Armas de gel: sobe para 88 número de pessoas com ferimentos atendidas na Fundação Altino Ventura
Lesões identificadas variam entre arranhões na córnea, inflamações e sangramentos, segundo a clínica
Após o uso indevido de armas de gel, que viraram febre em todo o Brasil nos últimos meses, a Fundação Altino Ventura (FAV), no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife, recebeu 88 pacientes com ferimentos nos olhos até o último balanço, divulgado no domingo (22).
Segundo a clínica, os ferimentos identificados variam entre arranhões na córnea, inflamações e sangramentos. Dependendo da intensidade do impacto, tais lesões podem evoluir para danos mais graves, inclusive cegueira.
Essas armas possuem balas de gel feitas de um polímero superabsorvente que podem atingir alta velocidade. Caso entrem em contato com os olhos, podem causar essas lesões graves, tanto para quem "brinca", como também para quem estiver passando na rua, a caminho de casa ou do trabalho, por exemplo, e tem nada a ver com aquilo.
A FAV realiza esse levantamento semanal desde que observou o aumento dos casos, a partir do dia 30 de novembro. No primeiro, foram 17 atendimentos em quatro dias. No segundo, 64 em 12 dias. No terceiro, 80 casos foram notificados, até chegar ao balanço atual, com 88 pacientes com lesões nos olhos provocadas por balas de gel.
"É um número bem expressivo com traumas oculares em massa que trazem riscos à visão. Esses números podem inclusive estar hipoestimados, porque muitas pessoas podem ter levado a pancada e não ter procurado uma emergência oftalmológica", explicou a médica oftalmologista e vice-coordenadora do Departamento de Cirurgia Refrativa da FAV, Camila Moraes.
Ainda de acordo com a oftalmologista, neste momento, é de grande importância, caso seja atingido por uma bala de gel, procurar atendimento médico. "Todo trauma oftalmológico precisa ser examinado para descartar que coisas mais sérias estejam acontecendo no olho, mesmo que o paciente não tenha dor ocular ou baixa de visão", afirmou.
Febre das armas de gel
As armas de gel viraram pauta nacional após se popularizarem principalmente entre crianças e adolescentes. Na internet e em feiras populares, esses equipamentos podem ser comprados por valores entre R$ 50 e R$ 200.
Com a alta popularização, tem sido cada vez comum ver casos das chamas "gerras de arma de gel", quando adolescentes e adultos se encontram em pontos estratégicos para duelar com os equipamentos, muitas vezes sem óculos de proteção.
Essa é a principal preocupação sobre a popularização dos objetos, inclusive no Grande Recife. De acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), em coletiva concedida no dia 9 de novembro, já foram registrados mais de 100 casos de gerras com armas de gel na Região Metropolitana do Recife.
Na última terça-feira (17), a Polícia Civil de Pernambuco apreendeu 3.510 armas que disparam bolas de gel em estabelecimentos comerciais localizados no bairro de São José, no Centro do Recife. Os oficiais encontraram produtos com origem fiscal ilícita e/ou apresentando irregularidades no selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
O delegado da Delegacia do Consumidor do Recife, Hilton Lira, chegou a cobrar uma normatização para os equipamentos.
"É importante ter uma normatização para a comercialização de qualquer produto, principalmente um produto como esse que pode causar dano a terceiros, como tem sido o constrangimento à sociedade como todo. Lembrando que o coletivo tem sempre que prevalecer sobre o individual", afirmou.
Proibição
Por mais que o uso indevido e fácil comercialização esteja causando tantos casos de lesões nos olhos, as armas de gel não são criminalmente proibidas. Isso porque o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) as classifica como "réplicas de armas com projéteis de bolas de gel", semelhante a armas de paintball e airsoft, por exemplo.
Ainda assim, os municípios de Olinda e Paulista, no Grande Recife, já proibiram a distribuição e venda nas cidades.
Em nota, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) informou que "assim que eventual projeto de lei tratando da proibição do uso e comercialização dos referidos artefatos for protocolado na forma regimental, colocará o texto em tramitação". E ainda pontua: "A Alepe destaca que o prazo regimental para apresentação de projetos de lei a serem apreciados neste ano de 2024 foi encerrado no dia 30 de novembro. E que até aquela data não houve registro de projeto que versa sobre o tema".