Venezuela

Venezuela aumenta pressão sobre mãe de opositora María Corina e de embaixada sob custódia do Brasil

Endurecimento do governo de Maduro tem sido registrado enquanto novas sanções internacionais contra a liderança venezuelana são aprovadas

Líder da oposição venezuelana, María Corina Machado. - Gabriela Oraa / AFP

Há pouco mais de uma semana, as forças de segurança da Venezuela voltaram a cercar a Embaixada da Argentina em Caracas, atualmente sob tutela do Brasil, onde seis importantes dirigentes da oposição venezuelana estão asilados há meses. Agora, à medida que o cenário político do país volta a se acirrar, com a aproximação do dia da posse presidencial, previsto para 10 de janeiro, a polícia chavista realizou mais um cerco — dessa vez, na residência de Corina Parisca, mãe de María Corina Machado, líder da oposição no país.

“Pela terceira vez hoje [domingo], agentes do regime de Maduro estão assediando a casa da minha mãe. Armados, encapuzados e com sirenes tocando”, escreveu María Corina no X. “Minha mãe é uma mulher corajosa, de 84 anos, que ama a Venezuela. Aqueles que ordenam e executam isso são covardes que odeiam nosso país”, acrescentou.

O endurecimento do governo de Maduro, tanto no discurso quanto nas ações, tem sido registrado enquanto novas sanções internacionais contra a liderança chavista são aprovadas. Em novembro, por exemplo, a Câmara dos Estados Unidos aprovou o projeto de lei bipartidário Bolívar, que proíbe a assinatura de contratos com indivíduos ou empresas que façam negócios com qualquer governo venezuelano não reconhecido por Washington — caso do regime de Nicolás Maduro, que reivindica a reeleição no pleito deste ano, amplamente questionado pela oposição e pela comunidade internacional.

Em resposta, o Parlamento venezuelano aprovou, também em novembro, a Lei Libertador Simón Bolívar, que prevê penas de até 30 anos de prisão para aqueles que tenham proposto ou promovido sanções internacionais contra a Venezuela, além da inabilitação de venezuelanos que apoiem as sanções americanas para ocupar cargos públicos.

Na embaixada argentina em Caracas, encontram-se asilados desde março passado: Magalli Meda, chefe de campanha e coordenadora do partido Vem Venezuela; Claudia Macero, responsável nacional de comunicações da campanha de Edmundo González e do Vem Venezuela; Pedro Urruchurtu Noselli, responsável pelas relações internacionais; Humberto Villalobos, coordenador eleitoral da organização e especialista; Omar González, responsável pelo partido no estado de Anzoátegui; e Fernando Martínez Móttola, o único não vinculado ao partido, membro independente da Plataforma Unitária.

Quase todos eles são acusados de traição à pátria, conspiração e associação criminosa por autoridades do regime venezuelano. Esses dirigentes estão entre as dezenas de ativistas da oposição que foram processados muito antes das eleições de 28 de julho.

Assédio recorrente
O assédio relatado nos arredores da embaixada inclui cortes de energia por vários dias e racionamento severo de água. Os afetados relatam que empresas que prestavam serviços de alimentação foram ameaçadas, e que muitas já não se aproximam da embaixada. Parte do pessoal deixou de trabalhar por medo de represálias. Esses líderes políticos estão há três meses sem receber visitas. Rondas de funcionários encapuzados e o fechamento de ruas são frequentes, e voos de drones foram relatados.

O contato com membros do corpo diplomático do Brasil e da Argentina tem sido escasso. Diplomatas em Caracas, incluindo Núncio Apostólico, mantiveram silêncio diante dessa situação. O governo de Javier Milei, presidente argentino declarado inimigo do chavismo, emitiu outro comunicado denunciando “atos de intimidação contra as pessoas asiladas na embaixada argentina, atualmente sob proteção diplomática do governo do Brasil”. O governo brasileiro, cujas relações com Maduro também estão deterioradas, tem sido mais discreto.

A Argentina pediu à comunidade internacional que “condene essas práticas e exija os salvo-condutos necessários para permitir que os seis refugiados da oposição deixem a Venezuela”, agradecendo ao Brasil por “representar os interesses argentinos na Venezuela, assumir a proteção das instalações diplomáticas e pelos esforços para garantir a segurança dos asilados diante do assédio do regime venezuelano”.

As investidas contra a embaixada da Argentina registraram ao menos três momentos de maior intensidade. Embora em alguns momentos a pressão seja máxima, em outros há recuos. Recentemente, em uma entrevista coletiva, Diosdado Cabello, primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela e ministro do Interior e Justiça, afirmou não ter conhecimento sobre os ocorridos na sede diplomática.

— Não sei do que o governo do fascista Javier Milei está nos acusando. Se eles não têm luz na embaixada, então que paguem pela eletricidade, que paguem pelos serviços. Não vamos lhes dar nada de graça.