Conflitos conectados: o efeito dominó da guerra da Ucrânia
Desde a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022, as relações internacionais têm sido profundamente transformadas, gerando o que podemos chamar de um verdadeiro efeito dominó. A decisão de Vladimir Putin, que parecia apostar em uma operação rápida como a anexação da Crimeia em 2014, revelou-se um erro estratégico.
Desta vez, os países da OTAN, a União Europeia e, principalmente, os Estados Unidos, liderados por Joe Biden, reagiram com força, dando sustentação ao governo de Volodymyr Zelensky e tornando a vitória russa praticamente impossível.
O que era para ser uma operação especial de curta duração tornou-se um desastre estratégico para a Rússia, resultando em desgaste militar, econômico e diplomático. A entrada da Finlândia e da Suécia na OTAN foi um dos principais desdobramentos, mostrando que a ameaça russa, em vez de conter a aliança, acabou fortalecendo-a.
Além disso, o conflito expôs a fragilidade do poder militar russo, com perdas significativas no campo de batalha e a desmoralização de sua tecnologia bélica.
Paralelamente, o Oriente Médio viu uma nova onda de tensões com os ataques terroristas do Hamas a Israel, em outubro de 2023, seguidos por ofensivas do Hezbollah e do Irã contra Israel. É difícil ignorar uma possível conexão entre esses ataques e o apoio do Irã, aliado da Rússia, sugerindo que Moscou buscava retaliar o Ocidente indiretamente.
No entanto, o contra-ataque israelense foi devastador, enfraquecendo drasticamente o Hamas, o Hezbollah e até mesmo o Irã, que sofreu retaliações dentro de seu próprio território.
Um dos episódios mais marcantes foi o das explosões de pagers, que atingiram centenas de militantes do Hezbollah, no Líbano, enfraquecendo ainda mais a organização. Nesse contexto, a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria marca mais um capítulo desse efeito dominó. Sem o apoio efetivo da Rússia e do Irã, Assad perdeu a sustentação necessária para se manter no poder.
Com a queda de Assad, o Oriente Médio enfrenta novas incertezas. Israel já tomou medidas para impedir que armamentos sírios caiam nas mãos de rebeldes, enquanto a Turquia pressiona para o retorno dos refugiados sírios ao país. Por outro lado, o encontro recente entre Macron, Donald Trump e Zelensky, durante a reabertura da Catedral de Notre-Dame, sinaliza um esforço conjunto para fortalecer a Ucrânia e buscar um desfecho para o conflito com a Rússia.
Como afirmou Henry Kissinger em Diplomacy: “A posição de uma nação no mundo reflete não apenas suas capacidades, mas também a percepção dos outros sobre como essas capacidades serão utilizadas.” Essa reflexão ajuda a explicar como o fracasso estratégico de Putin prejudicou a imagem da Rússia, enquanto fortaleceu alianças e mostrou a resiliência de países como a Ucrânia e Israel.
A grande questão agora é: em que fase desse efeito dominó estamos? No início, no meio ou no fim? Esperamos que, para o bem da estabilidade internacional, estejamos próximos de uma solução que traga paz e segurança, encerrando um ciclo de crises que impacta todo o mundo.
No entanto, precisamos nos preparar para cenários de escalada dos conflitos. O Brasil deve, estratégica e por princípios, estar ao lado, como historicamente esteve, dos países que prezam pelos valores democráticos e de respeito aos direitos humanos, e do livre mercado.
Ph.D. em Ciência Política e doutor em Direito.
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