FOLHA SAÚDE

Como combater a ansiedade, no País mais ansioso do mundo?

Para especialistas, respeito aos próprios limites e manejo do estresse podem contribuir no combate aos transtornos relacionados à ansiedade

Filipe Pedro é psicólogo clínico - Divulgação

Uma reação emocional que pode ser importante e até mesmo funcional para o organismo, a ponto de ser responsável pela adaptação em casos desconhecidos, a ansiedade pode ser considerada como “normal” quando se apresenta como um sinal de alarme, ante o perigo ou ameaça real, produzindo um fator evolutivo de proteção ao indivíduo.

Porém, quando essa inquietação se apresenta exacerbadamente, seja por causa de comportamentos ou experiências da vida, constitui-se como patologia e pode trazer os mais diversos tipos de sentimentos como aflição, angústia e perturbação de espírito causada por incertezas ou medo. Dito isto, é importante que o paciente se atente para o tratamento dessa condição que, ao invés de um método de defesa, torna-se um transtorno, que, por mais severo que seja, há opções que podem indicar uma ‘luz no fim do túnel’.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o lugar de “Pais mais ansioso do mundo”, com mais de 18 milhões de pessoas que sofrem com a ansiedade patológica. A quantidade é referente a 9,8% da população nacional. É uma realidade que reforça a importância do aprofundamento no assunto, a fim de reconhecer e detectar os sintomas do mal e procurar ajuda profissional, através de métodos que podem controlar, reduzir ou curar de uma vez por todas o transtorno.

Tipos
Existem várias manifestações de ansiedade, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. No transtorno de ansiedade de separação, o indivíduo é apreensivo ou ansioso quanto à separação de figuras de apego, até um ponto em que se torna impróprio para o nível de desenvolvimento.

Outra forma é o mutismo seletivo, caracterizado por fracasso consistente para se comunicar em situações sociais, nas quais existe expectativa para que se fale, mesmo que o indivíduo se expresse em outras situações.

Já o transtorno de ansiedade social, a  pessoa se torna temerosa, ansiosa ou se exime de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliada.

Outro aspecto, muito comum na atualidade, é o transtorno do pânico. Nele, o paciente experimenta ataques de pânico inesperados recorrentes e está persistentemente com a possibilidade de sofrer novas crises ou alterações desadaptativas ao comportamento,que trazem sensação de falta de ar e taquicardia.

A agorafobia, por sua vez, torna os indivíduos apreensivos e ansiosos acerca de duas ou mais das seguintes situações: usar transporte público; estar em espaços abertos; estar em lugares fechados; ficar em uma fila ou estar no meio de uma multidão. Pode ocorrer  até quando a pessoa, sozinha, está fora de casa.

Alguns dos sintomas desses transtornos são: palpitações; dores no peito e/ou musculares; dores de cabeça; aumento da pressão arterial; sudorese excessiva; tremores; náuseas; taquicardia e falta de ar.

Técnicas de controle
Segundo a doutora em psicologia clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Catarina Dias, a ansiedade pode ser controlada, possibilitando a chance de voltar a ser uma reação normal. Mas, para que isso seja possível, o paciente precisa buscar auxílio em terapias, para aprender sobre técnicas de respiração, relaxamento muscular e identificação de situações de gatilhos.

A especialista também indica uma prática que faz com que a pessoa se concentre única e exclusivamente no tempo presente: a meditação.

De acordo com o Ministério da Saúde, esse método é utilizado como terapia clínica com pessoas que, além da ansiedade, sofrem com depressão, esquizofrenia, compulsão alimentar, dores crônicas e até mesmo com usuários de drogas. Vale ressaltar que não se trata de uma substituição de auxílios convencionais, mas sim do complemento aos demais tipos de tratamentos.

Catarina Dias é doutora em psicologia clínica pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) | Foto: Divulgação

“Essa técnica (meditação) permite que estejamos conectados ao nosso presente, em atenção plena. E, quando necessário, também é importante procurar um psiquiatra que ajude a diagnosticar alguma comorbidade e até mesmo fazer ajustes na disfunção de neurotransmissores”, explica.

Dias também recomenda uma alimentação saudável. Ela defende que a ingestão de comidas balanceadas e ricas em nutrientes faz com que esses alimentos forneçam aos neurônios princípios nutritivos. É quando acontece produção dos neurotransmissores responsáveis pela atividade mental e emocional do paciente, podendo atuar significativamente na melhora do quadro de ansiedade.

“A pessoa precisa se alimentar bem para que esses nutrientes ajudem a regular o sono, a disposição e a digestão. Quando não nos alimentamos bem, os sintomas de ‘fome’ ou de mal alimentação podem ser confundidos com os da ansiedade desagradável”, complementa Catarina Dias.

Cultura errada
O psicólogo clínico Filipe Pedro acredita que a cultura de resistir a uma ajuda profissional ainda é muito fomentada no Brasil. Ele aborda que a população tem preconceito com tudo que é relacionado à saúde mental, o que impulsiona as pessoas a dizerem que não têm a “mente fraca”, o que só gera ainda mais casos de pacientes que precisam de ajuda, mas sem buscar a resolução concreta.

“Muitos casos precisam de remédios, mas nem todos. E nesse caso [das crises de ansiedade], não geram a cura. Eles têm função de reduzir os sintomas e proporcionar mais qualidade de vida. Porém, é preciso ir além e buscar a cura. Uma alimentação saudável, sono de qualidade e atividade física são, com certeza, ferramentas fundamentais no combate. Além disso, a busca de ajuda profissional pode ser um divisor de águas. Nem todo mundo precisa de terapia, mas terapia é capaz de ajudar todo mundo”, defende.

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