GUERRA NA UCRÂNIA

Bomba ucraniana colocada em patinete elétrico matou general russo responsável por armas químicas

Kirillov, 54, era o chefe da unidade de armas químicas, biológicas e radiológicas do exército russo e, em outubro, foi sancionado pela Grã-Bretanha pelo suposto uso de armas químicas na Ucrânia

Patinete estava armado com bomba - Reprodução

O chefe da divisão de armas químicas do exército russo foi morto nesta terça-feira em um ataque em Moscou reivindicado por Kiev. Essa é a figura militar mais graduada assassinada na Rússia até agora, enquanto a campanha do Kremlin na Ucrânia se arrasta. Igor Kirillov foi morto junto com seu assistente quando um dispositivo explosivo preso a uma scooter explodiu do lado de fora de um prédio de apartamentos no sudeste de Moscou, disseram autoridades russas e ucranianas.

O ataque ocorreu em uma área residencial na capital um dia depois que o presidente Vladimir Putin se gabou dos sucessos das tropas russas na Ucrânia, quase três anos depois de o Kremlin ter enviado soldados para seu vizinho pró-Ocidente. Kirillov, 54, era o chefe da unidade de armas químicas, biológicas e radiológicas do exército russo e, em outubro, foi sancionado pela Grã-Bretanha pelo suposto uso de armas químicas na Ucrânia.

 

O Comitê Investigativo da Rússia disse que "um dispositivo explosivo colocado em uma scooter estacionada perto da entrada de um prédio residencial foi ativado na manhã de 17 de dezembro na Avenida Ryazansky, em Moscou". A explosão quebrou várias janelas do prédio e danificou gravemente a porta da frente, de acordo com um repórter da AFP no local. Autoridades russas disseram que estavam investigando o ataque como "terrorismo".

Uma fonte do serviço de segurança SBU da Ucrânia disse à AFP que estava por trás da explosão matinal no que chamou de "operação especial", chamando Kirillov de "criminoso de guerra". O SBU da Ucrânia alegou que Kirillov era responsável pelo uso de armas químicas proibidas no campo de batalha.

"Kirillov era um criminoso de guerra e um alvo absolutamente legítimo, pois deu ordens para usar armas químicas proibidas contra os militares ucranianos", disse à AFP a fonte do SBU, que falou sob condição de anonimato. "Um fim tão inglório aguarda todos aqueles que matam ucranianos. A retribuição por crimes de guerra é inevitável", acrescentou a fonte.

'Armas químicas proibidas'
Já houve assassinatos em território russo antes, mas tais ataques em Moscou — onde os combates na Ucrânia muitas vezes parecem distantes — são raros. Moradores ouvidos pela AFP disseram que inicialmente presumiram que o barulho alto que ouviram vinha de um canteiro de obras próximo.

O estudante Mikhail Mashkov, que mora no prédio ao lado, disse que foi acordado por um "barulho de explosão muito alto", pensando que "algo caiu no canteiro de obras", antes de olhar para fora. A dona de casa Olga Bogomolova disse à AFP que pensou que um contêiner tivesse caído no canteiro de obras, mas depois percebeu que "foi uma explosão muito forte", viu "janelas quebradas" e que era outra coisa.

Alvos anteriores incluíam a escritora nacionalista Darya Dugina — morta em um ataque com carro-bomba nos arredores de Moscou em 2022 — e o correspondente militar pró-conflito Maxim Fomin — morto em uma explosão em um café em São Petersburgo em 2023. Mas Kirillov é o oficial militar russo mais graduado a ser morto.

Ele estava no cargo de chefe da unidade de Defesa Radiológica, Química e Biológica do exército russo desde 2017. A unidade não supervisiona as armas nucleares da Rússia.

Um dia antes, Kiev havia acusado Kirillov à revelia por acusações de cometer "crimes de guerra" contra a Ucrânia. "O funcionário é responsável pelo uso massivo de armas químicas proibidas", disse o Serviço de Segurança SBU da Ucrânia na segunda-feira, alegando mais de 4.800 casos de uso de munições químicas pela Rússia desde fevereiro de 2022.

A Grã-Bretanha e os Estados Unidos acusaram a Rússia de usar o agente tóxico cloropicrina contra tropas ucranianas, violando a Convenção sobre Armas Químicas (CWC). Cloropicrina é um líquido oleoso com odor pungente conhecido como agente asfixiante, que foi amplamente utilizado durante a Primeira Guerra Mundial como uma forma de gás lacrimogêneo.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) proíbe especificamente seu uso. Em outubro, o governo do Reino Unido impôs sanções a Kirillov e sua unidade "por ajudar a implantar essas armas bárbaras", acusações que Moscou negou. A Rússia disse que não possui mais um arsenal químico militar, mas o país enfrenta pressão por mais transparência sobre o suposto uso de armas tóxicas.

Em longos briefings televisionados, Kirillov acusou regularmente Kiev e o Ocidente de administrar redes secretas de laboratórios biológicos que estavam desenvolvendo agentes químicos proibidos em toda a Ucrânia — alegações rejeitadas pelo Ocidente e por organizações independentes de verificação de fatos.

O assassinato ocorreu um dia depois de Putin ter saudado 2024 como um "ano histórico" para sua ofensiva militar na Ucrânia, dizendo que suas tropas tinham vantagem em toda a linha de frente.