Imerso no próprio sonho, Lula Queiroga lança primeiro single de seu quinto disco solo
Observador atento da realidade e dos sentimentos, cantor e compositor finaliza "Aumenta o Sonho" no mês que vem, álbum que traz o artista em fase um pouco mais contida
Antigamente se dizia que, no futuro, se alguém quisesse informações a respeito de um povo, era só consultar os jornais antigos. Guardadas as devidas proporções, nestas primeiras décadas do século 20, quem quiser conhecer como viveram e vivem os pernambucanos, um bom parâmetro é a discografia de Lula Queiroga.
Uma história, aliás, que está prestes a ganhar um novo capítulo. Na próxima terça-feira, o compositor, cantor e produtor lança o single de seu quinto álbum solo independente, "Aumenta o Sonho", que fica pronto no mês que vem, após passar pelo processo final de masterização nos míticos Abbey Road Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção é assinada pelo próprio Lula, com o irmão e baterista Tostão Queiroga e o engenheiro de som Paulo Germano.
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Observador atento da realidade e dos sentimentos que o cercam. Compositor que reúne qualidades de cronista, cineasta, escritor de contos e fábulas, poeta. Todas essas habilidades permeiam o trabalho de Lula Queiroga, criador inquieto full time, perspicaz e de uma criativade bem acima da média. Características que marcaram seus quatro discos anteriores e que chegam ao quinto rebento na mesma pegada.
Com uma diferença: um pouco mais conciso, com menos faixas, menos participações, "Aumenta o Sonho" parece trazer um autor fazendo uma imersão em si próprio.
Primeiramente, antes de ouvir o álbum, é preciso saber de uma informação valiosíssima. Lula conta que a gênese de tudo, antes mesmo das canções, foi o título. O conceito surgiu ainda numa época do mais recente milagre brasileiro, quando se bradava aos quatro cantos do mundo o crescimento do Brasil e ainda se sonhava com Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
De lá para cá - é bom lembrar também que este é o maior intevalo entre um disco e outro do compositor, seis anos - houve a grande virada, para baixo, com o País mergulhado em uma crise generalizada. O título permaneceu, mas ganhou uma nova acepção. O tom de "dobrar a aposta" se transformou em "me dá a mão, me ajuda aí".
O resultado é um álbum com 12 ou 13 faixas - durante a audição e entrevista para esta matéria, há três dias, Lula fechava mais um tema com o também compositor paulistano Marcelo Jeneci -, a mesma configuração dos antigos LPs.
Nele, há basicamente dois tipos de canções: as mais calmas, que lidam de forma visceral com os sentimentos mais inquietantes e aflitos, como se buscassem respostas para um mundo aprisionador; e outras mais para cima, desencanadas, como evocadas por alguém que não está nem aí, a fim de chutar o balde ou o pau da barraca. Um repertório novíssimo, curtido ao longo dos dois últimos anos, à exceção da releitura de "A Balada do Cachorro Louco (Fere Rente)", já gravada por seu parceiro-irmão Lenine.
Em todas sobressai o poder criativo latente do autor, que joga bem como nunca com as palavras e experimenta uma gama de sonoridades, que viaja pelos mais variados ritmos, do baião à valsa passando batidas de terreiro ou um free jazz oitentista, tudo com um invólucro pop mais atual do nunca. Não é difícil arriscar que "Aumenta o Sonho" pode vir a ser seu melhor trabalho.
A princípio, "Tardinha" (parceria com Manuca Bandini), canção que se encaixa entre aquelas calmas e dilacerantes, é o tema escolhido como primeira música de trabalho, e disponível em todas as plataformas digitais a partir desta terça-feira:
"Em que engarrafamento andarás/ Nesse horário de pico?/ Em que coletivo lotado/ Carro de vidro fechado/ Moto, táxi/ Parada de ônibus/ Esqueces de mim?/ Entre sirenes, semáforos, barricadas/ Imersa em fumaça de escapes/ Em que estação de metrô/ De pé ou quem sabe sentada/ Em que parte da estrada/ Distante, calada/ Esquecida de si?/ Hey, que solidão/ Ó meu amor/ No meio do tumulto quente/ Nesta hora estridente/ Cheirando a fritura e dissabor (...)."
Quem nunca sonhou essa vida, ou viveu esse sonho?
DISCOGRAFIA
"Baque Solto" – com Lenine
LP e CD
Philips/MPB
1983/1998
"Presença"
Compacto
Polygram
1984
"Aboiando a Vaca Mecânica"
CD
Luni/Trama
2001
"Azul Invisível, Vermelho Cruel"
CD
Luni
2003
"Tem Juízo Mas Não Usa"
CD
Luni
2009
"Todo Dia É o Fim do Mundo"
CD
MPB
2011