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Após indiciamento de Bolsonaro, evangélicos do PT fazem culto para agradecer vida de Lula

Celebração online de Ações de Graças já estava marcada antes dos desdobramentos da investigação da Polícia Federal, mas teve como 'ponto alto' a comemoração do 'fracasso do golpe'

Deputada petista Benedita da Silva - Câmara dos Deputados/reprodução

Exatamente uma semana após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ter sido indiciado pela Polícia Federal, o Núcleo de Evangélicas e Evangélicos do PT (NEPT) promoveu um culto de Ação de Graças para agradecer pelo "fracasso do golpe". A celebração já estava marcada antes dos desdobramentos da investigação da PF, mas teve como "ponto alto" a celebração das vidas do presidente Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Segundo relatório da corporação, havia um plano para matar as três personalidades com veneno, chamado de "Punhal Verde e Amarelo". O culto dos evangélicos petistas teve o intuito de agradecer pela trama não ter se concretizado:

"O ponto alto foi agradecer a Deus pelas vidas de Alexandre de Moraes, Alckmin e Lula. Agradecemos também pelo hacker de Araraquara que permitiu a vaza-jato, que trouxe à tona o conluio do juiz que julgava Lula e foi essencial para sua eleição. O segundo livramento foi este: não perdemos a vida de Lula", disse o coordenador nacional do NEPT, Oliver Costa Goiano, em entrevista ao GLOBO.

O líder dos evangélicos petistas ainda criticou o silêncio de parte dos pastores que deram sustentação ao mandato de Bolsonaro. Em sua avaliação, um repúdio deveria ter sido emitido. "O silêncio é ensurdecedor. Se houvesse golpe, é nítido que parte das igrejas evangélicas aplaudiria".

As celebrações religiosas do NEPT ocorrem com frequência, mas sem uma periodicidade determinada. O culto de ontem contou com a presença de representantes estaduais e da presidente emérita, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), da Assembleia de Deus.

Criado em 2015, o núcleo defende, de forma geral, a despolitização das igrejas e a separação entre estado e religião, além de costumeiramente criticar o uso da fé pela extrema-direita.

Corda bamba com evangélicos
O apoio de pastores tidos como progressistas a Lula é um contraponto à dificuldade que o presidente tem tido com o segmento evangélico. Após um primeiro ano do terceiro mandato presidencial marcado por rusgas com os políticos da base protestante, o petista iniciou uma aproximação.

No mês passado, recebeu lideranças ao sancionar a lei que instituiu o Dia Nacional da Música Gospel no país. Atualmente, com aval do governo, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que expande a imunidade tributária das igrejas, de autoria do deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), tramita na Câmara sob a expectativa de ser aprovada antes do recesso parlamentar.

A desaprovação no setor, contudo, se mantém alta: segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada em julho deste ano, 52% dos evangélicos desaprovam o comando do Palácio do Planalto. Trata-se de um reflexo da aproximação do segmento com Bolsonaro que, ao longo de seu mandato, concedeu benesses.

Sob Bolsonaro, houve perdão de dívidas, flexibilização de prestação de contas para organizações religiosas que arrecadem menos de R$ 4,8 milhões e isenção de ICMS por até 15 anos. Já no governo Lula, no escopo da Reforma Tributária, aprovada pelo Congresso no ano passado, a isenção do pagamento de impostos pelas igrejas foi expandida para as suas associações e entidades filantrópicas.

Investigação da PF
No inquérito da Polícia Federal, Bolsonaro e outras 36 pessoas foram indiciadas. Ao ex-presidente foram atribuídos três crimes: golpe de Estado, abolição do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

Segundo a Corporação, havia o plano Punhal Verde e Amarelo, que envolvia o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes, e seria de conhecimento do ex-mandatário.

O documento com os detalhes de como os homicídios iriam ocorrer teria sido impresso no Palácio do Planalto, pelo general Mário Fernandes, em dezembro de 2023. Ele foi preso na semana passada.