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Metrô do Recife: governos do Estado e federal devem se reunir em janeiro para discutir privatização

A informação foi confirmada pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), em visita à Folha de Pernambuco

Privatização do Metrô do Recife segue em pauta para o Governo de Pernambuco - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Em meio à instabilidade do Metrô do Recife, o Governo do Estado deverá fazer uma reunião com o Governo Federal para discutir a concessão do sistema para a iniciativa privada. A medida vai de encontro com o interesse da Casa Civil da Presidência da República em privatizar o transporte público por trilhos da Região Metropolitana por 30 anos.

A informação foi confirmada pela governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), em visita à Folha de Pernambuco. A representante do Governo do Estado explicou que o plano chega para tentar solucionar a mobilidade da região, que classificou como "uma das maiores angústias" da população. 

"Existe um estudo feito pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que mostra que a mobilidade da Região Metropolitana do Recife (RMR) é uma das maiores angústias da nossa população. A cada ano fica mais sucateado, 'canibalizado', tirando coisa de vagão para jogar em outro", afirmou a governadora.

Governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), em visita à Folha de Pernambuco. - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Como vai funcionar
O Metrô do Recife é operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), órgão federal. Antes de conceder à iniciativa privada, o objetivo da Casa Civil é fazer uma "reforma, atualização e modernização da estrutura e equipamentos instalados, assim como a operação dos serviços". 

"As intervenções previstas na concessão envolvem investimentos para melhorias e maior eficiência operacional, por meio de reforma de estações, compra de trens novos e diversas atualizações tecnológicas, resultando em melhoria da qualidade do serviço prestado à população, mais conforto, acessibilidade, segurança e maior regularidade nas viagens", ressaltou a Casa Civil, por meio de nota divulgada em outubro deste ano.

Segundo a governadora, o projeto, que deve ser tocado para a frente, exigiria um investimento de R$ 3 bilhões. 

"É evidente que já está posto no papel que exige-se um dinheiro muito grande do governo federal aqui, que seja para poder balancear uma eventual entrega para iniciativa privada com o contrato de investimento de algo em torno de 3 bilhões de reais no metrô, fora aquele dinheiro que vai ser utilizado pela iniciativa privada"

A reunião não aconteceu em dezembro por conta do acidente doméstico do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), que precisou passar por cirurgia na cabeça e ficou internado por 10 dias. 

"Em janeiro, devemos ter uma reunião para discutir isso de forma mais profunda, apresentando cenários ao povo pernambucano, buscando um caminho que caiba no bolso de todo mundo. O mais importante é que quem deve estar no foco dessa construção é o povo", completou a governadora.

Metrô do Recife. - Foto: Melissa Fernandes/Arquivo Folha de Pernambuco

Como fica para o metroviário
Já se preparando para uma possível privaticação, o Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE) aprovou o Acordo Coletivo Especial (ACE) proposto pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), no dia 12 de novembro. 

Por meio da assinatura desse acordo a categoria conseguiu a garantia dos empregos dos trabalhadores da CBTU por uma validade de dois anos caso o sistema seja privatizado, estadualizado ou sofra algum tipo de concessão.

"Hoje foi uma grande vitória da nossa categoria. Sempre acreditei que a gente ia alcançar esse objetivo, como também acredito que a gente vai conseguir a retirada da CBTU do Plano Nacional de Desestatização (PND). Essa luta é incansável. Vamos alcançar esse objetivo", afirmou o presidente do Sindmetro-PE, Luís Soares, no dia da assinatura, que ocorreu em Brasília-DF.

Como fica para o usuário
Dia após dia, cerca de 200 mil passageiros do Metrô do Recife precisam conviver com situações de instabilidade. Seja pelas paralisações por problemas no serviço, como aconteceu nas últimas semanas com os ramais Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes, seja pelos trens lotados em horários de pico, com muito calor e desconforto para os usuários.

 
 
 
 
 
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Um desses passageiros é Emanuel Gomes, estudante de 24 anos. À Folha de Pernambuco, ele contou que utiliza a Linha Centro todos os dias para ir ao trabalho, e precisa lidar com todas essas instabilidades. 

Uma das questões de maior preocupação do usuário é um aumento do valor da passagem. A Casa Civil, no entanto, já detalhou que o objetivo é manter o preço atual, de R$ 4,25, mesmo com a concessão do serviço. Ainda assim, para o estudante, a privatização não é o melhor caminho para o Metrô do Recife.

"Sei que há raiva nos usuários e bastante revolta, mas privatizar me parece uma solução a curto prazo para um problema de má gestão. Grande parte dos problemas me parecem solucionáveis. Além disso, sinto medo da piora nos serviços de manutenção, como aconteceu com o metrô de Belo Horizonte por exemplo. No final, tudo cai na conta de quem utiliza o transporte público, a gente paga o preço sempre", afirmou.

Outro usuário do metrô que conversou com a reportagem foi Henrique Gonçalves, professor de 25 anos. Ele contou que é favorável à privatização, por mais que ela ofereça prós e contras.

"Acredito que os transportes públicos do nosso Estado estão sendo muito sucateados, o que é uma triste realidade porque muitos brasileiros precisam deles pra realizar diversas tarefas no dia a dia. Privatizar o sistema metroviário teria seus prós e contras, mas acredito que, no atual momento, a privatização seria uma alternativa pra melhorar a eficiência operacional, uma vez que pagamos caro por algo que não nos traz segurança e conforto", afirmou.

O serviço operado pela CBTU atende quatro municípios da Região Metropolitana do Recife (RMR): Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho. São três linhas em operação, 36 estações e 71,5 km de extensão, dos quais 37,8 km eletrificada e 33,7 km não-eletrificada.