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Saiba quem é Gabrelú, rapper não binário que brilhou em reality de hip hop

Os participantes são avaliados por um time de jurados renomados, composto por Djonga, Filipe Ret e a dupla Tasha & Tracie

Saiba quem é Gabrelú, rapper não binário que brilhou em reality de hip hop - Instagram/reprodução

Quando Gabrelú estreou no palco do "Nova Cena", o primeiro reality musical de rap da Netflix Brasil, chegou com a confiança de quem sabia exatamente onde estava pisando. Ao afirmar: “Ser uma pessoa não binária no rap é como ser uma pessoa não binária em qualquer lugar: você simplesmente não existe”, o rapper paulista traduziu uma vivência cheia de desafios, mostrando que sua trajetória seria marcada por autenticidade e coragem. Com um estilo único, o artista trouxe surpresas para o time de Tasha & Tracie, onde foi escalado.

Inspirado no formato norte-americano "Rhythm & Flow", o "Nova Cena" é uma competição que reúne 18 artistas em busca do próximo grande nome do rap brasileiro. O reality, que estreou recentemente na Netflix, oferece ao vencedor um prêmio de R$ 500 mil e uma participação especial na quinta e última temporada de "Sintonia", série de sucesso do streaming.

Os participantes são avaliados por um time de jurados renomados, composto por Djonga, Filipe Ret e a dupla Tasha & Tracie. Além disso, grandes nomes da cena musical, como Negra Li, KL Jay, Karol Conká, Dexter e MC Luanna, também participam como mentores e convidados especiais, oferecendo orientação e inspiração aos competidores.

Representatividade em cena
Gabrelú, têm 29 anos e nasceu em Votorantim, interior de São Paulo, onde teve os primeiros contatos com a arte em oficinas culturais. No teatro, descobriu o prazer da performance; no audiovisual, aprendeu a documentar a cena do hip-hop local. Essas experiências formaram a base para um artista multifacetado, que transita entre linguagens e carrega no rap sua maior forma de expressão.

— O rap me emocionou antes mesmo de eu entender o que era luta social. Quando ouvia Sabotage ou Racionais, eu sentia um mix de amor, ódio, medo e esperança. Isso moldou quem eu sou e como vejo o mundo — diz.

O artista é consciente da importância de sua presença no reality.

— O "Nova Cena" me colocou na vitrine. Recebi muitos seguidores que se identificam com a mesma cultura de hip-hop dos anos 90 e 2000. Ver as pessoas dizendo ‘o underground vive’ me dá força para continuar fazendo música crítica e autêntica — relata.

Apesar de perceber avanços, o rapper ressalta que a presença LGBTQIA+ no rap ainda enfrenta barreiras.

— A cena entende que queremos qualidade de vida e fazer rap conforme nos identificamos. Mas isso não significa que a comunidade LGBTQIA+ tenha portas abertas. A linha de grandes eventos ainda exclui muitas de nossas realidades — pontua.

O que é ser não binário?
Gabrelú se autodefine como uma pessoa trans não binária, ou seja, alguém que não se identifica completamente com os padrões tradicionais de gênero masculino ou feminino. Essa identidade não aceita as normas impostas e se abre para a liberdade de existir além dessas categorias.

— Eu sempre me senti como me sinto, aberto às transformações e livre de definições — explica o rapper. — Minha identidade expressa toda a minha história, até antes de eu nascer. São mulheres, homens e pessoas que existiram antes desses termos. Minha música fala sobre liberdade, natureza, e a importância de lutar pelo que acreditamos — completa.

O termo “não binário” refere-se a uma identidade de gênero que foge das categorias tradicionais de homem e mulher. Para Gabrelú, essa experiência é intrinsecamente política.

— Eu vejo minha vivência como uma possibilidade do que podemos ser. O rap é o grito de quem é oprimido, então é impossível que ele não inclua questões de gênero e identidade — declara.

Ao entrar no reality, Gabrelú sabia que enfrentaria preconceitos, mas decidiu usar a plataforma como uma vitrine para discutir esses temas e desafiar o status quo.

—No rap, somos ensinados sobre união e revolução, então precisamos nos unir pelo que há em comum entre nós. Coloco minha liberdade de ser no que faço e em como me apresento — fala.

O Futuro de Gabrelú

A trajetória de Gabrelú é marcada pela transformação e pela resiliência. Começou no teatro, passou pelo audiovisual e, finalmente, encontrou no rap sua casa artística.

— Minha história no rap começou quando uma amiga me disse: ‘Essa música é sua, só você pode cantar.’ Foi aí que parei de ver a música como um hobby e a abracei como profissão — conta.

Com um álbum lançado em 2023 e um repertório que mistura batidas pesadas com letras profundas, Gabrelú é um exemplo de como a arte pode ser uma ferramenta de ressignificação.

— Quando eu canto, sinto que estou comunicando os valores que acredito: liberdade, amor, e a importância de lutar por um mundo melhor — enfatiza.

Se o programa trouxe desafios, também abriu portas para um futuro promissor. Gabrelú está determinado a continuar explorando a riqueza de sua identidade através da música e da arte.

— O rap é minha escola, e o hip-hop é meu professor. Espero novas formas de exercitar tudo que aprendi e de amplificar vozes como a minha — conclui.