Caso Luigi Mangione: Polícia recebeu nome do suspeito antes de identificação em restaurante
Não está claro quando a informação chegou ou se teria ajudado a acelerar a prisão pelo assassinato de Brian Thompson
Investigadores receberam uma pista do Departamento de Polícia de São Francisco identificando Luigi Mangione como suspeito antes de ele ser preso pelo assassinato de um executivo de seguros em Midtown Manhattan, informou o escritório local do F.B.I. de Nova York na sexta-feira.
A pista, que o FBI repassou à polícia de Nova York, foi uma entre muitas recebidas pelas autoridades nos dias seguintes à morte do diretor executivo da UnitedHealthcare, Brian Thompson, baleado fatalmente em 4 de dezembro.
A família de Mangione havia registrado seu desaparecimento em São Francisco semanas antes do crime. O momento em que o bureau entregou essa informação à polícia de Nova York ainda não foi esclarecido, assim como se isso poderia ter ajudado a acelerar sua prisão.
Joseph Kenny, chefe de detetives da polícia de Nova York, afirmou que Mangione não estava no radar do departamento antes de ser capturado na segunda-feira, em Altoona, Pensilvânia, após um cliente do McDonald’s reconhecê-lo por fotos divulgadas pelas autoridades.
Mangione contratou Karen Friedman Agnifilo, advogada de defesa em Manhattan e ex-promotora local. Ele deverá renunciar à extradição e chegará a Nova York em breve, segundo uma pessoa com conhecimento do caso informou na noite de sexta-feira.
Na sexta-feira, surgiram novos fragmentos de informações e teorias sobre o assassinato, que ressoou em uma nação onde o seguro de saúde e o acesso a cuidados são pontos sensíveis na política há décadas.
A polícia de Nova York disse que tem novas ideias sobre como o atirador fugiu após escapar pelo Central Park de bicicleta. Depois do ataque em frente ao hotel New York Hilton Midtown, na West 54th Street, ele provavelmente abandonou a bicicleta no Upper West Side, onde a polícia acredita que alguém a encontrou e a roubou, disse Carlos Nieves, comissário assistente de informação pública do departamento.
Inicialmente, os investigadores teorizaram que o homem que atirou em Thompson havia deixado Nova York em um ônibus de um terminal em Washington Heights. Câmeras capturaram o homem entrando no terminal de ônibus na West 178th Street por volta das 7h30, mas não saindo.
Após fugir de Midtown de bicicleta no início da manhã, o atirador chamou um táxi na 86th Street com a Amsterdam Avenue e seguiu até o terminal de ônibus, pagando a corrida em dinheiro.
Mas imagens de câmeras de vigilância revisadas recentemente pelos investigadores mostraram o homem saindo do terminal de ônibus de metrô. O atirador caminhou do terminal até a estação 190th Street e, de lá, pegou o trem A para o centro até a Pennsylvania Station, disse a polícia. Uma câmera em um elevador do metrô capturou seus movimentos, disse Kenny.
Embora muitos trens deixem a estação diariamente rumo ao oeste, a polícia ainda está tentando descobrir exatamente como o suspeito chegou à Pensilvânia, onde foi capturado quase uma semana depois, disse Nieves.
As imagens do suspeito, identificado pela polícia como Mangione, de 26 anos, forneceram mais informações aos investigadores enquanto tentavam refazer seus passos de Nova York até o McDonald’s em Altoona, onde foi encontrado na segunda-feira.
Mangione estava comendo hash browns e mexendo em seu laptop quando um cliente comentou com um amigo que ele se parecia com a pessoa das fotos divulgadas pela polícia. Um funcionário do restaurante ouviu o comentário e ligou para o 911, alertando a polícia, que encontrou Mangione com uma arma de fogo, munição e documentos de identificação falsos.
As autoridades também encontraram com ele um manifesto manuscrito de 262 palavras, no qual ele aparentemente assumia a responsabilidade pelo assassinato.
Mangione, cuja família havia registrado seu desaparecimento em novembro, após meses sem contato, está lutando contra a extradição para Nova York, onde promotores o acusaram de homicídio em segundo grau.
Mangione deve comparecer ao tribunal em 23 de dezembro, em Hollidaysburg, Pensilvânia, onde uma audiência preliminar será realizada sobre os crimes pelos quais foi acusado naquele estado, incluindo porte de arma sem licença e falsificação.
Seu advogado apresentou uma petição na quinta-feira argumentando que os promotores da Pensilvânia não demonstraram que Mangione estava em Nova York no momento do assassinato. Ele também afirmou que não havia prova suficiente para suspeitar que ele cometeu o crime.
O advogado, Thomas M. Dickey, pediu ao juiz que interrompesse a extradição e estipulasse fiança para seu cliente. Uma audiência sobre essas questões está marcada para 30 de dezembro.
A família de Mangione não conversou com a polícia de Nova York, disse Nieves.
Quanto à bicicleta, a polícia ainda espera encontrá-la, afirmou.
“Bicicletas não duram muito nas ruas daqui”, disse Nieves. “Alguém vê, pega e pronto.”
Luigi Mangione é integrante de uma tradicional família que imigrou da Itália e fez fortuna no ramo imobiliário. O clã, chamado de "realeza de Baltimore" por parte da imprensa local, ficou conhecido por doar somas milionárias para instituições de saúde.
Quando foi preso, na segunda-feira, Luigi Mangione portava um manifesto escrito à mão em que criticava as empresas de saúde por priorizarem os lucros em detrimento do cuidado, de acordo com um alto funcionário da polícia. Autoridades investigam a motivação do assassinato do CEO.
De acordo com o New York Times, Nick Mangione, avô de Luigi e patriarca da família, orgulhava-se de ter prosperado nos Estados Unidos depois de deixar a Itália e viver uma infância empobrecida no novo país.
— Eu não tinha dois centavos quando meu pai morreu, aos 11 anos, mas mesmo assim me tornei um milionário — afirmou o patriarca ao Baltimore Sun.
Ainda segundo o jornal americano, Nick criou um império imobiliário calcado na construção de resorts, clubes e asilos na região. Ele e a mulher, Mary, tornaram-se renomados filantropos, por meio da Fundação Família Mangione.
Doaram mais de US$ 1 milhão (R$ 5,9 milhões) para o Greater Baltimore Medical Center, onde seus 37 netos nasceram, por exemplo, e outras altas somas para unidades como o St. Jude Children's Research Hospital e o St. Joseph Medical Center, da Universidade de Maryland.
Mangione foi localizado em um McDonald's de Altoona, na Pensilvânia, na segunda-feira. No dia seguinte, sua família se manifestou sobre a prisão em postagens em redes sociais. Na nota, a família disse ter descoberto informações do caso pela imprensa e afirmou estar "devastada".
"Nossa família está chocada e devastada pela prisão de Luigi", afirma a nota. "Oferecemos nossas orações à família de Brian Thompson e pedimos que as pessoas orem por todos os envolvidos."
Morte de CEO
Mangione foi preso pela polícia da Pensilvânia, nos Estados Unidos com uma arma "fantasma" — montada a partir de peças compradas online — semelhante à utilizada no assassinato do CEO da seguradora de saúde UnitedHealthcare.
Ao ser preso, o suspeito mostrou à polícia a mesma identificação falsa de Nova Jersey apresentada quando fez check-in em um albergue no Upper West Side de Manhattan, em 24 de novembro. Além da arma, tinha um silenciador e outras carteiras de identidade falsas.
O suspeito chegou a Altoona, no oeste da Pensilvânia, em um ônibus Greyhound. Foi também por um ônibus dessa companhia que o assassino chegou a Nova York em 24 de novembro, dez dias antes de cometer o crime.
Como aconteceu o crime?
O atirador abriu fogo contra Thompson fora da conferência anual de investidores de sua empresa, realizada em um hotel próximo ao Radio City Music Hall e ao Rockefeller Center.
Durante a caçada pelo suspeito, a polícia americana divulgou imagens do homem, incluindo duas captadas de dentro de um carro. Numa delas, o suspeito aparecia no banco de trás de um táxi, com moletom, capuz e máscara facial.
Já na segunda, ele estava fora do veículo, também com o rosto coberto. As imagens foram divulgadas depois de a imprensa americana reportar que investigadores recolheram uma mochila perto do local do crime e encontraram nela uma jaqueta da marca Tommy Hilfiger e notas de dinheiro do jogo de tabuleiro Banco Imobiliário.
O FBI oferecia uma recompensa de US$ 50 mil (mais de R$ 300 mil) por informações sobre o suspeito. No sábado, o prefeito de Nova York, Eric Adams, afirmou que a rede estava se fechando em torno do criminoso.