Governo

Após crítica de Lula, Pimenta diz seguir despachando com presidente

Em evento do PT na sexta-feira, Lula afirmou que era "obrigado a fazer correções necessárias" em área comandada pelo ministro

O ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta - Joédson Alves/Agência Brasil

Após duras críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à comunicação do governo na sexta-feira passada, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, disse que o presidente não sinalizou a ele alterações "no ritmo de trabalho" da pasta. Os dois se reuniram nesta segunda-feira no Palácio do Planalto. Entre aliados petistas, a saída de Pimenta é dada como certa.

— Sou uma pessoa da relação pessoal, de confiança do presidente Lula. Ele sabe que pode contar, tenho uma relação de lealdade do nosso projeto com ele e não há da parte dele nenhuma sinalização para que haja algum tipo de alteração no ritmo do trabalho que está sendo feito na Secom, inclusive despachamos hoje e vamos despachar amanhã. Tem assuntos do dia a dia do governo que estamos tratando, planejando as campanhas de final de ano e assim por diante — afirmou o ministro ao Globo.

A saída de Pimenta do comando da Secom, o entanto, não é descartada pelo entorno de Lula. Auxiliares afirmam que o próprio presidente ainda tem dúvidas de como executar as mudanças e quais espaços acomodar cada aliado— Eventuais ajustes, sempre que o presidente achar necessário, ele vai fazer. O grau desses ajustes e dessas correções, e necessidade de alteração de pessoas ou não, isso é uma questão muito dele. Importante é que temos liberdade e confiança para poder conversar, fazer as cobranças, exigir mais resultado e mais entregas —disse o ministro.

A comunicação do governo, área sob responsabilidade de Pimenta, foi duramente criticada por Lula durante seminário do PT na última sexta-feira. Embora não tenha citado Pimenta diretamente, o presidente afirmou que era "obrigado a fazer correções necessárias" e reclamou da falta de licitação para estruturar a comunicação digital do governo:

— Há um erro no governo na questão da comunicação, e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que a gente não está se comunicando bem — afirmou Lula.

Antes dessa declaração pública, Lula já havia afirmado a aliados a intenção de trocar o comando da Secom e que o publicitário Sindônio Palmeira, marqueteiro da campanha em 2022, é a primeira opção do presidente para a substituição do cargo. No Planalto, no entanto, a aposta é de que não haja mudanças em dezembro.

Durante seminário do PT, Lula ainda criticou as dificuldades do governo e do PT em criarem uma narrativa hegemônica nas redes sociais:

— O PT tem culpa, o meu governo tem culpa, a gente não pode permitir em nenhum momento que alguém que pensa como pensa a extrema-direita no nosso país, tenha mais espaço nas redes sociais do que nós. Tenha mais informação na internet do que nós. E consiga projetar suas maldades menos do que a gente consegue projetar as bondades que nós fazemos — afirmou Lula na sexta.

Pimenta admitiu que o presidente tem razão e disse que o governo não consegue construir uma narrativa e nem mesmo dar visibilidade suficiente às entregas de cada ministério.

— Tenho concordância com a fala do presidente Lula e as preocupações da esquerda e do PT e do próprio governo em construir uma narrativa que consiga fazer frente à escalada das fake news da extrema-direita. Isso é um fato real. É um desafio para esquerda no Brasil e no mundo. Hoje há uma disputa feroz de utilização das plataformas e redes para construção de narrativa, entendo preocupação do presidente e é adequada para quem está na posição que ele está. A crítica que ele faz, vai além, e aponta insuficiência na capacidade do governo de poder transmitir para população conhecer melhor nossas iniciativas positivas.

O ministro ponderou, no entanto, que tem uma relação aberta com Lula para cobrança de melhores resultados:

— O presidente tem uma relação comigo muito transparente, ele sabe que sou uma pessoa que pode confiar, contar e não tem melindres de falar o que pensa.