LEONARDO SALE

Família de homem atropelado por pastor nega que ele tenha tentado assaltar: "Ele é trabalhador"

Declaração foi da irmã do homem, Thalita dos Santos

Carro do pastor Leonardo Sale após atropelamento na Barra da Tijuca, no Rio - reprodução

O pastor Leonardo Sale afirma ter sofrido uma tentativa de assalto na rua Fernando Matos, na Barra da Tijuca, na noite da última quarta-feira. Segundo o relato dele nas redes sociais, ao reagir, ele teria acelerado o carro e atropelado um dos suspeitos que estavam de moto armados — o homem chegou a ficar preso debaixo da picape. Porém, a família de Marcos Matheus dos Santos Chaves, de 24 anos, vítima do atropelamento, nega a acusação.

Ao Globo, a irmã dele disse que o irmão estava trabalhando, foi preso injustamente e que há testemunhas da hora do acidente que negam a participação dele em uma tentativa de assalto.

— Marcos estava comigo em casa, na Freguesia, ele recebeu a ligação de uma passageira para fazer uma corrida para a Barra. Tanto que nas imagens dá para ver que ele está de colete de motoboy, ele estava trabalhando. Esse pastor está mentindo, o meu irmão não é nenhum bandido não. Ele bateu na moto do meu irmão e o atropelou. Tem várias testemunhas que estavam presentes procurando a nossa família dispostos a dizer que meu irmão não estava assaltando ninguém — conta Thalita dos Santos.

Após ser atropelado e ficar preso debaixo do carro, já custodiado, Marcos Matheus chegou a ser socorrido para o Hospital municipal Miguel Couto. Ele já recebeu alta. O caso foi registrado na 16ª DP (Barra da Tijuca). Segundo a Polícia Civil, “o autor foi preso em flagrante por tentativa de roubo circunstanciado, pelo concurso de pessoas e pelo emprego de arma de fogo”. As investigações seguem em andamento para tentar identificar e localizar um segundo envolvido, diz a civil em nota.

— Não tem nenhuma prova contra o meu irmão. Ele não estava armado, ele não estava com nada que dissesse que ele iria roubar e que provasse que ele estava no assalto. Esse pastor Leonardo deduziu e jogou o carro em cima dele. A gente, como família, fica arrasado e é triste porque a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Nós somos pobres, não temos dinheiro. Ele tem — diz a irmã do acusado.

Em um vídeo que circula nas redes sociais, uma mulher filmou o homem atropelado debaixo do carro. Ela diz que “o pastor Leonardo atropelou um trabalhador” e pergunta o nome do rapaz, que se identifica, diz que é morador do bairro da Freguesia, em Jacarepaguá, e informa o contato da mãe. Em outras gravações, Marcos Matheus aparece deitado em cima de um colete fluorescente normalmente usado por motoboys.

Nesta quinta-feira, no Instagram, rede social em que o pastor da Igreja Pentecostal Templo de Milagres tem mais de 2,5 milhões de seguidores, ele compartilhou um print de um pedaço do registro de ocorrência. Na postagem, Sale escreveu “pra quem postou que era ‘suspeito’ assaltante tá aí a prova, além de ter sido preso em flagrante, ele já tinha passagem e retornou para prisão”.

No documento publicado por Sale, a dinâmica do fato diz que agentes que estavam patrulhando na região foram chamados para um acidente de trânsito. No local, foram informados de que teria sido uma tentativa de assalto.

A família de Marcos Matheus discorda da versão apresentada. A irmã dele diz que a anotação criminal contra o irmão foi por pilotar moto sem carteira de habilitação.

— Nunca teve problema com roubo, com nada disso. Ele trabalhou mais de quatro anos na Barra, começou como auxiliar de cozinha e depois virou garçom. Ele saiu porque sofreu um acidente de moto. Agora está trabalhando fazendo bico em quiosques e como mototaxista. O meu irmão está preso só pelo relato do pastor, só que também tinha testemunha a favor do meu irmão. Só que o dinheiro sempre manda, dá poder, mostra quem tem mais força — lamenta Thalita.

Ainda conforme o relato da família de Marcos Matheus, ele teria terminado de pagar a moto há poucos meses. O veículo pegou fogo no acidente.

— Ele comprou a moto dele, tem toda a documentação direitinho, acabou de pagar uns dias desses. A gente, como pobre e trabalhador, rala tanto para conquistar alguma coisa e acaba assim, mas pelo menos ele está vivo, então a gente fica mais fortalecido e vamos lutar pela defesa dele — afirma Thalita. Segundo a família de Marcos Matheus, eles contrataram uma advogada para cuidar do caso.