'Duelo' de mísseis contra os EUA? O que se sabe sobre a arma hipersônica Oreshnik, citada por Putin
Existência do armamento foi revelada pelo presidente Vladimir Putin em pronunciamento feito em novembro
O anúncio feito pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que um novo míssil de médio alcance foi usado em um ataque contra a região ucraniana de Dnipropetrovsk acendeu alertas ao redor do mundo no mês passado.
Já nesta quinta-feira (19), Putin elevou o tom e sugeriu um "duelo" com os Estados Unidos para mostrar o poder bélico do novo míssil balístico hipersônico Oreshnik.
A declaração foi dada por Putin enquanto ele falava sobre o ceticismo ocidental sobre o Oreshnik. Ele disse que, se ambos os lados selecionassem um alvo designado para ser protegido por mísseis dos EUA, a Rússia provaria que pode derrotar qualquer sistema de defesa antimísseis americano.
"Estamos prontos para tal experimento", disse Putin, afirmando que a Rússia está ficando mais forte.
Como é o novo míssil Oreshnik?
O equipamento teria a capacidade de levar ogivas nucleares, e seu emprego é encarado como uma perigosa mensagem ao Ocidente. Segundo Putin, o míssil atinge dez vezes a velocidade do som (Mach 10), “que é de 2,5 km a 3 km por segundo".
O líder russo afirmou que esse era um míssil de médio alcance (MRBM), o que, de acordo com a Associação para o Controle de Armas, significa um alcance entre mil e 3 mil quilômetros, além de uma margem de erro de cerca de 150 metros em relação ao alvo determinado.
O presidente russo declarou que "atualmente não há maneiras de conter esta arma", e especialistas dizem que os atuais sistemas de defesa aérea em operação na Ucrânia não são capazes de interceptar mísseis balísticos.
Uma das alternativas, como apontou a empresa de consultoria Defense Express, em artigo nesta quinta-feira, é o sistema THAAD (Defesa Terminal de Área de Alta Altitude, em inglês), mas os EUA têm hoje apenas sete baterias operacionais.
Em seu canal no Telegram, Yan Matveev, analista militar russo, disse acreditar que o Oreshnik seja uma adaptação do projeto de míssil balístico de alcance intermediário (IRBM) RS-26 Rubej, que tem alcance de até 5,8 mil km e capacidade de levar até quatro ogivas nucleares de 0,3 megaton cada (a bomba Little Boy, usada pelos EUA contra Hiroshima, em 1945, tinha poder explosivo de 0,015 megaton).
Oficialmente, o programa de desenvolvimento do RS-26 havia sido paralisado em 2018, e uma decisão final sobre a continuidade ou não não seria tomada antes de 2027, afirmou o site militar russo Top War, citando o orçamento militar do país.
No passado, os EUA afirmaram que o projeto violava o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, assinado em 1987 por Washington e Moscou e que previa a eliminação dos mísseis balísticos e de cruzeiro com alcance entre 500 km e 5,5 mil km. O acordo foi abandonado em 2019.
Entre as semelhanças operacionais com o RS-26, o Oreshnik, afirmam especialistas e fontes dos serviços de inteligência dos EUA e Reino Unido, poderia levar uma carga conhecida como MIRV (Veículo de Reentrada Múltiplo Independentemente Direcionado, em inglês), que lhe permite transportar múltiplas ogivas, inclusive nucleares.
— Este é um grande foguete com capacidade de carga útil, presumivelmente MIRVs, e tem a capacidade associada a ele de transportar cargas nucleares — disse à CNN Tom Karako, diretor do Projeto de Defesa de Mísseis do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), apontando que provavelmente foi a primeira vez em que o sistema de múltiplas ogivas foi usado em combate.