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Forças jihadistas entram na segunda maior cidade da Síria após ofensiva relâmpago

A ofensiva começou na quarta-feira, no mesmo dia em que entrou em vigor um frágil cessar-fogo no Líbano

Combatentes anti-regime mantêm uma posição em Nova Aleppo, nos arredores da cidade de Aleppo, no norte da Síria, em 29 de novembro de 2024. - Bakr Alkasem / AFP

Forças jihadistas e milícias aliadas entraram, nesta sexta-feira (29), em Alepo, a segunda maior cidade da Síria, após uma ofensiva relâmpago contra as forças do regime de Bashar Al Assad, apoiado pelo Irã e pela Rússia.

A ofensiva provocou os combates mais violentos desde 2020 no noroeste do país, com um balanço provisório de 277 mortos, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma ONG baseada no Reino Unido, mas com uma ampla rede de contatos locais.

Duas testemunhas confirmaram à AFP que viram homens armados e cenas de pânico na cidade.

O diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, afirmou que os milicianos "tomaram o controle de cinco bairros" em Alepo e que as forças do regime "não ofereceram grande resistência".

Um repórter da AFP, que cobriu a entrada dos rebeldes no distrito de Nova Alepo, relatou confrontos entre as forças participantes da ofensiva e as forças sírias e seus aliados.

Segundo o OSDH e diversos testemunhos, milicianos da organização jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS) e grupos aliados, alguns próximos à Turquia, conseguiram chegar à entrada da cidade depois de "dois atentados suicidas com carros-bomba".

O exército sírio, que segundo uma alta fonte de segurança enviou reforços a Alepo, garantiu que havia repelido "a grande ofensiva dos grupos terroristas" e recuperado várias posições.

As forças armadas russas confirmaram nesta sexta-feira seu apoio ao regime de Assad.

"A Força Aérea russa está realizando bombardeios (...) contra instalações e efetivos de grupos armados ilegais, contra postos de controle e contra arsenais e posições de artilharia", informou o exército, citado por agências de notícias russas.

Irã, outro apoio militar do regime desde o início da guerra civil, reiterou nesta sexta-feira seu "apoio contínuo" ao governo de Assad.

"Medo" 
As forças do regime, que haviam perdido o controle de grande parte do país após o início da guerra civil em 2011, foram recuperando território com o apoio da aviação russa e, em 2016, reconquistaram a parte leste da região de Alepo.

"É a primeira vez em quase cinco anos que ouvimos foguetes e artilharia o tempo todo e, às vezes, aviões", contou por telefone à AFP um morador da cidade, Sarmad, de 51 anos.

"Temos medo de que o cenário da guerra se repita e que sejamos forçados a fugir", acrescentou.

Segundo um correspondente da AFP do lado rebelde, os combatentes afirmam receber ordens de uma coordenação comum de operações.

Os jihadistas e seus aliados tomaram mais de 50 localidades no norte em apenas dois dias, de acordo com o OSDH.

Segundo agência oficial síria, Sana, os rebeldes bombardearam a cidade universitária de Alepo e mataram quatro civis.

A ofensiva começou na quarta-feira, no mesmo dia em que entrou em vigor um frágil cessar-fogo no Líbano entre Israel e o grupo islamista Hezbollah, após dois meses de guerra aberta.

"É estranho ver as forças do regime sofrerem tais golpes, apesar do apoio aéreo russo... As forças do regime dependiam do Hezbollah, que atualmente está ocupado no Líbano?", questionou Rami Abdel Rahman.

Bombardeios e êxodos 
O grupo HTS, antiga ramificação síria da rede Al-Qaeda, controla o último reduto rebelde do país, no noroeste, incluindo grande parte de Idlib e algumas áreas das províncias vizinhas de Alepo, Hama e Lataquia.

Caças sírios e russos realizaram intensos bombardeios próximos a essa localidade, informou o OSDH.

De acordo com o Observatório, os combates também atingiram nesta sexta-feira a estratégica cidade de Saraqeb, sob controle do regime, situada ao sul de Alepo, no cruzamento de duas rodovias.

O chefe do autoproclamado "governo" de Idlib, Mohamad al Bashir, justificou a ofensiva na quinta-feira afirmando que o regime de Assad "começou a bombardear áreas civis, provocando o êxodo de dezenas de milhares de civis".

De acordo com o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha), os confrontos provocaram o deslocamento "de mais de 14.000 pessoas, quase metade delas crianças".

O norte da Síria se manteve nos últimos anos em uma calma precária, possibilitada por um cessar-fogo estabelecido após uma ofensiva do regime em março de 2020.

A trégua foi respaldada por Rússia e Turquia, que apoia alguns grupos rebeldes sírios em sua fronteira.

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia pediu nesta sexta-feira "o fim" dos "bombardeios" sírios sobre a cidade de Idlib e sua região.

Desde o início da guerra civil, em 2011, mais de meio milhão de pessoas morreram e milhões foram forçados a abandonar suas casas.