Lembra dele? Único que jogou com Messi, Maradona e Kempes leva vida de camponês após aposentadoria
Ex-goleiro Roberto Abbondanzieri comenta remorso por não ter deixado o futebol no Boca Juniors e opina sobre gestão de colega Juan Román Riquelme à frente do clube
Choveu durante as primeiras horas da manhã em Bouquet, mas Roberto Abbondanzieri acordou muito bem disposto. “Vivemos do que o céu nos manda”, resume em tom agradecido este camponês que fala de quintais, colheitadeiras e agroquímicos. Sua zona rural fica a 3,5 quilômetros da cidade de Santa Fé e no galpão, entre plantadores, algumas capinadeiras e ferramentas diversas, há três kartódromos.
"É uma paixão, e o carro de corrida foi o que mais experimentei: fiz duas corridas no Top Race, corri nos Mini Coopers de Buenos Aires e muito no kart também". Ele conta isso com tanto orgulho quanto os pênaltis que defendeu contra Pirlo e Costacurta para que o Boca se sagrasse campeão mundial contra o Milan de Carlo Ancelotti, há 20 anos.
Ao La Nacion, Abbondanzieri defendeu que o governo Milei invista no cuidado e na manutenção das estradas de terra e trabalhe no equilíbrio da cotação de soja, milho e trigo frente ao dólar. O ex-goleiro reclamou do alto preço de herbicidas e fertilizantes, entre outros custos, que o forçam a garantir uma produção de ao menos "30 quintais" para, só aí, começar a lucrar — antes de voltar ao tema da antiga paixão: o futebol.
O ídolo do Boca Juniors e da seleção argentina é o único jogador em toda a História que terá atuado com Mario Kempes, Diego Maradona e Lionel Messi, três dos mais celebrados campeões mundiais argentinos. Abbondanzieri afirma que o atual capitão da Argentina gesticula menos que os compatriotas e se expressa de maneira diferente, mas teve personalidade de liderar a equipe nos períodos de derrota até o título da Copa do Mundo de 2022. O ex-atleta recordou ao La Nacion como foi dividir os gramados com os ídolos:
— Com o Kempes joguei uma partida, um clássico do Rosário, um amistoso de verão de 1995, e compartilhei vários treinos. Ele tinha mais de 40 anos, lógico. Vencemos por 1 a 0, e o Mário fez o gol. Foi incrível aquela noite... desde ouvi-lo quando criança no rádio até jogar com ele, com um campeão mundial. Kempes estava em campo! Eu tive muita sorte. E sim, joguei com os três... mesmo que tenha sido por pouco tempo. Aquele com quem eu gostaria de curtir um pouco mais era Messi. Quando ele chegou, em 2005, já era uma estrela, e dividi a seleção com ele por três anos... E depois continuei jogando porque ele sempre me levava em todos os passeios que faziam com os amigos dele e do Ronaldinho — relembra o ex-goleiro.
Ao La Nacion, Abbondanzieri comentou a atual fase do Boca Juniors e disse que não imaginava o ex-companheiro de time Juan Román Riquelme como presidente do clube.
— Talvez eu pudesse imaginá-lo como treinador ou dirigente, mas nunca o imaginei como presidente. Román foi um fenômeno como jogador, nunca vi alguém com essa qualidade como companheiro... — disse o ex-goleiro, antes de ser questionado sobre o período em que jogou com Messi e Maradona. — Peguei o Messi quando ele era pequeno, ele já era um gênio, claro, mas não consegui desfrutar tanto. Também estive com o Maradona em 1997, claro, e foi fabuloso vê-lo de perto no dia a dia dos treinos... Mas o Román me fez vivenciar coisas impressionantes, tem a ver com os momentos de plenitude com que você tem que ser parceiro de alguém. A visão de jogo dele era incrível, por isso o imaginei mais próximo do campo do que da gestão — destacou.
Abbondanzieri considera que o ex-colega, na presidência do Boca, não é um consenso. Ele avalia que Riquelme "tomou algumas decisões corretas e outras, não" e atua conforme critérios próprios. Para ele, a torcida "tem medo de voltar aos anos em que não ganhou nada". O ex-goleiro explica que é "fanático", mas que nunca mais foi como espectador a La Bombonera desde que se aposentou.
— Imagino que estou chutando do gol, que estou acertando ele deste ou daquele jeito... Aquele ciúme que o ex-jogador tem quando vê o campo cheio, os aplausos... E, sinceramente, um pouco de remorso , também, por não ter conseguido se aposentar no clube (...) Tive que ir para o Internacional de Porto Alegre porque o técnico que me trouxe [Ischia] saiu (...) o que por outro lado foi espetacular para mim porque consegui ganhar mais uma Copa Libertadores. Mas eu queria me aposentar no Boca. Tudo isso ficou dentro de mim — destacou o ex-atleta.