Selic

Galípolo afirma que "barra" para mudar indicação de Selic a 14,25% é alta

Dirigentes do BC ainda afastaram a chance de um cenário de dominância fiscal e disseram que política monetária vai levar inflação à meta

Futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo - Lula Marques/ Agência Brasil

O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira que a "barra é alta" para alterar a sinalização dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) de dois novos aumentos da taxa Selic de 1 ponto percentual, de 12,25% para 14,25%. Na prática, o recado dado pelo novo comandante do BC é de que o BC ainda não vê motivo para ser ainda mais agressivo na condução dos juros mesmo com a deterioração acelerada dos ativos brasileiros no mercado financeiro.

--- Sobre o que precisa acontecer (para mudar a sinalização). Talvez seja um pouco engraçado eu dizer isso, mas sou bem apegado a guidance: a barra é alta para fazer qualquer mudança no guidance --- disse, fazendo referência ao racha na reunião do Copom de maio, em que manteve o voto de acordo com a sinalização, mas foi vencido por quem optou por um corte menor.

Tanto Galípolo quanto o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, fizeram questão de ressaltar que a estratégia adotada no último Copom é uma indicação de que a autoridade monetária está comprometida em atingir a meta de inflação, apesar das incertezas acima do normal.

Em uma espécie de transição informal do comando, os dois concederam entrevista coletiva conjunta no âmbito do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). Campos Neto afirmou que adotou a estratégia de dar mais peso para a avaliação do seu sucessor nas duas últimas decisões do Copom. Galípolo assume interinamente neste sábado e oficialmente em janeiro.

--- Não existem bons ventos para o nau sem direção. Temos clareza de para onde estamos indo dando passo que a gente deu. Já foi muito corajoso a partir da materialização dos riscos poder fazer sinalização para mais duas reuniões. O que vai acontecer dali para frente vamos ter de esperar para ver como vai se desenrolar. Mas está bem claro de que em qual direção a gente deu esse passo. É de caminhar para uma taxa de juros em patamar restritivo com alguma segurança --- disse Galípolo.

Campos Neto e Galípolo também descartaram um cenário de dominância fiscal - em que a taxa de juros básica perde efeito contra inflação e pode até reforçá-la em um cenário de dívida pública elevada. Esse tema vem sendo debatido com mais força atualmente, especialmente após o "choque de juros" promovido pelo último Copom. Mesmo com o "golpe duro", as expectativas de inflação continuaram subindo e o dólar seguiu se depreciando.

O atual presidente do BC destacou que a abertura do mercado no dia posterior ao Copom foi na direção imaginada, com a apreciação cambial, mas que várias coisas influenciam o mercado e que a autoridade monetária não olha apenas um dia.

--- A gente acredita que o instrumento de política monetária funciona. A gente não concorda com a análise que a gente não tem inflação da demanda. Não temos interpretação de que é alguma coisa que não pode ser combatida com política monetária, temos interpretação que política monetária funciona e vamos usar para atingir a meta --- disse Campos Neto.

Galípolo acrescentou que o BC tem todos os instrumentos técnicos e de institucionalidade para cumprir a meta.

--- O BC tem toda a autonomia, tem toda a confiança do presidente da República. Ele permitiu a autonomia para a escolha de todos os diretores e em todo esse processo.

O diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, reforçou que o BC tem as ferramentas adequadas para combater a inflação e que o que ocorre no momento é atuação de "mitigadores", que contrabalançam os juros restritivos, como o impulso fiscal e de crédito.