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Novas autoridades sírias anunciam acordo para dissolução dos grupos armados

O acordo não inclui, no entanto, as poderosas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos e apoiadas pelos Estados Unidos

O novo governo sírio acabou com 24 anos de regime de Bashar al Assad - LOUAI BESHARA/AFP

As novas autoridades da Síria, que tomaram o poder após uma ofensiva relâmpago que derrubou o presidente Bashar al Assad, anunciaram nesta terça-feira (24) que alcançaram um acordo com "todos os grupos armados" para sua dissolução e integração às Forças Armadas nacionais.

O acordo não inclui, no entanto, as poderosas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos e apoiadas pelos Estados Unidos. O grupo controla amplas faixas de território no nordeste do país.

"Uma reunião dos líderes dos grupos armados com o novo dirigente da Síria, Ahmad al Sharaah, terminou com um acordo sobre a dissolução de todos os grupos e sua integração" sob o comando do Ministério da Defesa, informaram as novas autoridades no Telegram.

O anúncio acontece mais de duas semanas após uma aliança de grupos rebeldes, liderada pelos islamistas do Hayat Tahrir al Sham (HTS), ter tomado o poder em Damasco em 8 de dezembro, após uma ofensiva relâmpago.

A chegada dos rebeldes à capital acabou com mais de duas décadas de poder do presidente Bashar al Assad, que governou o país com mão de ferro.

Al Sharaa, que sob o pseudônimo Abu Mohamed Al Jolani era o comandante militar do HTS, afirmou no domingo que não permitiria que as "armas escapassem ao controle do Estado".

Durante uma entrevista coletiva, ele declarou que a decisão também seria aplicada às "facções presentes na área das Forças Democráticas Sírias".


- Discussões diretas? -
Questionado pela AFP, o porta-voz das FDS, Farhad Chami, afirmou que "a questão da adesão das FDS ao exército sírio deve ser discutida diretamente" entre seu comando e Damasco, "longe do domínio das potências regionais e da sua tutela sobre a decisão síria".

A Turquia, muito próxima às novas autoridades de Damasco, considera as FDS uma continuidade de seu grande inimigo, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

"As FDS poderiam ser o núcleo do exército sírio e isto seria um fator de força para toda a Síria", acrescentou Chami, antes de destacar que suas forças "preferem o diálogo com Damasco para resolver todas as questões" pendentes.

Fotos publicadas pela agência estatal de notícias SANA e a conta do Telegram das autoridades mostram Al Sharaa ao lado dos líderes de várias facções armadas. Porém, os representantes das forças comandadas pelos curdos no nordeste da Síria não estavam presentes.


- Combates perto de Manbij -
O atual comandante do HTS, Murhaf Abu Qasra, afirmou na semana passada que "a próxima etapa" seria a dissolução das facções armadas para sua inclusão em uma futura instituição militar.

O representante militar declarou ainda que o novo governo busca expandir sua autoridade nas áreas do nordeste da Síria controladas por uma administração semiautônoma curda.

As FDS comandaram a luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), derrotado em 2019 na Síria.

Mas desde o final de novembro, os combatentes curdos enfrentam uma ofensiva de grupos armados sírios pró-Turquia, que tomaram a área estratégica de Tal Rifaat, no norte, e de Manbij, no nordeste.

As FDS relataram "combates violentos" no leste da cidade de Manbij e 16 mortes entre seus combatentes, sem especificar quando aconteceram os óbitos.

Os curdos aproveitaram o enfraquecimento do poder central de Bashar al Assad após o início da guerra civil em 2011 para proclamar uma "região autônoma" no norte, o que provocou a hostilidade da vizinha Turquia.

O conflito na Síria deixou mais de meio milhão de mortos e fragmentou o território em zonas de influência controladas por diferentes grupos beligerantes apoiados por potências regionais e internacionais.

Nos últimos dias, várias delegações, principalmente ocidentais e do mundo árabe, viajaram a Damasco para se reunirem com os novos líderes, que buscam estabelecer um novo equilíbrio diplomático.

O governo de Assad era estreitamente vinculado à Rússia e ao Irã.

O chefe da diplomacia síria, Assaad Hassan al Shibani, advertiu a República Islâmica, na noite desta terça, pelo X, contra a "propagação do caos" na Síria, que respeite a soberania síria.

Na segunda-feira, a chancelaria iraniana havia declarado que não tinha "nenhum contato direto" com os novos líderes sírios e pediu à Síria que não se torne "uma guarida do terrorismo", embora também tenha insistido em "preservar a soberania e integridade" do país.