Todo executivo é um pouco repórter ou deveria ser
Muito antes da minha carreira corporativa, no início da minha jornada profissional, fui repórter. Desde então, acredito que os ensinamentos do jornalismo deveriam ser obrigatórios nas faculdades de administração. Afinal, como em uma reportagem, o ponto de partida da boa gestão está em definir claramente o quê, quem, quando, como, onde e por quê.
O bom repórter aprende cedo que as perguntas certas não apenas constroem histórias: revelam verdades, conectam pontos e jogam luzes sobre possíveis desdobramentos. Já no mundo corporativo, a arte de perguntar tem o poder de alinhar metas, engajar times e impulsionar resultados. Mais do que guiar, cria espaços de reflexão, colaboração e clareza.
Perguntas bem-feitas são catalisadoras de diálogos que rompem silos, promovem transparência, incentivam o pensamento crítico e colocam todos na mesma página. Quantas vezes projetos naufragam por falta de clareza de objetivos e no alinhamento? Ainda assim, frequentemente é negligenciado o ato de questionar, por exemplo, qual o propósito ou quais as métricas que atestam os avanços de uma organização.
Ainda que aparentemente simples, perguntar carrega o imenso poder de ajustar expectativas, conectar prioridades individuais às coletivas, evitar desperdícios e otimizar esforços. Mais que isso: ajuda a liderança a traduzir sua visão estratégica em ações táticas.
Perguntas também podem engajar pessoas e equipes inteiras. Quando refletem interesse genuíno, lembram que o trabalho não é obra de um organograma, mas de um grupo de pessoas com talentos complementares e um mesmo objetivo. Perguntar a cada um sobre suas motivações no dia a dia ou sobre os obstáculos a serem removidos para melhorar seu desempenho ajuda a humanizar as relações. Quando as pessoas se sentem ouvidas, o engajamento deixa de ser uma métrica aspiracional e se torna uma realidade concreta.
Se, na base, as perguntas alavancam alinhamento e engajamento, no ápice, que são os resultados, elas ajudam a planejar o próximo movimento ou ajustar a rota. Para transformar insights em ações, as lideranças devem constantemente se perguntar se o caminho em que estão é o certo.
Outra pergunta fundamental que deve ser feita sempre, é: “O que aprendemos com este erro?”. Em um mercado onde o fracasso é estigmatizado, a coragem de fazer perguntas difíceis é o que muitas vezes separa as organizações que prosperam porque aprendem daquelas que apenas sobrevivem.
Contudo, assim como no jornalismo, perguntar não basta. As respostas precisam ser checadas e rechecadas. Os fatos e dados apresentados devem ser correlacionados. Só assim, a história que se escreve fará sentido.
Nas empresas, é preciso ter coragem para enfrentar as respostas, especialmente quando elas desafiam as suposições iniciais. E se, no jornalismo, uma resposta inesperada pode mudar o ângulo de uma reportagem, no mundo corporativo ela pode levar ao redesenho de estratégias inteiras.
Perguntar não é um exercício retórico. É um convite ao diálogo. Por isso, não é apenas um ato de liderança, mas também de humildade. Ao perguntar, admitimos que não temos todas as respostas, mas demonstramos a visão necessária para buscar o que realmente importa.
Hoje, trabalhando na maior consultoria brasileira de gestão, que tem na essência de sua metodologia a arte de fazer novas perguntas para chegar às respostas a novos desafios, sigo convicta de que perguntar é, acima de tudo, um ato de aprendizado contínuo.
Perguntar é um lembrete de que não há fórmulas prontas para o sucesso. Na maioria das vezes, ele reside na capacidade de nos questionarmos até encontrarmos os caminhos, os meios e a motivação que nos levarão adiante, rumo às nossas metas.
* VP de Marketing da Falconi.
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