Comandante-chefe do exército é o novo presidente do Líbano
General, que completa 61 anos nesta sexta-feira, não tem experiência anterior como político
Joseph Aoun, comandante-em-chefe do Exército libanês, foi eleito presidente da República no Parlamento nesta quinta-feira (9), após mais de dois anos de vacância, e disse que o país estava embarcando em uma “nova era”.
“Hoje começa uma nova era na história do Líbano”, declarou Aoun após fazer o juramento de posse no Parlamento, sob os aplausos dos parlamentares.
O general, que completa 61 anos na sexta-feira e que não possui experiência anterior como político, foi eleito no segundo turno com o apoio de 99 dos 128 deputados.
A primeira votação, horas antes, não foi bem-sucedida, mas depois disso o general se reuniu com representantes dos movimentos xiitas Hezbollah e Amal, e a situação foi desbloqueada.
Aoun sucede o presidente em final de mandato Michel Aoun, com quem não tem parentesco.
Joseph Aoun, cristão maronita, surgiu como o candidato de consenso depois de liderar o exército, uma das instituições mais respeitadas do país, minado por uma profunda crise política durante anos e, mais recentemente, pelo conflito devastador entre o movimento pró-iraniano Hezbollah e Israel, que teve o seu auge entre setembro e novembro.
Nesta quinta-feira, ele se comprometeu a respeitar o acordo de trégua com Israel e garantiu que o Estado a partir de agora terá "o monopólio das armas".
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, disse que espera que o novo presidente traga "estabilidade" ao país vizinho.
A embaixada iraniana em Beirute parabenizou Aoun e disse que espera trabalhar com o futuro governo libanês para os “interesses comuns” de ambos os países.
A embaixada dos EUA disse que Washington estava “comprometido em trabalhar em estreita colaboração” com Aoun e o Ministério das Relações Exteriores da França pediu “a nomeação de um governo forte”.
A coordenadora especial da ONU para o Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, também saudou a eleição de Aoun e pediu a nomeação “sem demora” de um primeiro-ministro e de um governo.
Papel fundamental do Exército
Analistas estimam que a candidatura de Joseph Aoun, apoiado por potências como Estados Unidos e Arábia Saudita, foi impulsionada pelo papel fundamental do exército na implementação do cessar-fogo entre Israel e Hezbollah, que entrou em vigor em 27 de novembro.
O acordo de cessar-fogo prevê o posicionamento do exército libanês no sul do país à medida que o exército israelense se retira das áreas que ocupou durante o conflito.
Já o Hezbollah deve retirar seus homens ao norte do rio Litani, que delimita o sul do Líbano, e desmantelar sua infraestrutura militar nesta parte do país, que tem sido seu reduto há décadas.
O Hezbollah, um importante ator político no Líbano desde a década de 1980, foi significativamente enfraquecido por dois meses de guerra aberta com Israel, que em setembro matou seu líder histórico Hassan Nasrallah em um bombardeio em Beirute.
O grupo islamista libanês também foi enfraquecido pela queda do presidente sírio Bashar al Assad no início de dezembro.
Pressão externa
O Líbano tem um sistema presidencialista, mas os poderes do chefe de Estado foram consideravelmente reduzidos pelo acordo de Taef, que encerrou a guerra civil de 1975-1990. O mesmo acordo fortaleceu os poderes do conselho de ministros, chefiado por um muçulmano sunita.
O Parlamento libanês não conseguia nomear um novo presidente desde que o mandato de Michel Aoun expirou em outubro de 2022.
O novo presidente também assumirá a tarefa de nomear um novo primeiro-ministro, que deverá conquistar a confiança da comunidade internacional e implementar reformas urgentes para reacender a economia e reconstruir o sul do país.