Folha Saúde

Unimed: cuidados paliativos com tratamento digno e humano

Longe de significar desistência, os cuidados paliativos representam um olhar integral e compassivo sobre o paciente

O psicólogo André Daconti e a cardiologista Janny Leonor atuam no Centro de Cuidados Paliativos da Unimed. - Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

No imaginário coletivo, ao se falar em cuidados paliativos são despertados sentimentos como repulsa, tristeza ou resignação, por eles serem comumente associados ao fim da vida. Essa concepção, entretanto,  não contempla o real impacto e significado desses cuidados para os pacientes.

Longe de significar desistência, os cuidados paliativos representam um olhar integral e compassivo sobre o paciente, buscando melhorar sua qualidade de vida e aliviar o sofrimento físico e emocional, em momento de  grande vulnerabilidade.

Os cuidados
Esse suporte é feito por meio da prevenção e alívio do sofrimento e do tratamento de problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais. Envolve uma equipe multidisciplinar – incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais – com o objetivo de proporcionar conforto e dignidade.

A médica cardiologista Janny Leonor, coordenadora da Comissão de Cuidados Paliativos da Unimed, com mais de 15 anos de experiência, reforça que esses cuidados devem ser oferecidos desde o diagnóstico. 

“Os cuidados paliativos deveriam começar assim que o paciente começa a lidar com uma doença que coloca a vida em risco, para aliviar sintomas e trazer conforto. Muitas vezes, isso eleva as chances de melhora e qualidade de vida”, destaca Leonor.

Suporte
O alívio da dor é um dos principais focos dos cuidados paliativos, essencial para pacientes com condições como câncer e doenças neurodegenerativas. 

O psicólogo André Daconti explica: “Um paciente com dor não consegue pensar em nada além disso. Quando tratamos a dor de forma eficaz, ele pode se conectar com seus desejos, necessidades emocionais e com seus entes queridos”.

Outros sintomas, como fadiga e insônia, exigem acompanhamento contínuo. Leonor pontua que, por isso, a individualização do cuidado é fundamental. 

“Cada paciente reage de uma forma. Um plano de cuidado específico, revisado conforme o quadro evolui, é essencial para evitar sofrimentos adicionais”, afirma a médica.

O suporte emocional também é vital, tanto para os pacientes quanto para seus familiares.

O acompanhamento e o apoio dados aos familiares são essenciais e fazem parte do conjunto de ações de acolhimento à família e aos pacientes. Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco.

“O enfrentamento de uma doença grave pode gerar angústia e medo, mas o paciente precisa sentir-se acolhido, não só no alívio do sofrimento físico, mas também para encontrar bem-estar emocional. As famílias, muitas vezes lidando com o luto antecipado, também precisam de apoio emocional para acompanhar o tratamento dos seus entes queridos. 

“O que vemos são famílias que não sabem como se despedir ou lidar com as mudanças. Por isso, precisamos ensinar que estar presente é o maior presente que podem oferecer ao ente querido”, diz o psicólogo.

Atenção
Para a pediatra Diana Albuquerque Sato, os cuidados paliativos foram um alívio durante a recuperação de sua avó Maria José, de 96 anos. 

Após sofrer um AVC e ser internada, a família enfrentou desafios na comunicação com a equipe médica. 

“A neurologista que a acompanhava insistiu no uso de sonda para alimentação, mas sabíamos que isso poderia piorar sua qualidade de vida”, conta Diana.

Diante da divergência de opiniões entre a equipe assistente e a família, a Comissão de Cuidados Paliativos foi chamada, e a médica paliativista Janny Leonor assumiu o caso, procurando saber mais sobre a vida da paciente e os desejos da família.

 “A conversa com ela trouxe calma para a família, e entendemos o que realmente era melhor para minha avó. A dra. Janny mediava os conflitos e ajustava o tratamento de acordo com as reais necessidades dela. Isso aliviou nossa ansiedade e garantiu que cada decisão fosse pautada na qualidade de vida da minha avó”, explica Diana. 

O retorno para casa foi preparado com o acompanhamento de uma equipe de enfermagem 24 horas. Sete dias após o início dos cuidados paliativos, Maria José voltou a andar e falar.

 “Talvez, se ela tivesse permanecido na UTI, sem os cuidados paliativos, essa recuperação não tivesse sido possível”, reflete a pediatra.

A advogada Melissa Alcoforado, neta do engenheiro aposentado de 83 anos, Luiz Nelson de Oliveira, que está em cuidados paliativos no Hospital da Unimed desde o dia 14 de outubro para tratar uma infecção pulmonar, reafirma os impactos desse cuidado.

“Esse acolhimento faz toda a diferença, pois nos sentimos realmente amparados. A equipe olha, antes de tudo, para o paciente enquanto ser humano, detentor de vontades e desejos. Para eles, o paciente não é apenas um número. Ele tem nome, independentemente do estado em que esteja, e é chamado por ele. E a história dele de antes, assim como a de agora, importa e muito”, afirma a advogada.

Espiritualidade
Além dos aspectos físicos e emocionais, os cuidados paliativos consideram as necessidades espirituais do paciente. 

“A espiritualidade não está necessariamente ligada à religião, mas ao sentido de paz interior. Muitos pacientes buscam entender o propósito da vida e encarar a morte com serenidade, seja através da religião, filosofia ou reflexões pessoais”, observa  Janny Leonor. 

Para muitos pacientes, o contato com a natureza ou um simples ritual reconfortante pode oferecer a paz necessária. 

“O importante é que o paciente encontre paz consigo mesmo e com suas escolhas, para que viva seus dias finais de forma plena”, acrescenta.

Desafios
Apesar do avanço no reconhecimento dos cuidados paliativos no Brasil, o país ainda enfrenta desafios.

“Estamos fazendo progressos, mas ainda há uma lacuna significativa, especialmente no SUS”, alerta Leonor.

Para Daconti, é fundamental a formação de mais profissionais. “É essencial que os profissionais compreendam o papel vital da psicologia, da enfermagem e do apoio social para que o atendimento seja completo e humanizado”, completa o psicólogo.

Humanidade
Janny Leonor e André Daconti compartilham a visão de que os cuidados paliativos não se limitam a uma prática médica, mas sim a um cuidado humano. 

“O foco dos cuidados paliativos é proporcionar ao paciente uma vida plena e digna até o fim. Não é apenas tratar uma doença, mas estar presente, oferecendo suporte físico, emocional e espiritual”, afirma Leonor.

André Daconti acrescenta: “Para os cuidados paliativos, sempre há o que fazer. Pode não haver cura, mas há formas de proporcionar conforto, seja através do alívio da dor, da atenção emocional ou do apoio à família. A mensagem central é: sempre há algo a ser feito para cuidar da dignidade do paciente”.