França indicia fundador de site onde homens eram recrutados para estuprar mulher dopada pelo marido
Juiz de instrução acusou o italiano Isaac Steidl de vários crimes, incluindo rufianismo agravado e administração de site online para facilitar transações ilegais em organização criminosa
A Justiça francesa indiciou o fundador do site de encontros para adultos Coco.fr, utilizado para cometer agressões sexuais, incluindo os estupros de Gisèle Pelicot, pelos quais 51 homens foram condenados em dezembro, anunciou o Ministério Público do país nesta quinta-feira.
Seis meses após a desativação desta plataforma, um juiz de instrução acusou o italiano Isaac Steidl de vários crimes, incluindo rufianismo agravado — prática de exploração da prostituição de outra pessoa para obter lucro ou quaisquer vantagens — e administração de site online para facilitar transações ilegais em organização criminosa.
Por meio desse site, Dominique Pelicot, condenado em dezembro a 20 anos de prisão, entrou em contato com desconhecidos para que estuprassem sua esposa Gisèle, a quem ele previamente administrava medicamentos sem seu conhecimento para fazê-la dormir e, então, estuprá-la junto com esses homens.
O julgamento deste caso, que transformou Gisèle Pelicot em um ícone feminista mundial por sua decisão de se expor e permitir que o julgamento fosse público e acompanhado pela imprensa, chocou a França e foi seguido por todo o mundo.
Ex-marido não recorrerá da condenação
O francês Dominique Pelicot, condenado a 20 anos de prisão por drogar durante uma década sua então esposa Gisèle para estuprá-la junto com dezenas de desconhecidos, não recorrerá de sua condenação, anunciou sua advogada em dezembro.
— Dominique Pelicot decidiu não apelar da sentença — disse à AFP a advogada Béatrice Zavarro.
Um recurso "submeteria Gisèle a um novo calvário, a novos confrontos, aos quais Dominique Pelicot se recusa", acrescentou, ressaltando que, para seu cliente, de 72 anos, "já é hora de dar fim a isso".
Apesar dessa decisão, haverá um novo julgamento, desta vez diante de um tribunal composto por um júri popular, já que mais de quinze dos cinquenta coacusados apresentaram recurso de apelação.
Em 19 de dezembro, um tribunal francês composto por cinco juízes profissionais declarou culpados os 51 acusados — homens com idades entre 27 e 74 anos —, a maioria julgada pelo estupro agravado de Gisèle Pelicot entre 2011 e 2020.
Após quase quatro meses de julgamento, o tribunal proferiu sentenças que variam de 20 anos de prisão para Dominique Pelicot até três anos, dois deles com pena suspensa, para um aposentado julgado por agressão sexual.
Dominique Pelicot nunca negou ter drogado secretamente Gisèle entre 2011 e 2020 com ansiolíticos para fazê-la dormir e estuprá-la junto com desconhecidos que ele contactava pela internet.
Segundo Béatrice Zavarro, até agora, 17 acusados apelaram de suas sentenças, e outros ainda poderiam fazê-lo nesta segunda-feira, último prazo para tal ação.