Saúde

Quanto tempo as pessoas vivam após um diagnóstico de demência?

Sobrevida costuma variar de 2 a 9 anos após o diagnóstico, a depender da idade e do sexo, descobre estudo

A demência altera o comportamento e, com isso, a dinâmica dentro de casa - Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Um novo estudo publicado na revista científica The BMJ apontou que a expectativa de vida média das pessoas com demência pode variar de nove a apenas dois anos após um diagnóstico. Os resultados também indicam que cerca de um terço dos pacientes é admitido numa casa de repouso em até três anos de descobrir a doença.

O trabalho foi conduzido por pesquisadores holandeses e trata-se de uma revisão sistemática que analisou 261 estudos publicados entre 1984 e 2024. Dentre eles, 235 foram referentes ao tempo de vida após um diagnóstico, enquanto os outros 79 abordaram a ida para uma casa de repouso.

Ao todo, as evidências analisadas na revisão incluíram quase seis milhões de participantes de em média 79 anos no início do monitoramento e em sua maioria (63%) mulheres. Os estudos foram localizados em países da América do Norte e da Europa e acompanharam os voluntários durante aproximadamente sete anos.

Na hora de estimar o tempo de sobrevivência, os cientistas observaram que ele estava significativamente relacionado à idade no momento do diagnóstico. Entre as mulheres, descobrir a condição aos 60 anos foi associado a mais nove anos de vida. Já aquelas diagnosticadas aos 85 anos tiveram mais 4,5 anos.

Entre os homens, receber o diagnóstico aos 60 anos foi ligado a uma sobrevida de 6,5 anos; enquanto descobri-lo aos 85 anos foi associado a viver apenas mais 2,2 anos. Ao todo, a demência foi relacionada a uma redução de em média dois anos de expectativa de vida quando descoberta na casa dos 85 anos; de três a quatro anos na dos 80 e de 13 anos quando o diagnóstico foi aos 60.

Em relação à casa de repouso, 13% das pessoas foram admitidas ainda no primeiro ano após o diagnóstico, o que aumentou para um terço (35%) até três anos da notícia e mais da metade (57%) após cinco anos. No entanto, os autores observam que essas estimativas são menos confiáveis e, por isso, devem ser interpretadas com cautela.

“Essas são constatações observacionais e os autores reconhecem que as diferenças nos métodos de estudo e os relatórios inconsistentes de medidas como status socioeconômico, raça, gravidade da doença e condições pré-existentes podem ter afetado suas estimativas”, diz o comunicado sobre o estudo.

No entanto, os autores, afiliados ao Centro Médico da Universidade Erasmus MC, destacam que essa é a análise do maior número de estudos até o momento sobre esse tema durante um período prolongado e, por isso, "oferece potencial para informações prognósticas individualizadas e planejamento de cuidados".

No artigo, escrevem também que “estudos futuros sobre prognóstico individualizado devem, idealmente, incluir pacientes no momento do diagnóstico, levando em conta fatores pessoais, fatores sociais, estágio da doença e comorbidade, ao mesmo tempo, em que avaliam medidas de resultados funcionais relevantes acima e além da sobrevivência apenas”.

Em um editorial associado ao estudo, publicado também no periódico The BMJ, pesquisadores da Noruega afirmaram que, embora a compreensão da sobrevivência com demência tenha avançado substancialmente, as complexidades de prever a linha do tempo da doença até a admissão em casas de repouso persistem.

“Para aprimorar os futuros serviços de saúde e otimizar a qualidade de vida das pessoas com demência e suas famílias, é fundamental que continuemos a nos esforçar para obter percepções mais precisas e sensíveis ao contexto”, defendem.

A demência é o nome dado a uma síndrome causada por um conjunto de diagnósticos que leva a um comprometimento cognitivo em áreas como memória, atenção, linguagem e, finalmente, à perda na capacidade de realizar tarefas do dia a dia.

Essa síndrome, embora seja provocada pela doença do Alzheimer em cerca de 60% dos casos, pode também ser resultado de problemas vasculares, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC), ou outros quadros que causem uma neurodegeneração.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o número de pessoas acometidas pela demência deve crescer mais de 150% até 2050, passando de 55 milhões, em 2021, para 139 milhões.