Ferraris, Lamborghinis e Rolls Royces: a garagem de luxo de Bashar al-Assad
Imagens mostram mais de 40 veículos de luxo em um grande armazém em Damasco
Rebeldes e civis saquearam, neste domingo, residências oficiais do ditador sírio Bashar al-Assad, que deixou Damasco após 24 anos no poder. Imagens publicadas nas redes sociais revelam uma extensa coleção de carros luxuosos usados por Assad enquanto esteve no poder.
No vídeo é possível identificar modelos da Ferrari, Lamborghini, Mercedes-Benz, Toyota, Aston Martin, Audi, BMW, Rolls Royce e Lexus. Entre os mais de 40 modelos guardados em um armazém em Damasco, está uma Ferrari F50 vermelha, vendida no mercado por mais de R$ 18 milhões.
Na garagem encontrada no palácio presidencial estavam também um Lamborghini LM002 SUV, uma limousine Mercedes 600 Grosser. Havia também uma Revcon Trailblazer, um carro especial construído em cima de uma pickup Ford.
Assad foge para Rússia?
O ditador Bashar al-Assad chegou à Rússia neste domingo após ser deposto em uma ofensiva relâmpago liderada por uma coalizão rebelde na Síria, dando um fim histórico para o regime repressivo liderado por sua família durante mais de 50 anos.
A deposição representou uma queda impressionante para um líder que conseguiu controlar forças rebeldes com a ajuda de seus aliados Moscou e Teerã durante mais de uma década, período em grande parte marcado por uma devastadora guerra civil, que deixou estimados 500 mil mortos e milhões de refugiados. Segundo a mídia estatal russa, Assad e família receberão asilo da Rússia.
Sírios dentro e fora do país celebraram a deposição, com a queda de Assad correspondendo a um momento cheio de esperança pela perspectiva de não ser necessário mais temer um regime que recorreu a táticas opressivas para reprimir suas liberdades.
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Ao mesmo tempo, porém, há muita incerteza em relação a quem vai assumir o governo, com o receio de um vácuo de poder em um país onde facções rivais disputam o controle de diferentes partes do território.
Deposição anunciada na TV
Mais cedo, a principal coalizão rebelde, o jihadista Hayet Tahrir al-Sham (HTS), anunciou no Telegram que havia assumido o controle da capital e que as forças sírias se retiraram da cidade. Logo depois, nove rebeldes fizeram um pronunciamento na TV estatal, no qual afirmaram que a população do país estava "cheia de 50 anos do regime de Assad".
“A cidade de Damasco foi libertada, o tirado Bashar al-Assad, deposto. Depois de 50 anos de opressão sob o partido governista Baath, e 13 anos de crimes, tirania e deslocamento [desde o início de um levante popular em 2011, que foi seguido por uma guerra civil], anunciamos hoje o fim dessa era obscura e o começo de uma nova era para Síria", um dos homens leu em voz alta, acrescentando: “Vida longa a uma Síria independente e livre para todas as suas seitas."
A queda de Damasco foi o desfecho impressionante da ofensiva iniciada em 27 de novembro pelo líder do HTS, Abu Mohammed al-Jawlani, a partir da província de Idlib, na fronteira com a Turquia.
Primeiro, os rebeldes tomaram o controle da maior cidade Síria, Aleppo, inspirando outras facções rebeldes a se mobilizarem contra o Exército sírio. Subsequentemente, também capturararam Hama, a quarta maior cidade do país, e a estratégia cidade de Homs — que conecta Damasco à costa mediterrânea, onde estão localizadas duas bases militares da Rússia —, em rota para a capital.
Nos últimos quatro anos, parecia que a guerra tinha acabado. O regime de Assad havia retomado o controle da maioria das cidades sírias com a ajuda da Rússia, Irã e milíciais apoiadas por Teerã, como o movimento xiita libanês Hezbollah, com as frentes de batalha amplamente estagnadas.
Entretanto, muitas outras áreas do país estavam fora do controle do governo, com os rebeldes aproveitando o desgaste do Exército sírio em um momento em que os aliados do regime não poderiam vir em seu socorro — o Hezbollah pelas fortes perdas no Líbano, o Irã pela morte de comandantes militares em território sírio e a Rússia por causa da guerra na Ucrânia. Sem eles, as forças de Assad ficaram expostas.
Neste domingo, al-Jawlani visitou de surpresa a Mesquita de Omíadas, a maior da capital, onde foi recebido por uma multidão. Agora usando seu nome verdadeiro, Ahmed al-Sharaa, Jawlani dirigiu-se à multidão, que gritava "Allahu akbar (Deus é grande)", de acordo com um vídeo compartilhado pelos rebeldes em seu canal do Telegram.
Previamente, Jawlani tinha visitado áreas-chave da cidade, incluindo a icônica Praça Umayyad, que é rodeada pelas instituições governamentais mais importantes da Síria, como o quartel-general do Estado-Maior e a televisão estatal. Lá, ele orou antes de continuar seu trajeto pela cidade.
Antes de visitar a mesquita e os outros pontos da cidade, Jawlani pediu às forças militares sírias que não se aproximassem das instituições públicas, assegurando que permaneceriam sob a autoridade de Mohammed Ghazi al-Jalali, primeiro-ministro deposto do regime, até a "transferência oficial" de poder. Jalali, por sua vez, disse que ficaria na Síria e que estava pronto para cooperar com os rebeldes.
As forças opositoras anunciaram ter entrado na cidade sem encontrar resistência militar, e dezenas de pessoas saíram às ruas de Damasco, segundo imagens da AFPTV, para celebrar a queda do regime, aos gritos de "Liberdade".
Em uma praça, o barulho dos disparos em sinal de comemoração se misturava com os gritos de "Allahu Akbar". Também circularam imagens de pessoas pisoteando uma estátua de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que governou a Síria por 30 anos.
— Esperávamos por esse dia há muito tempo — disse Amer Batha por telefone à AFP. —Não posso acreditar que estou vivendo este momento.
Após a queda, saqueadores atacaram o palácio presidencial de Assad em Damasco, também tendo sido registradas ações contra a embaixada do Irã e contra a residência do embaixador da Itália na capital.
Muitas pessoas, vindas de áreas rurais, invadiram o palácio, deixando-o quase vazio, com exceção de alguns móveis, afirmam repórteres da BBC que se dirigiram ao local. Membros do HTS chegaram ao local para controlar a situação, classificando o saque como inaceitável. Também estabeceram um toque de recolher entre as 16h locais (10h em Brasília) e 5h locais.
À medida que avançavam, os rebeldes assumiram o controle de muitas das notórias prisões onde o regime de Assad prendeu, torturou e executou prisioneiros políticos durante décadas. Vídeos vindos do norte de Damasco mostram grupos de homens caminhando pelas ruas da cidade à noite, supostamente depois de terem sido libertados da prisão de Sednaya, que os rebeldes tomaram, segundo monitores de guerra e combatentes.