Putin diz que Rússia tomou 189 localidades da Ucrânia em 2024
Presidente russo também acusou o Ocidente de "empurrar" Moscou para suas "linhas vermelhas", afirmando que seu país foi "forçado a reagir"
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta segunda-feira que as tropas de Moscou mantêm vantagem em toda a linha a iniciativa na linha de frente na Ucrânia e que estão acelerando seu avanço, quase três anos após o início do conflito. Putin declarou que as forças russas tomaram 189 localidades ucranianas em 2024, destacando que “o ano que acaba foi um ano de referência no cumprimento dos objetivos da operação militar oficial”, termo usado por Moscou para citar a guerra na Ucrânia.
— As tropas russas mantêm a iniciativa estratégica em toda a linha de contato na Ucrânia — declarou Putin em reunião com autoridades de Defesa exibida na televisão.
O ministro da Defesa da Rússia, Andrey Belousov, declarou que as tropas russas tomaram quase 4.500 km² de território ucraniano este ano, conquistando quase 30 km² por dia. Ele afirmou que a Ucrânia controla menos de 1% da região leste de Lugansk e entre 25% e 30% do território nas regiões de Donetsk, Kherson e Zaporíjia. Ainda em 2022, a Rússia reivindicou a anexação das quatro regiões, apesar de não ter o controle total dos territórios.
No encontro, Putin também acusou o Ocidente de “empurrar” a Rússia para suas “linhas vermelhas”, situações que Moscou já deixou claro que não toleraria, afirmando que o país foi forçado a reagir, publicou a agência Reuters. O líder russo afirmou que seu país observa com preocupação o desenvolvimento e a possível implantação de mísseis de curto e médio alcance pelos Estados Unidos, repetindo a retórica de que abandonaria todas as suas restrições ao uso de seus próprios mísseis se os EUA prosseguissem com a implementação dessas armas.
As declarações foram feitas menos de uma semana após a revista Time publicar uma entrevista com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em que ele sugere que não abandonará a Ucrânia — ao mesmo tempo em que critica o país por realizar ataques com mísseis contra alvos militares russos, medida tomada após o presidente Joe Biden suspender restrições a Kiev nas últimas semanas de sua administração. O republicano, que mantém boas relações com Putin, já disse desejar alcançar um acordo para encerrar o conflito.
Em novembro, os EUA autorizaram a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance de fabricação americana (ATACMS) contra o interior da Rússia, atendendo a um clamor antigo de Kiev que era vetado pelo temor de uma implicação mais direta da Otan, a aliança militar do Ocidente, na guerra. O armamento, com alcance de até 300 km de distância, já vinha sendo enviado às forças ucranianas, mas seu uso estava limitado a áreas sob controle russo dentro da Ucrânia ou próximas às linhas defensivas. O destacamento de tropas da Coreia do Norte para lutarem pela Rússia teria mudado a posição americana sobre o uso dos mísseis.
Putin, por sua vez, ameaçou recorrer ao míssil hipersônico experimental russo Oreshnik, capaz de transportar uma ogiva nuclear, para bombardear centros de decisão estratégicos em Kiev, bem como países ocidentais que ajudam a Ucrânia a atacar solo russo. Na quinta-feira, o Kremlin declarou que o Exército russo responderá ao ataque ucraniano de quarta contra um aeródromo militar russo com mísseis ATACMS, considerada uma linha vermelha para Putin.
Os comentários de Putin ocorrem enquanto a Ucrânia e seus aliados se preparam para uma possível mudança na política dos Estados Unidos em relação à guerra. Durante a campanha, o republicano afirmou repetidas vezes que o conflito não teria começado se ele ainda fosse presidente — e chegou a dizer, sem explicar como, que poderia encerrar a guerra, que já dura quase três anos, “em 24 horas”. O presidente eleito prometeu resolver o embate, provavelmente tentando forçar um acordo negociado entre o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, e Putin, podendo resultar na concessão de territórios ocupados por Moscou.
Aliados da Otan e o próprio Biden também estão redirecionando seus esforços para colocar Zelensky em uma posição mais forte para conter avanços russos ou negociar um possível cessar-fogo, enviando mais armas para o país. Ainda em novembro, o líder ucraniano sinalizou que uma solução diplomática é necessária, indicando que poderia ceder partes da Ucrânia “temporariamente” se a Otan reconhecer seu país como membro da aliança. Segundo Zelensky, este compromisso garantiria que a Rússia não atacasse novamente o seu território.
— Se quisermos acabar com a fase quente da guerra, devemos colocar o território da Ucrânia que controlamos sob a égide da Otan — disse ele à Sky News no mês passado. — Isto é o que devemos fazer rapidamente, e então a Ucrânia poderá recuperar a outra parte do seu território através dos canais diplomáticos. Se falamos de um cessar-fogo, [precisamos] de garantias de que Putin não voltará [a ocupar a Ucrânia].
A Rússia controla 18% do território ucraniano reconhecido internacionalmente, incluindo a Península da Crimeia anexada em 2014. Na cúpula da Otan em julho, realizada em Washington, os 32 membros declararam que a Ucrânia está em uma rota “irreversível” de incorporação à aliança, mas não estabeleceram prazos.
Um dos obstáculos é que a Otan não aceita como membro nenhum país que tenha um litígio territorial com outro, dado o compromisso do Artigo 5º da carta da organização que obriga os países encararem um ataque a um como um ataque a todos. As fronteiras de cada membro, por isso mesmo, têm de estar bem demarcadas e reconhecidas.