Compras de última hora movimentam shoppings e comércio de rua; associação estima alta nas vendas
Enfeites para compor a decoração de casa e presentes para os mais chegados foram os itens mais buscados na reta final
A véspera de Natal foi de corredores de shoppings e ruas de comércio popular movimentados nesta terça-feira. Nas ruas de Copacabana, lojas de moda e de artigos natalinos concentravam o maior fluxo pela manhã. Já no Rio Sul Shopping, na Zona Sul do Rio, que abriu as portas às 09h, os produtos mais procurados logo cedo foram panetones e roupas.
O movimento na véspera do Natal foi satisfatório, contou a ambulante Amélia Rodrigues, de 69 anos, que tem uma barraca de roupas femininas na Nossa Senhora de Copacabana.
— As pessoas estão levando bastante roupa vermelha e branca pro réveillon. Tem mais brasileiro esse ano comprando do que turista de fora — disse ela.
A contadora Michele Pereira, de 43 anos, aproveitou a manhã desta terça-feira para resolver as últimas compras de Natal. Entre as tarefas estavam encontrar um presente para a sogra, realizar a troca de um item que a filha ganhou e escolher um presente para o amigo oculto "rouba-rouba", com um limite de R$ 80.
— Também estou levando alguns enfeites para completar a árvore de Natal. Os preços estão na média... A gente parcela e segue em frente — comentou Michele, enquanto escolhia sacolas de presentes enfeitadas.
Tem quem tenha deixado todas as compras para o último dia por preferir o ambiente mais tranquilo em meio à agenda apertada pré-feriado. É o caso da médica Reny Evangelista, que chegou a ir ao shopping no domingo, mas desistiu das compras por estar lotado demais. A solução foi ver os presentes para a família horas no dia:
— Hoje tô conseguindo encontrar tudo e o movimento é mais tranquilo do que no fim de semana — disse ela, após comprar panetones para a família. — Tô vendo presentes para o meu marido, filho, irmão, sogra.. Estipulei cerca de R$ 150 por pessoa, às vezes dá um pouco mais ou um pouco menos. As coisas estão caras, mas dá para encontrar opções legais. Minha família é pequena, então dá para presentear todo mundo.
Associações de shopping centers estão otimistas
O pagamento da segunda parcela do décimo terceiro na terceira semana de dezembro é um dos motores por trás do otimismo do setor de shopping centers em relação ao faturamento nesta reta final do ano, conta Nabil Sahyoun, presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop).
Completam o cenário positivo o desemprego em nível historicamente baixo e a taxação de plataformas internacionais desde agosto, que ajudam o setor a encerrar 2024 com um faturamento próximo de R$ 200 bilhões, um crescimento real de 6% em relação ao ano anterior, de acordo com projeções da Alshop.
A medir pelo movimento na noite do dia 23 de dezembro, shoppings como Iguatemi e Ibirapuera, em São Paulo, registravam lotação, o que dá indícios de um consumo aquecido na véspera do Natal.
— Temos um fluxo bom nessa reta final. As empresas fazem despedidas de amigo secreto, o que gera compras de presente de última hora. E quando a empresa não faz, o que fazem os colaboradores é se reunirem nos restaurantes. E todo mundo sai correndo pra comprar essas lembranças, presentes de última hora — diz Nabil Sahyoun.
A expectativa é que o faturamento seja superior a R$ 6 bilhões este ano, segundo Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), 7% a mais que o registrado no Natal do ano passado. O aumento na renda disponível da população, o crescimento do emprego e promoções adotadas pelo varejo justificam a projeção, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce.
— Embora o dólar alto possa influenciar os custos de determinados produtos, muitos consumidores já adaptaram seus hábitos, buscando alternativas mais acessíveis ou promovendo maior consumo de produtos nacionais — diz Humai, ao ressaltar que o calendário deste ano também ajudou o comércio, já que o Natal numa terça-feira deu aos consumidores mais tempo para realizar as compras.
Mudança de planos
Consumidores que deixaram as compras de Natal para a véspera relataram que enfrentam preços mais altos do que o esperado no Centro do Rio. Segundo a A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio RJ), o gasto médio deve ser de R$ 300,29, com movimentação de R$ 675,28 milhões.
Na Saara, mercado popular do Rio, a pedagoga Kátia Caverno, acompanhada da filha e da sobrinha, separou R$ 300 para os presentes, mas precisou mudar os planos.
— Está tudo caro. Trocamos os presentes planejados por opções mais baratas — disse.
Já Jéssica Feliz, de 29 anos, veio de Belo Horizonte, mas se decepcionou. Com R$ 100 reservados, optou por lembrancinhas.
— Achei que os preços estariam melhores. Vou presentear com algo simples — afirmou.
Corrida contra o tempo para comprar itens da ceia
Com a alta do dólar e a inflação, principalmente nos alimentos, os brasileiros precisaram se adaptar neste Natal. Aqueles que deixaram itens para a ceia para a última hora ainda enfrentaram o desafio do tempo.
A estudante Nathalia Gomes, de 28 anos, foi cedo ao Mercado Municipal do Rio (Cadeg) para garantir frutas frescas e descartáveis nesta terça-feira, mas o susto veio quando viu o preço do bacalhau. Para driblar a alta, ela resolveu reduzir as porções.
— As coisas estão mais caras. Este ano vamos diminuir as porções e aumentar a variedade de pratos — diz.
No estabelecimento Brasil Portugal, clientes fiéis continuam comprando bacalhau, mas em menor quantidade. O gerente Fábio Pereira nota que, enquanto alguns reduzem o consumo, outros optam pelas lascas do bacalhau.
— Teve cliente que costumava levar 5 kg e agora compra 2 kg. Mesmo assim, mantemos boas vendas. Nas últimas horas costumamos ainda baixar os preços.
Para outros consumidores a solução foi substituir. A professora Roberta Sarto, 50, trocou o bacalhau pelo cordeiro, que estava mais em conta.
— O bacalhau está caro, então compramos uma paleta de cordeiro — comenta.
Comerciantes se adaptam
Do lado dos comerciantes, a adaptação também foi necessária. No Empório Gourmet, a gerente Verônica Batista conta que substituíram e reduziram tamanhos dos azeites devido ao aumento no preço do produto. Ela, no entanto, está otimista com as vendas.
— Hoje é típico de véspera de Natal: quem chega são os atrasados. Acredito que atingiremos o mesmo resultado do ano passado — diz.
O gerente da Gárcia, no Cadeg, que vende frutas também está otimista com as vendas no varejo. Ele diz que, na segunda-feira, as vendas foram 70% maiores que em um dia normal, e espera resultado semelhante na véspera. No entanto, aponta queda no desempenho do atacado.
— O atacado está muito mais caro. Algumas safras de frutas atrasaram.
No comércio vizinho, o Melhor Compra do Cadeg, o otimismo é menor. O vendedor Joilson Martins diz que as vendas até superaram as de outros períodos do ano, mas ficam abaixo de outros Natais.
— Está tudo muito caro, o dólar está alto. Mas acredito que hoje será o melhor dia.