma de suas dúvidas foi o porquê de o jequitibá plantado pela bisavó ser considerado jovem. Ela se impressionou ao saber que uma árvore dessas pode chegar aos 800 anos. Além dos plantios dos bisavós, a Princesa também visitou a árvore plantada pelo Rei Leopoldo III, 1962, seu avô, uma chuva-de-ouro.
Sergio Besserman Vianna, presidente do Jardim Botânico do Rio, conta que a princesa também ficou impressionada com o pau-brasil — não só por sua história, de ter dado nome ao país e ser a responsável por tingir tecidos na Europa no passado — mas também por ser, até hoje, usada para fazer o arco de um bom violino.
Ao parar pra fazer fotos em um chafariz, em meio ao tour a bordo de carrinhos elétricos, a princesa foi abordada por uma família de turistas de Fortaleza. Daniel Melo, que estava acompanhado da mulher, Dione São Bernardo, e da filha, Lis Melo, disse à princesa que ela é muito simpática e elogiou o chocolate belga. Sorridente, Astrid posou para fotos com os “tietes”, mesmo sem falar português.
— Foi maravilhoso, pela sua simpatia e educação. (A visita) mostra que nossa cultura tem valorização — disse Daniel, após a foto.
Acordos no Brasil
A visita da comitiva belga também engloba a assinatura de uma carta de intenções entre os Jardins Botânicos do Rio e de Meise, na Bélgica, para repatriar - virtualmente - 57 mil imagens do livro Flora Brasiliensis (1840), que descreveu pela primeira vez 20 mil espécies brasileiras.
Desse acervo, fazem parte, por exemplo, imagens de coletas da coleção do naturalista Von Martius. A assinatura, marcada para o fim da tarde no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, visa um futuro acordo de cooperação entre as instituições.
A ideia é que o acervo belga passe a integrar o Herbário Virtual Reflora — uma iniciativa do CNPQ com o Jardim Botânico do Rio, com sistema desenvolvido pela Coppe/UFRJ — iniciado em 2010, plataforma que revolucionou as pesquisas sobre a flora brasileira. Atualmente, o HV Reflora reúne 99 herbários parceiros, com cerca de 4,6 milhões de imagens de espécimes disponíveis em sua plataforma.
Herbários físicos são formados por amostras de plantas coletadas por pesquisadores em suas expedições de campo e preparadas para armazenamento e estudo, chamadas de exsicatas.
Até o início do século XX, naturalistas estrangeiros realizavam coletas no Brasil e as levaram para herbários em outros países. Por isso, para estudar um grupo de plantas, era comum aos pesquisadores brasileiros terem que se deslocar até essas instituições no exterior, o que é cada vez menos necessário com o Herbário Virtual.
— Além da parceria para o herbário digital, estamos firmando um convênio com o Instituto Wagralim (grupo belga de inovação em alimentos). Quando a gente fala de bioeconomia, ou de agrofloresta, não é aquela agricultura tradicional de monocultura e agrotóxico. Aqui tem toda uma biodiversidade que acolhe aquela planta, faz ela prosperar e não parasitar. Isso inclui também uma avaliação da mudança de hábitos alimentares da juventude. O Jardim Botânico vai fornecer conhecimento de plantas, e aprender com eles também vários aspectos — explica Besserman, destacando o conhecimento especial da Mata Atlântica no JBRJ.
Cônsul-geral da Bélgica no Brasil, Caroline Mouchart explica que a visita tem a intenção de fortalecer os laços econômicos e acordos bilaterais entre Bélgica e Brasil. A princesa, que além do Rio também visitou São Paulo, volta para seu país no próximo sábado.
Segundo a cônsul, essa visita de agora é um “símbolo muito importante”, realizando uma nova visita da família real belga ao Brasil. Em 1920, quando as árvores visitadas por Astrid foram plantadas, os reis Albert I e Elizabeth estavam em terras brasileiras para agradecer ao apoio do Brasil na Primeira Guerra Mundial.
Acordos no Palácio Guanabara
A Princesa Astrid será recebida ainda pelo governador Cláudio Castro (PL) na sede do governo estadual, o Palácio Guanabara. Juntos, assinarão ainda nove Memorandos de Entendimento (MoUs).
Entre eles há parcerias entre universidades belgas e brasileiras, além de colaborações no setor da saúde — como pesquisas em vacinas em colaboração com a Fiocruz — e até um acordo comercial entre uma cervejaria belga e uma rede de supermercados da cidade, detalha a cônsul.
Há ainda parcerias no setor de energia nuclear. Na comitiva, há ministros regionais (equivalentes aos governadores) belgas, da região da Valonia, além de representantes de empresas e universidades locais.