Trama golpista

Exército acompanha operação contra Braga Netto e diz que colabora com a investigação

O militar está sob custódia do Exército, no Rio de Janeiro

General Walter Souza Braga Netto - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Exército afirmou neste sábado que acompanha operação da Polícia Federal contra o general Braga Netto, preso por envolvimento na trama golpista, e que colabora com as investigações em curso. O militar está sob custódia do Exército, no Rio de Janeiro.

O Exército afirmou ainda que não se manifesta sobre processos conduzidos por outros órgãos e que "tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais instituições da República".

Braga Netto foi preso na manhã deste sábado no inquérito que apura uma trama golpista. A Polícia Federal realiza buscas em sua casa. A operação também atinge o principal assessor de Braga Netto, o Coronel Flávio Botelho Peregrino, também da reserva.

Braga Netto foi preso em Copacabana, na Zona Sul do Rio. Em seguida, será encaminhado ao Comando Militar do Leste, onde ficará sob custódia do Exército.

Em nota, a PF diz que "mandados judiciais expedidos pelo Supremo Tribunal Federal em face de investigados no inquérito que apurou a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do governo legitimamente eleito em 2022" e que "estão sendo cumpridos um mandado de prisão preventiva, dois mandados de busca e apreensão e uma cautelar diversa da prisão contra indivíduos que estariam atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal".

Braga Netto nega as acusações e tem afirmado que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".

Na conclusão da investigação do inquérito do golpe, a Polícia Federal afirma que o ex-ministro Walter Braga Netto tentou conseguir "informações sobre o acordo de colaboração" do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a PF, essa tentativa ocorreu por meio dos pais de Mauro Cid.

"Outros elementos de prova demonstram que Braga Netto buscou, por meio dos genitores de Mauro Cid, informações sobre o acordo de colaboração", diz o relatório final da investigação, que indiciou Bolsonaro, Braga Netto e outras 35 pessoas.

Em uma troca de mensagens, o general Mario Fernandes, que também foi indiciado, afirma que os pais de Mauro Cid teriam ligado para Braga Netto e o também ex-ministro Augusto Heleno e dito, sobre a delação, que "é tudo mentira".

"Sobre a suposta delação premiada do CID, a Mãe e o Pai dele (CID) ligaram para o GBN e para o GH informando que é tudo mentira!!!", escreveu Fernandes para o coronel reformado Jorge Luiz Kormann.

A mensagem foi enviada no dia 12 de setembro, três dias após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologar a delação de Cid.

Além disso, a PF aponta que uma operação de busca e apreensão na sede do PL encontrou um documento que seria uma espécie de "perguntas e respostas" sobre a delação de Cid. O documento estava na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto — que, na época, ocupava um cargo no partido.

"O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente relacionado ao general Braga Netto, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado, evidenciando que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal", diz o relatório.

Em uma das perguntadas, por exemplo, foi questionado sobre "O que foi delatado" em relação ao "teor das reuniões". A resposta, em primeira pessoa, diz que "nada", porque "não entrava nas reuniões".

"O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho", afirma a PF

Histórico

Braga Netto começou sua história com a gestão Bolsonaro ocupando um dos postos mais importantes da esplanada dos ministérios, o de ministro da Casa Civil.

O militar permaneceu no comando da Casa Civil entre 2020 e 2021, quando foi designado por Bolsonaro a assumir o Ministério da Defesa, onde ficou até o dina do governo.

Durante a pandemia de covid-10, Braga Netto assumiu a coordenação do Centro de Coordenação das Operações do Comitê de Crise da Covid-19, o que resultou em seu indiciamento no relatório da CPI da Covid-19.

Em 2022, Braga Netto deixou a Defesa e para ser o vice na chapa de reeleição de Bolsonaro à presidência da República. Em um de seus últimos atos como ministro, publicou uma ordem do dia celebrando o aniversário do golpe militar no Brasil, onde afirmou que o "movimento" refletiu os "anseios e as aspirações da população da época".

Com a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, Braga Netto passou a ocupar cargos estratégicos em seu partido, o PL, e foi um dos principais articuladores das eleições municipais deste ano.

Intervenção militar

Em 2016, durante o governo de Michel Temer, o general foi nomeado como interventor federal no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez na história que o estado ficou sob intervenção federal.

O militar ficou dez meses no cargo. Durante o período, recebeu o status de governador. A operação não teve resultados eficazes.