Projetado para minimizar enchentes, primeiro parque alagável do Recife é inaugurado no Ipsep
Equipamento promete ter função dupla, sendo tanto uma área de lazer para a população, como uma bacia de retenção para minimizar os efeitos de enchentes em períodos de chuva intensa
O Recife inaugurou, nesta sexta-feira (29), o primeiro parque alagável da cidade. O equipamento fica na rua Vitória da Conquista, no bairro do Ipsep, Zona Sul, às margens do rio Tejipió.
O equipamento promete ter função dupla, sendo tanto uma área de lazer para a população, como uma bacia de retenção para minimizar os efeitos de enchentes em períodos de chuva intensa.
"É um equipamento que vai ajudar não só o rio Tejipió e as comunidades no entorno, como também os moradores, que vão ganhar uma área de convivência. Esse é o nosso primeiro parque alagável, e teremos ainda muitos outros no Recife, por meio de incentivo do Programa ProMorar. É um projeto onde se garante a margem do rio, readquirir famílias que estavam morando irregularmente na área, dando dignidade para elas", afirmou o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
A construção do equipamente teve um investimento de R$ 2,5 milhões, de acordo com a prefeitura.
O parque alagável ocupa cerca de 3,9 mil m², e foi projetado para melhorar a qualidade da água do rio e criar novos habitats naturais para a fauna e a flora.
A área de lazer também conta com diversos equipamentos públicos, como minicampo, playground, espaços para jogos, pista de cooper e pontos para piquenique.
Como vai funcionar
O parque alagável foi construído nos moldes de projetos do exterior, de países como Estados Unidos, China e Chile. Equipamentos do tipo vêm se consolidando nos últimos anos, e se apresentam como uma boa solução para zonas de risco de enchentes.
No papel, o parque alagável do Recife deverá fazer a absorção das águas da chuva e da maré alta do rio Tejipió, retendo, liberando, filtrando e devolvendo-as para a bacia, que desembocará no mar posteriormente.
Com isso, o escoamento da água deve acontecer em uma velocidade menor. Isso tende a fazer com que o sistema de drenagem da área ganhe mais tempo para receber o volume de água de maneira gradual, sem deixar alagamentos escaparem para as ruas e casas da população.
"A gente vai testar de fato o serviço entre maio e junho, que é o nosso período de chuvas mais intenso. Mas esperamos que o serviço dê certo mesmo, e a água não deverá passar da área do parque para as casas dos moradores. Caso a água suba ao nível previsto, após as chuvas e descida da maré, a água vai retornar para o rio, que desemboca no mar. Com isso, diminuímos as chances de alagamentos", explicou o presidente da URB, Luís Henrique Lira.
O projeto começou após as chuvas intensas de 2022. À época, a maré mais alta do rio Tejipió chegou a registrar 2,70m, o que alagou diversas casas e rendeu muito transtorno para a população.
Com isso, a URB iniciou obras de alargamento da bacia para a construção de uma calha. Com isso, o ponto passou de sete para 30 metros de largura. Só isso já deve diminuir muito as chances da maré alcançar uma altura tão elevada.
No segundo passo, a prefeitura fez acordos com os moradores do local onde hoje fica o parque. De acordo com a URB, o ponto era ocupado por cerca de 100 imóveis, incluindo casas irregulares. A partir disso, foi possível fazer a demolição das construções e dar início às obras no terreno.
Combate às mudanças climáticas
A ação já era muito aguardada, já que o Recife é a 16ª cidade mais afetada do mundo pelo avanço do mar e pelas mudanças climáticas, de acordo com o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Outro estudo, da organização Climate Central, em 2021, também constatou, em uma série de simulações, como ficariam diversos pontos do mundo, inclusive a capital, caso o nível do mar se eleve.
Na simulação, foram exibidos como ficariam trechos do bairro de Casa Amarela e da região em torno do Estádio dos Aflitos, na Zona Norte do Recife, em 2050, em patamares de aumento de até 4ºC. As imagens mostram áreas completamente alagadas até lá.
Para combater isso, o Recife já lançou uma licitação, em março deste ano, para a contratação de estudos e projetos para ir em busca de soluções para o enfrentamento do avanço do mar nas orlas das praias de Brasília Teimosa, Pina e Boa Viagem, na Zona Sul. Ao todo, foram disponibilizados R$ 4.190.996,23 para o certame.
Além disso, a construção de novos parques alagáveis já está em desenvolvimento pela prefeitura por meio do Programa de Requalificação e Resiliência Urbana em Áreas de Vulnerabilidade Socioambiental (ProMorar),
"A gente fez uma análise macro, e precisamos de alguns parque alagáveis. Nosso desafio é reter água. Onde conseguirmos espaço, vamos fazer. Então não só parques alagáveis, como também novos sistemas de escoamento e diques que estão sendo estudados para desenvolvimento", explicou a secretária de Infraestrutura do Recife, Marília Dantas.
Atualmente, também estão em andamento obras de alargamento de 850 metros do Rio Tejipió, com perfilamento e desassoreamento. Essas intervenções chegam para ampliar a capacidade de drenagem e reduzir os riscos de enchentes.