Banco Central detalha "choque de juros" em ata do Copom
Nesta segunda-feira, dólar renovou recorde de fechamento, a R$ 6,09, mesmo após sucessivas intervenções do BC no mercado cambial
O Banco Central detalha a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada na ata do encontro nesta terça-feira. Na reunião, o Copom, com o apoio de seus nove membros, decidiu acelerar o ritmo de alta de juros para 1 ponto percentual, de 0,50 ponto em novembro, elevando a taxa Selic de 11,25% para 12,25% ao ano.
Além disso, já contratou mais dois aumentos da mesma magnitude para os encontros de janeiro e março, um "choque de juros" em meio à forte deterioração do cenário de inflação que surpreendeu as expectativas mais conservadoras do mercado financeiro. Caso cumpra o prometido, a Selic chegará a 14,25% no fim do primeiro trimestre de 2025, o maior patamar desde a crise do governo de Dilma Rousseff, que culminou no impeachment da presidente.
"O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista", disse o Copom no comunicado, explicando sua decisão dura.
E reforçou que a conjuntura atual está mais adversa para a convergência da inflação para a meta de 3,0%. A projeção do próprio Copom para o segundo trimestre de 2026, período em que foca atualmente seu trabalho para entregar a meta, está em 4,0%.
"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões", sinalizou.
Apesar de ter sido direto em relação aos seus próximos passos pela primeira vez nesse ciclo de alta de juros, esse trecho gerou dúvidas no mercado. A razão é que, diferentemente das altas em setembro e novembro, o BC não disse que a decisão foi unânime em nenhum trecho do comunicado. Só listou ao final os diretores que apoiaram a decisão, citando o nome de todos os nove.
Diante das desconfianças em relação à próxima formação do BC, que terá a maioria de indicados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (sete dos nove diretores), encabeçado por Gabriel Galípolo, parte do mercado ficou em dúvida se a sinalização de mais duas altas de 1 ponto foi apoiada por todo o colegiado. Foi a última reunião de Roberto Campos Neto na presidência do BC.
Além disso, espera-se alguma consideração sobre o comportamento do dólar, uma das variáveis que explicam a deterioração do cenário de inflação. Após o "choque de juros" provocado pelo BC, era esperado também um alívio na cotação da moeda americana, o que até ocorreu na manhã do dia seguinte, mas durou pouco em meio às preocupações fiscais.
Nesta segunda-feira, o dólar renovou seu recorde nominal de fechamento, a R$ 5,09, mesmo após sucessivas intervenções do BC no mercado cambial.