Internação de Lula estende negociação por troca na comunicação
Presidente deve ter encontro com marqueteiro após receber alta
A internação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para uma cirurgia às pressas no cérebro estendeu a negociação por uma possível troca no comando da comunicação do governo. Lula já manifestou em conversas com o publicitário Sidônio Palmeira o desejo de tê-lo mais próximo do cotidiano do governo e a insatisfação com o atual modelo de comunicação. O petista quer uma mudança na área especialmente para embalar melhor as entregas para a população.
Há uma percepção de Lula de que as pessoas não têm conhecimento das iniciativas do governo, o que afeta diretamente sua popularidade. O mandatário quer um marqueteiro mais próximo do dia a dia do seu gabinete, como tinha em gestões anteriores com Duda Mendonça e João Santana.
O presidente e o publicitário devem voltar a se encontrar quando Lula retornar a Brasília, após a recuperação da cirurgia no cérebro a qual foi submetido na madrugada de terça-feira e o procedimento complementar que deve ocorrer nesta quinta.
Integrantes do governo dão como certa ida do publicitário para o Planalto, mas avaliam que Lula ainda não definiu de que forma ele fará parte da equipe do presidente. Auxiliares afirmam que Lula também ainda tem dúvidas do destino de Paulo Pimenta, atual chefe da Secretaria de Comunicação (Secom), no governo, e se a troca também irá envolver outras pastas. Internado na UTI do Sírio-Libanês, Lula não tem tido contato direto com ministros, que estão todos em Brasília.
Na última sexta-feira, Lula demonstrou clara insatisfação com a área comandada por Paulo Pimenta em evento no PT:
— É preciso que a partir de agora a gente comece a fazer as coisas do jeito que precisa ser feito, porque não serão os nossos adversários que vão falar bem de nós — afirmou — Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame de que a gente não está se comunicando bem.
Lula e Palmeira almoçaram juntos no Palácio da Alvorada na semana passada. As opções à mesa para a vinda de Palmeira para o governo incluem assumir o ministério da Secom ou se tornar assessor especial da Presidência da República.
Na primeira hipótese, Sidônio substituiria Paulo Pimenta e comandaria uma das pastas mais estratégicas do Palácio do Planalto. O ministério tem seis secretarias. A maior parte dos seus titulares se reportam diretamente a Lula, e apenas um deles é indicação direta de Paulo Pimenta — Fabricio Carbonel, que cuida dos contratos publicitários. Pessoas próximas a Sidônio avaliam que qualquer pessoa que assumisse a pasta desejaria fazer trocas em postos estratégicos, e com o publicitário não seria diferente.
A segunda opção tornaria Sidônio um assessor de Lula com peso de ministro — como hoje é Celso Amorim, principal conselheiro do presidente para assuntos internacionais — e sem a necessidade de tocar a burocracia de um ministério como a Secom, como cuidar de licitações, assinar notas de empenho e diárias, atender parlamentares e lidar com a própria divisão que caracteriza os titulares das secretarias.
Publicitário, Palmeira tem perfil técnico, estrategista e de planejamento de comunicação. Não é homem da política, como Paulo Pimenta, que é deputado federal licenciado e tem uma base política no Rio Grande do Sul.
Dono Leiaute Comunicação e Propaganda, empresa que presta serviços para o PT, Sidônio Palmeira mora em Salvador. Se aceitar um convite de Lula, terá que se mudar para Brasília. Também não poderá ter vínculo com empresas caso se torne ministro de Estado, como exige a legislação federal.
Palmeira ganhou respaldo no PT após fazer as campanhas vitoriosas de Jaques Wagner e Rui Costa na Bahia entre 2006 e 2018. Se aproximou de Lula na campanha de 2022, a mais disputada da história, quando foi marqueteiro e tinha contato diário com o petista. Pessoas que acompanharam o trabalho na época relatam que os dois tinham sinergia.
Inicialmente, Lula pediu que Palmeira desse palpite em anúncios da área econômica. Palmeira contribuiu com pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad sobre isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, ações da COP 30 e com a criação do slogan União e Reconstrução. O publicitário vai a Brasília sempre que é chamado por Lula para conversas informais.