Crítica

"Cem Anos de Solidão": adaptação da Netflix é fiel ao livro, mas sem esquecer que é uma série

Primeira parte da produção colombiana estreia nesta quarta-feira (11)

Série "Cem Anos de Solidão" - Netflix/Divulgação

“Cem Anos de Solidão”, obra-prima do escritor colombiano Gabriel García Márquez, foi durante muito tempo considerada “infilmável”, dada a complexidade de sua trama, que atravessa sete gerações de uma mesma família. No entanto, a Netflix resolveu arriscar e mostra o resultado a partir desta quarta-feira (11).

É bem verdade que, quando vivo, o próprio autor recusou diversas propostas de levar o seu romance para o audiovisual. Sua família, no entanto, autorizou a adaptação da plataforma de streaming, colocando como exigência que a produção fosse toda falada em espanhol, filmada na Colômbia e com atores locais. 

Uma das preocupações de Gabo era de que o livro não fosse bem traduzido em apenas um ou dois filmes. Diante disso, a história dos Buendía chega ao público em formato de série, dividida em duas partes e totalizando 16 episódios com cerca de uma hora de duração cada.
 

Os oito primeiros episódios - vistos antecipadamente pela Folha de Pernambuco - trazem fidelidade ao enredo e às descrições contidas no clássico literário, mas toma a liberdade de percorrer seu próprio caminho narrativo, destacando o que já deveria estar bem claro na mente de alguns: uma coisa é literatura, outra bem diferente é audiovisual.

É claro que, ao fazer determinadas escolhas, a série se distancia da experiência oferecida pela leitura do livro. Os episódios seguem a ordem cronológica dos acontecimentos, diferente da forma como García Márquez estruturou seu texto. Tal opção facilita a compreensão da história pelo espectador que ainda não está familiarizado com o romance e ainda reforça a característica de epopeia. 

Embora as primeiras cenas já deem conta dos momentos finais do coronel Aureliano Buendía (Claudio Cataño), a série rapidamente volta no tempo para mostrar o início da vida conjugal de José Arcadio Buendía (Marco Antonio González) e Úrsula Iguarán (Susana Morales). Primos, os dois se casam contra a vontade dos pais e, após uma tragédia, abandonam o vilarejo onde vivem em busca de um novo lar. 

Laura Mora e Alex García López, diretores da série, foram certeiros ao dar asas aos realismo mágico de “Cem Anos de Solidão”. Há um toque artesanal na produção, que priorizou efeitos práticos em vez de digitais nas cenas, o que faz toda a diferença no resultado visual. 

O empenho em construir uma Macondo - utópica cidade fundada pelos Buendía - com riqueza de detalhes salta aos olhos. Figurinos e cenografia dão um show para além das atuações viscerais e dos diálogos construídos eficazmente.

A essência do que torna “Cem Anos de Solidão” uma obra basilar da literatura latino-americana chega às telas com poesia e originalidade, como se tudo aquilo um dia imaginado pelos leitores agora ganhasse vida diante dos seus olhos.