Toninho Geraes: "Não dá para contar com direito autoral, e nem com processo de Adele"
Recuperado de uma leucoplasia e de volta aos shows, autor de "Mulheres" se vê num turbilhão depois que juiz decidiu pela interdição de música da inglesa por 'indisfarçável simetria' com a sua. Mas está desencantado.
“Eu fico na minha. Vivo e toco a minha vida como se nada tivesse acontecido”, diz, tentando manter a tranquilidade, o cantor e compositor Toninho Geraes, numa tarde de segunda-feira após um fim de semana em que seu nome voltou aos notíciários.
Como antecipou no sábado a coluna de Lauro Jardim, por decisão da 6ª Vara Empresarial do Rio, a música “Million years ago”, lançada pela cantora inglesa Adele em 2015, não poderá mais ser reproduzida, distribuída ou comercializada (inclusive nas plataformas de streaming) sem a autorização de Geraes, compositor de “Mulheres”, samba imortalizado na voz de Martinho da Vila nos anos 1990.
Responsável pela medida, o juiz Victor Torres disse que embora ainda não esteja comprovado o plágio indicado por Toninho Geraes, existe uma “indisfarçável simetria” entre as gravações.
No meio de um “turbilhão”, recebendo repórteres no playground do prédio onde mora (já que seu apartamento está em reforma), o artista se mostra ainda atônito com a notícia.
"Foi uma decisão do juiz em cima do que a gente apresentou. Ele percebeu que a música realmente tem toda essa questão de plágio mesmo. Eu não sei direito a força que era que uma decisão judicial dessas tem, porque a música da Adele continua nos streamings" diz.
"Eu espero que eles cumpram as decisões da Justiça, mas se eles não cumprirem, será que eu vou ter que fazer alguma coisa? Porque 50 mil reais de multa por dia (na verdade, a medida prevê esse valor "para cada episódio em que a proibição seja descumprida"), isso é o cafezinho pra pra eles (a gravadora inglesa XL Recordings, que tem Adele sob contrato)"
"Eles nunca se importaram comigo"
A única possibilidade de “Million years ago” ser utilizada sem punição, determinou o magistrado, é com a autorização de Toninho Geraes. E ele garante que não daria autorização para a música voltar a tocar:
"Não, porque eles nunca deram satisfação para gente, nunca nunca acenaram com uma bandeira de boa vontade, tipo assim, “vamos ver o que você está aprendendo, o que te faz feliz ou o que te repara em alguma coisa”. Eles nunca se importaram comigo, com o processo ou com as minhas alegações, então por que eu ia me preocupar com eles?"
Há três meses, em exames de rotina das cordas vocais, o médico de Toninho Geraes detectou uma leucoplasia (lesão que se manifesta como manchas ou placas brancas na mucosa da laringe) que obrigou o cantor a passar por uma operação de emergência. Nada na voz indicava o problema.
"Graças a Deus a biópsia não deu câncer! Depois que eu fiz (sessões de) fonoaudiologia, o médico me liberou para fazer shows. Semana passada eu fiz Rio na sexta, Florianópolis no sábado e Campos dos Goytacazes no domingo. Foram uns 12 shows que eu já fiz, diria que estou com 70% da voz e, em um mês, estarei 100%" explica.
Uma boa novidade para ele este ano foi o lançamento do álbum “O amor dos poetas”, cheio de novas composições, que ele defendeu com sua própria voz.
"Eu tenho fases de composição, mas eu ando meio desestimulado de ver muita música boa parada e a gente não saber o que fazer. A gente faz discos e a rádio não toca. O samba virou um negócio para o churrasco de domingo, você liga a rádio meio-dia, tem 50 estações tocando samba, até as 14h. No meio de semana, ninguém toca nem Paulinho da Viola" lamenta o cantor e compositor.
"A gente fica triste. Eu eu fiz um projeto chamado de “Aluayê” , de afrossambas, inspirado na obra de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com arranjos do Jaime Alem. Esperava prêmio e nem indicação o disco teve. Coisa de louco, a gente não consegue entender"
Hoje, Toninho Geraes dá graças a Deus por ser "um compositor que canta"
"Porque não dá para contar com direito autoral, e nem com processo de Adele!"