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Primeiro-ministro do Canadá deve anunciar sua renúncia nesta semana, diz jornal

Ele está há nove anos como premier

Primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau - Alexis Aubin/AFP

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, pode anunciar sua renúncia como líder do Partido Liberal do Canadá nesta semana, o que também poderia encerrar seus nove anos como premier, publicou o Globe and Mail no domingo.

Se confirmada, a medida deve desencadear uma disputa para substituí-lo. Trudeau tem sido pressionado por parlamentares eleitos de seu partido a renunciar há meses — algo que só aumentou desde dezembro, quando Chrystia Freeland, sua ministra das Finanças, pediu demissão citando desacordos políticos.

A popularidade de Trudeau também despencou entre os eleitores, com pesquisas sugerindo que seu partido está a caminho de uma derrota nas eleições gerais deste ano. Segundo uma pessoa próxima ao primeiro-ministro, contudo, a decisão de Trudeau sobre o que fazer está sendo mantida em sigilo.



O Globe and Mail informou que ele poderia anunciar sua intenção de renunciar antes da reunião do caucus nacional de seu partido, na quarta-feira, para evitar a percepção de que seus próprios parlamentares o forçaram a sair.

Quem quer que o substitua terá que liderar o partido durante uma campanha eleitoral, enquanto também navega em uma possível guerra comercial com os EUA. As eleições devem ocorrer antes de outubro, mas uma mudança na liderança do Partido Liberal poderia aumentar os apelos por uma votação antecipada nos próximos meses, publicou a BBC.

Fontes disseram ao Globe que Trudeau ainda não havia tomado uma decisão final sobre seu futuro. À Bloomberg News, contudo, fontes disseram que, após a divisão com a ministra das Finanças, Trudeau não deve conseguir sobreviver ao impacto político. Mais de 20 membros do Parlamento Liberal já pediram publicamente a saída de Trudeau, e ainda mais disseram em reuniões privadas que o primeiro-ministro não tem outra opção a não ser sair. Os Liberais têm 153 assentos na Câmara dos Comuns, incluindo o de Trudeau.

“O país pode enfrentar instabilidade, notadamente por uma ameaça econômica com a possibilidade de uma tarifa de 25% sobre as importações canadenses pela administração que está por vir” disse uma carta recente enviada ao primeiro-ministro por Kody Blois, que lidera um grupo de membros liberais das quatro províncias mais a leste. “Em termos simples, o tempo é essencial. Não é viável que você permaneça como líder”.

Se Trudeau, 53 anos, anunciar que renunciará imediatamente, os Liberais devem selecionar um líder interino entre os membros eleitos. No entanto, também é possível que Trudeau decida continuar no cargo enquanto os membros do Partido Liberal realizam uma eleição interna para escolher seu sucessor. O cronograma para um processo eleitoral no partido teria que ser apertado, dado que os principais partidos de oposição já disseram que pretendem votar contra o governo na próxima sessão da Câmara.

Especialistas parlamentares disseram que o governo pode ter até março antes de enfrentar uma votação de desconfiança na Câmara.

Novas lideranças e desafios
Trudeau surpreendeu ao levar seu partido ao poder em 2015, vencendo uma campanha que começou com o partido em terceiro lugar. O jovem líder, então com 43 anos, prometeu um novo tipo de política centrada na imigração aberta, no aumento de impostos sobre os mais ricos e combate às mudanças climáticas.

Mas seu primeiro mandato foi marcado por escândalos, e sua popularidade caiu nos últimos anos à medida em que aumentava a frustração com o custo de vida e seu próprio estilo de governar, publicou a BBC.

Somente dois primeiros-ministros serviram quatro mandatos consecutivos no Canadá, e Trudeau não parece entrar para a História como o terceiro. Apenas 26% dos entrevistados em uma pesquisa da Ipsos realizada em setembro disseram que Trudeau era sua principal escolha para primeiro-ministro, colocando-o 19 pontos atrás do líder conservador Pierre Poilievre, político de 45 anos que subiu ao topo de seu partido em 2022 com a promessa de reduzir impostos, combater a inflação e proteger as liberdades individuais.

Com a saída de Trudeau, as regras da eleição para liderança também seriam disputadas dentro do partido. Freeland tem ligado para parlamentares liberais e é amplamente esperada para concorrer à liderança caso a oportunidade surja.

Outros membros do gabinete de Trudeau frequentemente mencionados em discussões sobre a liderança do partido incluem a ministra das Relações Exteriores, Melanie Joly; o ministro da Indústria, François-Philippe Champagne; e Anita Anand, a ministra responsável pelo transporte e comércio interno.

Mark Carney, ex-governador do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, também pode concorrer, caso o processo seja aberto e não favoreça os parlamentares atuais, disse uma fonte familiarizada com o assunto.

Trudeau havia convidado Carney para ingressar no gabinete como ministro das Finanças, um movimento que levou à renúncia de Freeland. Carney é presidente do Brookfield Asset Management e da Bloomberg Inc., entre outros cargos.

Todos eles, contudo, terão que avaliar se este é o momento certo para liderar os Liberais. Uma pesquisa da Nanos Research realizada no final de dezembro mostra o Partido Conservador ampliando sua vantagem à medida que o período eleitoral se aproxima.

Diante das incertezas, o que se sabe é que o próximo premier do Canadá terá que lidar com a ameaça de tarifas do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que está prestes a assumir. O republicano prometeu impor uma tarifa de 25% sobre produtos canadenses se o país não garantir sua fronteira compartilhada contra o fluxo de migrantes irregulares e drogas ilegais — um “grave desafio” que foi mencionado na carta de renúncia da ministra das Finanças, que pediu demissão horas antes de apresentar seu orçamento anual. (Com Bloomberg)