Inflação termina 2024 perto de zero na China apesar do esforço do governo para estimular o consumo
No acumulado do ano, índice de preços ao consumidor subiu apenas 0,2% em relação a 2023, bem distante do 1,1% previsto por economistas no início do ano passado
A inflação ao consumidor na China (CPI) enfraqueceu ainda mais, aproximando-se de zero em dezembro de 2024 e desacelerando pelo quarto mês consecutivo, em um revés para os esforços do governo para combater a deflação e impulsionar a demanda com medidas de estímulo econômico.
No acumulado do ano, os preços ao consumidor subiram apenas 0,2% em relação a 2023, bem abaixo da alta de 1,1% prevista pelos economistas no início de 2024. O índice subiu 0,1% em dezembro em relação ao ano anterior, em linha com a mediana das previsões de economistas consultados pela Bloomberg.
A deflação no setor industrial se estendeu para o 27º mês, embora o índice de preços ao produtor (PPI) tenha registrado uma queda mais moderada de 2,3%, informou o Escritório Nacional de Estatísticas (NBS) da China nesta quinta-feira.
A persistência das pressões deflacionárias na China está em forte contraste com outras grandes economias, com riscos elevados de inflação sinalizados por autoridades do Federal Reserve (o banco central dos EUA) e o crescimento dos preços na zona do euro acelerando no mês passado.
Para Pequim, a preocupação é que um ciclo prolongado de quedas de preços ameace segurar os gastos das famílias por mais tempo e prejudique as receitas corporativas, o que sufoca os investimentos e leva a mais cortes salariais e demissões, desacelerando o crescimento da segunda maior economia do mundo
“A melhora na demanda doméstica é uma condição necessária para a reflação,” disseram os economistas Ji Xinyu e Yu Xiangrong, do Citigroup, em uma nota. “Mas mantemos nossas expectativas realistas para políticas”, pontuaram os economistas, acrescentando que as autoridades provavelmente continuarão a adotar uma abordagem reativa.
Um sinal mais encorajador para os dirigentes do banco central foi o núcleo do CPI — que exclui os preços voláteis de alimentos e combustíveis —, que subiu pelo terceiro mês consecutivo para 0,4% em relação ao ano anterior, alcançando o maior nível desde julho.
Dong Lijuan, chefe de estatística do NBS, afirmou que, embora o mercado consumidor tenha se mantido amplamente estável em dezembro, uma queda anual de 0,5% nos preços dos alimentos foi um obstáculo para o índice geral. Ela também atribuiu as quedas mensais no PPI às flutuações nos preços das commodities e à desaceleração sazonal em alguns setores.
As leituras mais recentes de inflação sugerem que o deflator do PIB — uma medida mais ampla dos preços em toda a economia — provavelmente estenderá sua queda pelo sétimo trimestre consecutivo, de acordo com a Bloomberg Economics. É provável que permaneça negativo em 2025 pelo terceiro ano consecutivo, o que seria a sequência mais longa desde o início dos anos 1960, economistas do Citi disseram em uma nota na segunda-feira.
As ações chinesas reduziram as perdas após a divulgação dos dados, com o índice CSI 300 sendo negociado perto da estabilidade após um declínio anterior de 0,5%.
“O fraco relatório de preços de dezembro na China mostra que a economia travou em marcha lenta, apesar do aumento do apoio político desde o final de setembro. Com a falta de especificidades sobre mais estímulos reduzindo novamente a confiança na virada do ano, os dirigentes do banco central precisam entregar rapidamente medidas de suporte para combater os riscos de deflação”, disse o economista Eric Zhu, da Bloomberg Economics.
Autoridades lideradas pelo presidente Xi Jinping definiram no mês passado o aumento do consumo e da demanda doméstica como a principal prioridade deste ano, algo que só ocorreu pela segunda vez em pelo menos uma década. Elas prometeram usar maior endividamento público e gastos, bem como flexibilização monetária, para estimular o crescimento em 2025.
A China também está expandindo um programa de subsídios para produtos de consumo e aumentando o financiamento para modernizações de equipamentos industriais.
No entanto, economistas como Robin Xing, do Morgan Stanley, acreditam que o governo chinês enfrenta uma batalha prolongada para reaquecer a economia e mudar o sentimento do mercado.
“Isso não vai dissipar as preocupações deflacionárias,” disse Michelle Lam, economista para a China do Societe Generale, referindo-se aos preços ao consumidor. “Vimos declínios bastante amplos em itens como bens para o lar, serviços e assistência médica”, acrescentou.