Música

"'Y.M.C.A.' não é um hino gay", diz cantor do Village People, ao agradecer Trump pelo uso da música

Integrante de banda que fez sucesso na década de 1970 explica que canção não aborda universo homossexual e comemora "benefícios financeiros" gerados por campanha de presidente dos EUA

A banda Village People - Redes Sociais/Reprodução

Em 2020, o grupo Village People aprovou o uso de suas músicas nos comícios de Donald Trump, depois mudou de ideia e, então, voltou atrás novamente.

Na última segunda-feira (2), Victor Willis, integrante do grupo que estourou nas rádios americanas na década de 1970, agradeceu ao recém-eleito presidente dos Estados Unidos pelo uso da música "Y.M.C.A." em sua campanha.

E voltou a causar polêmica e discórdia entre fãs.

Em outubro deste ano, Willis afirmou em entrevista à edição americana da revista "Billboard" que Trump tinha o "direito legal" de usar a música "porque ele se deu ao trabalho de solicitar uma licença de uso político, que foi concedida pela minha organização de direitos autorais, a BMI".

O cantor e compositor esclareceu que apoiava Kamala Harris, mas que "[não] tem antipatia por Trump".

Na postagem mais recente — realizada no Facebook —, o cantor explicou por que permitiu que Trump usasse "Y.M.C.A." e afirmou que a música “não é um hino gay", ao contrário do que a maior parte do público imagina.

Segundo o vocalista da banda, essa associação é equivocada e baseada em estereótipos envolvendo a orientação sexual de alguns integrantes do grupo e a reputação histórica de algumas unidades da YMCA (Associação Cristã de Moços, no Brasil) como pontos de encontro para homens gays.

Willis afirma que escreveu a música pensando em atividades como natação e basquete, além de hospedagem barata, oferecidas por unidades da YMCA (Associação Cristã de Moços) nas áreas urbanas dos EUA, sem qualquer conotação sexual.

Ele enfatizou que o refrão, que fala em “sair com os rapazes”, é apenas uma expressão comum da cultura negra nos anos 1970 e não tem ligação com a temática LGBTQIAP+.

Willis também declarou que, a partir de 2025, pretende processar organizações e veículos de comunicação que continuem a insinuar que a letra de "Y.M.C.A." tem caráter sexual ou que promovam a ideia de que a música é um "hino gay".

Segundo ele, tais insinuações são prejudiciais à reputação da música, que ele considera uma celebração universal e inclusiva.

A seguir, veja o que diz o vocalista do grupo Village Peolpe sobre a música "Y.M.C.A.":

"Para os fãs do Village People e a mídia:

Sou o cantor e escritor da letra do hit 'Y.M.C.A.'. Na verdade, conforme decidido e registrado num Tribunal Distrital dos EUA, escrevi 100% da letra, e meu parceiro de composição, Jacques Morali, compôs a música.

Desde 2020, recebi mais de mil reclamações sobre o uso de Y.M.C.A. pelo presidente eleito Donald Trump.

Com tantas reclamações, decidi pedir ao presidente eleito que parasse de usar a música, pois isso estava se tornando um incômodo para mim.

No entanto, o uso continuou porque a campanha de Trump sabia que havia obtido uma licença política da BMI e, sem essa licença ser encerrada, eles tinham todo o direito de continuar usando Y.M.C.A. E assim o fizeram.

De fato, comecei a notar vários artistas retirando o uso de suas músicas pela campanha. Mas, em determinado momento, disse à minha esposa:

'Ei, parece que Trump realmente gosta de 'Y.M.C.A.' e está se divertindo muito com isso'.

Por isso, simplesmente não tive coragem de impedir o uso contínuo da minha música, especialmente considerando que tantos artistas estavam retirando suas autorizações.

Então pedi à minha esposa para informar à BMI que não retirassem a licença política da campanha de Trump.

Meus parceiros franceses estavam cogitando uma ação legal na França, mas pedi a eles que deixassem a questão de lado, já que isso era um assunto dos EUA — e eu tomaria a decisão sobre o uso da música. Eles recuaram rapidamente.

'Y.M.C.A.' se beneficiou enormemente do uso pelo presidente eleito.

Por exemplo, a música estava estagnada na segunda posição nas paradas da 'Billboard' antes disso, mas finalmente chegou ao topo, 45 anos depois, graças ao uso pela campanha de Trump.

Os benefícios financeiros também foram significativos, com Y.M.C.A. estimando lucros de milhões de dólares devido ao uso contínuo da música.

Por isso, fico feliz por ter permitido o uso contínuo e agradeço a Trump por escolher minha música.

Há muita discussão, especialmente nos últimos tempos, de que 'Y.M.C.A.' é de alguma forma um hino gay.

Como já disse várias vezes, essa é uma suposição falsa baseada no fato de que meu parceiro de composição era gay.

Alguns (não todos) dos integrantes do Village People eram gays, e o primeiro álbum do grupo falava totalmente sobre a vida gay.

Essa suposição também se baseia no fato de que o YMCA [Young Men's Christian Association, que em português significa Associação Cristã de Moços] aparentemente era usado como um ponto de encontro gay.

Mas, como já disse inúmeras vezes, quando escrevi a letra de 'Y.M.C.A.', não sabia nada sobre isso. Jacques Morali, que era gay, nunca mencionou isso para mim.

Eu escrevi 'Y.M.C.A.' sobre o que conhecia: natação, basquete, atletismo, comida barata e quartos baratos no YMCA de áreas urbanas como São Francisco.

Quando digo 'hang out with all the boys' ['sair com os caras', em tradução livre], isso era apenas uma gíria comum entre os negros nos anos 1970.

Assim, a ideia de que 'Y.M.C.A.' é um hino gay é completamente equivocada.

Por isso, como fui eu quem escreveu a letra, e sei do que se trata, a partir de janeiro de 2025, minha esposa começará a processar qualquer organização que insinue que a música é um hino gay.

Contudo, não me importo que os gays vejam a música como um hino.

Mas é importante reconhecer que 'Y.M.C.A.' é, na verdade, uma música universal, presente em casamentos, bar mitzvahs e eventos esportivos. Não é, e nunca foi, apenas um hino gay.