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"Round 6": segunda temporada tem mais espaço para o Front Man e votação "democrática" no jogo

Série mais consumida da Netflix, com 265 milhões de visualizações, atração sul-coreana volta à plataforma no dia 26 de dezembro

Gi-hun durante uma das votações - Divulgação/Netflix

Em setembro de 2021, sem muito alarde ou planos globais audaciosos de marketing, uma série sul-coreana que misturava jogos infantis com execuções de fuzil à queima-roupa entrou no catálogo da Netflix. A história sobre centenas de endividados que aceitam participar de uma estranha e mortal competição se espalhou como rastro de pólvora — e conforme mais pessoas assistiam, mais o algoritmo indicava para outros assinantes.

Pronto: “Round 6” estabeleceu um recorde que até hoje nenhuma outra produção, em qualquer língua, inclusive inglês, foi capaz de bater: a de mais consumida da plataforma, com 265 milhões de visualizações.

A partir do dia 26, a Netflix tenta aproveitar a semana de festas de fim de ano para, com a segunda temporada, chegar novamente perto desses números. Neste dia, entram no ar todos os sete novos episódios, que retomam a saga de Seong Gi-hun (interpretado por Lee Jung-jae), o jogador vencedor. Agora dono de 45,6 bilhões de wons (em torno de US$ 32 milhões), ele direciona toda essa bolada para desmantelar a competição — mas acaba tragado por ela novamente.

—A segunda temporada começa com Gi-hun rastreando o mentor por trás dos jogos, com a intenção de derrubar tudo — disse ao Globo por videochamada o ator Lee Byung-hun, que interpreta o Front Man, comandante mascarado da primeira temporada. — Os episódios agora mostram essa longa batalha entre Gi-hun e meu personagem, que ganha mais nuances.

 

Operação Globo de Ouro
Mesmo sem ter estreado, a segunda temporada já foi indicada na categoria de melhor série de drama no Globo de Ouro 2025 por estar dentro da janela de elegibilidade, que abrange estreias entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2024. Os votantes receberam os episódios até o dia 4 de novembro e já sabem que Lee Byung-hun sem máscara é uma das novidades da temporada. E não só. Viram também uma outra dinâmica da competição, supostamente mais democrática. O intérprete do Front Man explicou:

—Após cada jogo, os participantes têm a chance de votar se desejam continuar ou não. Se a maioria decidir “sim”, a dinâmica segue. Caso contrário, ela para imediatamente — disse o ator. —Detalhe: é uma votação aberta, onde todos podem ver como cada um votou, o que leva os participantes a tomar partidos e entrar em confronto.

E o embate, claro, passa pela extrema violência. Dois aspectos se mantêm na série: os jogos infantis e jorramento de sangue. Essa combinação, inclusive, deu o que falar em 2021, quando muitas crianças e adolescentes, pela Netflix ou por cortes em redes sociais, consumiram o conteúdo impróprio para menores de 18 anos, como sinalizado no início dos episódios. Hwang Dong-hyuk, em 2021, em conversa com o Globo, disse nunca ter imaginado fazer sucesso com o público infantojuvenil. Agora, confessa não ter pisado no freio.

— A representação simbólica da violência social continuará da mesma forma — disse o diretor, também em conversa por videochamada. —Existe uma classificação etária exatamente por esse motivo, e isso se aplica também à segunda temporada. Realmente, acredito que os adultos devem ser capazes de fornecer a orientação adequada para crianças. Tive amigos que me disseram que, na verdade, tiveram bons momentos com seus filhos adolescentes assistindo juntos. Então, sugiro uma orientação cuidadosa.

Marco histórico
Hwang Dong-hyuk, de 53 anos, pode até não ter ganhado dinheiro com a primeira temporada, como disse a BBC (“produzir a segunda será uma forma de receber a compensação que o sucesso da primeira não me proporcionou”), mas teve um inédito reconhecimento da indústria ocidental: foi o primeiro asiático a vencer o Emmy de direção de 2022.

Ele analisa tudo isso a partir de alguns vieses: a presença dos jogos infantis, nostálgicos para adultos; o design de produção (“os homens mascarados, o cenário do dormitório e as escadas, tudo isso foi muito original”, disse ao Globo); e a mensagem embutida.

— O universo descrito e transmitido por “Round 6”, com sua desigualdade, competição ilimitada e severidade com os perdedores, não é muito distante da realidade em que todos nós vivemos. Provavelmente, isso ressoou com tantas pessoas.

Pós-doutoranda na UFF e diretora do Instituto Cultural Brasil-Coreia, Daniela Mazur estuda a onda de cultura pop coreana, chamada Hallyu, e adiciona outro ponto importante: a plataforma da série, um streaming com presença em centenas de países.

— Os K-dramas ainda estavam conquistando seus canais de difusão oficial quando “Round 6” coroou o que a indústria cultural sul-coreana já estava produzindo — analisa Daniela. — Ele chegou a diferentes públicos e conseguiu criar novas lógicas de consumo que potencializaram a força da Hallyu como fenômeno global.