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Armas químicas, frota naval: Entenda as ações militares de Israel na Síria após queda de Assad

Operações ocorrem além da zona desmilitarizada nas Colinas do Golã, reconheceu Israel pela primeira vez nesta terça-feira

Israel bombardeou centro de pesquisa Barzeh, afiliado ao Ministério da Defesa da Síria, no norte de Damasco - OMAR HAJ KADOUR / AFP

Desde a queda do regime de Bashar al-Assad no último domingo, Israel tem aproveitado o momento para realizar operações militares na Síria, apesar dos avisos de que tais ações podem desencadear novos conflitos, além violar a soberania do país.

Armazéns militares, depósitos de armas e até mesmo frotas de navios sírios já foram alvos de bombardeios, como confirmado nesta terça-feira pelo ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, que também instruiu o Exército a criar uma "zona de defesa estéril" no sul do país.

Mais de 480 ataques aéreos foram realizados nas últimas 48 horas, disse o Exército israelense nesta terça-feira, um número maior do que o notificado anteriormente pelo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), com sede no Reino Unido, que citou 310 bombardeios.

 

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou nesta terça-feira que Israel "gostaria de formar relações com o novo regime na Síria", mas confirmou que aprovou o bombardeio de alvos militares sírios "para que eles não caiam nas mãos dos jihadistas".

'Zona de defesa estéril'
As operações ocorrem além da zona desmilitarizada nas Colinas de Golã, reconheceu Israel pela primeira vez nesta terça-feira. Segundo o porta-voz Nadav Shoshani, as ações, sob instrução de Katz, se estendem a " pontos adicionais de defesa" no Sul da Síria para garantir "segurança e estabilidade" na fronteira. A declaração veio após a mídia síria afirmar que soldados israelenses avançavam em direção a Damasco, algo descrito por Shoshani como uma informação "completamente falsa".

Para contextualizar, as Colinas de Golã são um planalto rochoso a cerca de 60 km a sudoeste de Damasco, onde cerca de 20 mil colonos judeus vivem. Israel capturou a região da Síria nas últimas etapas da Guerra dos Seis Dias em 1967 e a anexou unilateralmente em 1981, movimento não reconhecido internacionalmente — com exceção dos Estados Unidos, seu maior aliado. Após a queda de Assad, o premier israelense anunciou que seu Exército havia assumido o controle da chamada Área de Separação (uma faixa neutra para reduzir tensões e evitar confrontos diretos), indicando que o acordo de desengajamento militar com a Síria havia "colapsado" com a tomada rebelde do país.

Frota naval destruída
Katz também confirmou nesta terça-feira que Israel destruiu navios da Marinha síria em ataques aéreos noturnos com "grande sucesso". Fotografias mostraram barcos afundados em um estaleiro na cidade portuária de Latakia, no oeste, com prédios desmoronados, de acordo com as agências de notícias que distribuíram as imagens.

O ministro também disse que os militares israelenses "têm operado na Síria nos últimos dias para atingir e destruir capacidades estratégicas que representam uma ameaça a Israel", embora não tenha indicado qual risco novo ou imediato a Marinha síria representaria para o Estado judeu, que tem o exército mais poderoso do Oriente Médio.

Armas e centros de pesquisa
Além do ataque aos navios da Marinha síria, Israel também conduziu bombardeios a instalações militares importantes no país, incluindo na capital. Segundo o OSDH, os mais de 300 ataques aéreos nos últimos dias já atingiram aeroportos, radares, depósitos de armas e munições. Um centro de pesquisa científica em Damasco vinculado ao Ministério da Defesa também foi completamente destruído na ação desta terça-feira. O governo dos Estados Unidos afirmou que instalação era vinculada ao programa de armas químicas da Síria.

Gideon Saar, ministro das Relações Exteriores de Israel, disse a repórteres na segunda-feira que os líderes dos rebeldes da Síria "são pessoas com uma ideologia extrema do islamismo radical":

— O único interesse que temos é a segurança de Israel e seus cidadãos. É por isso que atacamos sistemas de armas estratégicas, como, por exemplo, armas químicas residuais ou mísseis de longo alcance e foguetes, para que eles não caiam nas mãos de extremistas — justificou.

Violação da soberania
As ações israelenses após a queda do regime sírio, no entanto, têm gerado indignação em países árabes, incluindo o Egito e a Arábia Saudita. Enquanto o último afirmou, em comunicado, que o ataque israelense demonstrou "determinação em sabotar as chances da Síria de restaurar sua segurança, estabilidade e integridade territorial", o Egito foi ainda mais incisivo e declarou que Israel tem buscado "ocupar mais o território sírio". O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, pediu que Israel interrompesse seus movimentos militares.

O Ministério das Relações Exteriores da Turquia também condenou a incursão militar israelense na região, afirmando que, num período "sensível", quando "se aproxima a possibilidade de alcançar a paz e a estabilidade que o povo sírio anseia há muitos anos, Israel mais de uma vez demonstra sua mentalidade de ocupação". No Catar, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país disse ser "inaceitável" que Israel esteja tentando tirar vantagem da situação, acrescentando que o Estado judeu violou a soberania síria.

Com agências internacionais.