Solidariedade

Solidariedade, um ato que deve ser contínuo: confira ações que vêm ajudando a transformar vidas

Desafios surgidos em 2024 evidenciaram espírito solidário dos brasileiros, emergindo como força transformadora no País

Natal 2024: Tempo de solidariedade - Alfeu Tavares/Folha de Pernambuco

Em 2024, um ano atípico para a história do Brasil, marcado por tragédias e desafios em todo o território nacional, o povo brasileiro mostrou o tamanho e o poder da solidariedade, que emergiu como força transformadora no país.

Iniciativas como a Rede Muda Mundo, além de centenas de voluntários por todo o Brasil, mostraram como pequenas ações podem mudar realidades, mobilizando milhões de pessoas em prol dos mais vulneráveis.

Transformação
De emergências climáticas, como a que acometeu o Rio Grande do Sul, passando pelas tradicionais ações de resposta imediata, até programas de capacitação e geração de renda e autonomia nas periferias, 2024 foi um ano em que a empatia e a ação coletiva se destacaram, provando que o espírito solidário, que prevalece no período natalino e das festas de fim de ano, pode ser uma constante ao longo de todo o ano.

Fábio Silva, CEO da Rede Muda Mundo. Foto: Acervo Rede Muda Mundo.

Para Fábio Silva, CEO da Rede Muda Mundo, 2024 foi um dos anos mais desafiadores da história recente do Brasil. 

“Testemunhamos tragédias que nunca imaginamos presenciar, mas também uma mobilização solidária como poucas vezes vimos. No Rio Grande do Sul, os efeitos das tragédias ainda não passaram. Ainda temos equipes lá, atuando em projetos e programas. Mas, por outro lado, temos visto uma consciência cidadã mais aguçada, com mais pessoas e empresas se dedicando a ajudar ações sociais”, reflete Fábio.

A Rede, que atua desde o voluntariado até a qualificação profissional, alcançou números impressionantes neste ano. Através da plataforma Transforma Brasil, foram mais de 8 mil iniciativas sociais apoiadas, 1 milhão de voluntários mobilizados, 4,5 milhões de horas de trabalho voluntário e 18 milhões de pessoas beneficiadas, em mais de 5 mil comunidades e todos os estados brasileiros.
Impacto

Entre os destaques, Fábio cita a campanha “Todos pelo Rio Grande do Sul”, que mobilizou recursos e equipes para apoiar famílias afetadas pelas enchentes. Foto: Acervo Rede Muda Mundo.

O impacto também se estendeu ao Porto Social, com 445 iniciativas qualificadas, mais de 2 mil lideranças capacitadas e 4 mil horas de conteúdos de qualificação oferecidos. A Fábrica do Bem alcançou 650 pessoas com conteúdos transformadores em 50 cidades.

“Expandimos não só a Casa Zero, com sede na Rua do Bom Jesus, no bairro do Recife, mas também o nosso projeto através da plataforma Transforma, que agora também está em Portugal e no Chile. Então, 2024 foi um ano em que dedicamos muito tempo e trabalho e conseguimos alcançar cerca de 16 milhões de brasileiros através da Rede Muda Mundo”, destacou o CEO da Rede Muda Mundo.

Entre os destaques, Fábio cita a campanha “Todos pelo Rio Grande do Sul”, que mobilizou recursos e equipes para apoiar famílias afetadas pelas enchentes. “A solidariedade é sobre se antecipar, educar e estar preparado para agir. E o voluntariado é a força que conecta essa transformação”, concluiu o CEO.

Luta
Na Ação da Cidadania, fundada há 30 anos pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a luta contra a fome é uma constante. As campanhas realizadas pela organização, que atua, principalmente, no atendimento imediato de comunidades e pessoas em situação de vulnerabilidade, mobilizam milhares de pessoas, especialmente no Natal, quando o espírito solidário se torna mais presente.

Anselmo Monteiro da Silva, jornalista de formação e coordenador da Ação da Cidadania em Pernambuco. Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

Anselmo Monteiro, jornalista de formação e coordenador da iniciativa, relembra que, embora o período de festas e a celebração do Natal traga um aumento nas doações, é o trabalho contínuo que faz a diferença.

“Betinho, nosso fundador, sempre dizia que a doação e a solidariedade não deveriam ser restritas ao Natal. Ele queria que fosse um exemplo a ser seguido ao longo de todo o ano. Precisamos de um compromisso contínuo. O Carnaval, por exemplo, com os bailes beneficentes e as arrecadações de alimentos tem mostrado cada vez mais essa tendência, que é urgente”, afirma Anselmo.  

Para Maria Félix da Silva, voluntária da ong há três anos, ajudar é um ato urgente. “A fome não espera, a fome tem pressa”, complementa.

Sônia Maria Gonçalves,  João José Romano dos Santos e Maria Félix da Silva; voluntários da Ação da Cidadania em Pernambuco. Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

Compromisso
Esse compromisso com a constância também se reflete na Refavela.  Fundada por Gilmar Bolla8, co-fundador do movimento Manguebeat e da banda Chico Science e Nação Zumbi, a iniciativa, há quase três décadas, atua para transformar comunidades no Recife e na Região Metropolitana. 

Mais do que a ação constante de doar alimentos e outros itens de necessidade básica às populações vulneráveis, a organização se dedica também a capacitar, oferecendo projetos que unem arte, esporte e educação. 

Com iniciativas como a “Alimentando Sonhos”, que já formou mais de 4 mil pessoas em cursos de culinária, a Refavela fortalece comunidades com oportunidades reais de geração de renda. “Nosso objetivo é transformar a favela em uma escola de formação, com cursos de eletricista, encanador e outras profissões que gerem autonomia”, destaca Gilmar Bolla8.

Gilmar Bolla8, fundador da Refavela, co-fundador do movimento Manguebeat e da banda Chico Science e Nação Zumbi. Foto: Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

Para Altamiza da Favela, gestora de projetos da rede, ações como essas nascem a partir dessa perspectiva de quem entende a dificuldade do próximo e da necessidade de cuidado mútuo.

“Muitos de nós, que ajudamos, viemos de um lugar onde muitas vezes as pessoas não têm a oportunidade de fazer três refeições ao dia. Sabemos dessa realidade, dessa vontade de querer vencer, de querer trabalhar, mas que, muitas vezes, esbarra na falta de escolaridade, na falta de estrutura familiar e de condições que proporcionem essas oportunidades, como o estudo e a capacitação”, explica Altamiza.

“A solidariedade já começa nas pequenas coisas, naquele feijão que dividimos, o gás que emprestamos ou o menino que cuida das crianças da vizinha enquanto ela trabalha”, completa a gestora.

Altamiza da Favela, gestora de projetos da Refavela. Foto:  Davi de Queiroz/Folha de Pernambuco.

Esperança
Esse amor ao próximo e o sentimento de cuidado mútuo foi o que uniu os recifenses Polyana Souza e Renan Gomes. O casal, que se conheceu em um projeto social, já tinha a certeza de como celebraria a data, mesmo antes de planejar os detalhes do casamento, compartilhando. Por isso, escolheu incluir a população em situação de rua na celebração do casamento. 

“Nada melhor do que poder comemorar uma data tão importante com as pessoas que são especiais e que a gente ama. Além dos nossos parentes e amigos, também havia as pessoas que vivem em situação de rua, que fazem parte do nosso convívio diário”, contou Polyana.

Polyana Souza e Renan Gomes, casal que viralizou após distribuir bolo de noiva e refrigerante para pessoas em situação de rua. Foto: Super Click.

Sem possibilidade de organizar uma festa que incluísse todos os convidados, o casal decidiu distribuir bolo de noiva e refrigerante para a população em situação de rua. “Antes mesmo de a gente ter qualquer coisa do casamento planejada,  já tínhamos a certeza de que pelo menos o bolo de noiva e o refrigerante iremos distribuir”, relatou Polyana.

O registro da ação, que aconteceu no dia 29 de novembro, viralizou nas redes sociais. Apesar de já realizarem ações sociais semanalmente, os noivos não imaginavam que o gesto, realizado no dia do casamento, teria tanta repercussão.

“A gente não esperava que isso fosse viralizar, até porque isso já é uma coisa que costumamos fazer. E que bom que, de alguma forma, terminou viralizando. A gente espera que com essa ação possamos tocar e inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo”, concluiu Polyana.