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Sem descanso do dólar, Campos Neto e Galípolo fazem "transição simbólica" no Banco Central

Encontro entre atual e futuro presidente do BC se dará na divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI)

Roberto Campos Neto (E) e Gabriel Galípolo - Raphael Ribeiro/BCB / Reprodução/LinkedIn

Em uma transição simbólica na presidência do Banco Central, Roberto Campos Neto, atual comandante do órgão, e Gabriel Galípolo, que assume o cargo em janeiro, darão entrevista coletiva conjunta nesta quinta-feira. Oficialmente, o mandato de Campos Neto termina no dia 31 de dezembro.

A entrevista conjunta se dará no contexto da publicação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que sempre conta com a participação do presidente do BC, além do diretor de Política Econômica. Galípolo atualmente é diretor de Política Monetária. No RTI, a autoridade monetária apresenta a evolução da economia e as perspectivas para a inflação.

"A coletiva conjunta simboliza o processo de transição da Presidência do Banco Central, a primeira realizada sob o marco legal da autonomia", disse o BC, em nota.

 

Juntos, Campos Neto e Galípolo vão responder perguntas sobre a condução dos juros pelo Banco Central em um momento bastante tenso, em que o dólar não para de subir, mesmo diante de atuações duras tanto do ponto de vista de política monetária quanto de intervenções no mercado cambial.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu até as projeções mais conservadoras ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e já contratar duas altas da mesma magnitude para os próximos dois encontros. Em março, caso cumpra o prometido, a Selic chegaria a 14,25%, pico da crise do governo de Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016.

Com o "choque de juros", era esperado algum alívio no dólar, que vem em disparada desde a apresentação do pacote fiscal pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que frustrou as expectativas do mercado financeiro.

Na manhã seguinte, o câmbio brasileiro até reagiu positivamente, mas durou pouco. E desde, então, continua renovando recordes, mesmo com uma intervenção extraordinária do BC no mercado de câmbio que já soma R$ 12,7 bilhões. Nesta quarta-feira, a moeda americana fechou em R$ 6,26 e o BC já anunciou novo leilão de dólar à vista de até US$ 3 bilhões nesta quinta.

Além das perguntas sobre os próximos passos na condução dos juros e de seus condicionantes, como inflação, dólar, atividade e política fiscal, Galípolo deve ter de enfrentar questionamentos sobre a autonomia do BC e a postura do presidente Lula, que o indicou para o cargo e de quem é considerado próximo. Campos Neto está na mira das críticas do petista desde o ano passado.

Crítica de Lula
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, no último domingo, Lula disse que é irresponsável o aumento dos juros neste momento.

— A única coisa errada nesse País é a taxa de juros, que está acima de 12%", afirmou Lula. " Essa é a coisa errada. Não há nenhuma explicação. É uma inflação totalmente controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia. Não é do governo federal. Mas nós vamos cuidar disso também.

RTI
No relatório, o BC também pode atualizar sua projeção para o crescimento da economia neste ano e em 2025. No documento divulgado em setembro, a estimativa era de alta de 3,2% em 2024 e 2,0% no ano que vem. Desde então, foi divulgado o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, cuja elevação de 0,9% renovou as avaliações sobre a força da atividade econômica.

O próprio BC, na ata do Copom, disse que o PIB evidencia maior dinamismo da economia do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato do produto para um terreno mais positivo. Ou seja, a autoridade monetária estima que a economia opera acima de sua capacidade produtiva, está sobreaquecida.

A estimativa em si do hiato deve ser divulgado no RTI. Na publicação, o BC ainda atualiza as projeções para o mercado de crédito e para as contas externas.