Álcool traz novos riscos para pessoas com mais de 55 anos; mostra novo estudo
Consumo excessivo nessa faixa etária pode potencializar problemas de saúde e interações medicamentosas
Pessoas entre 35 e 50 anos relataram níveis recordes de consumo excessivo de álcool em 2022. Um estudo recente descobriu que o maior aumento no consumo excessivo de álcool entre 2018 e 2022 foi entre pessoas na faixa dos 40 anos. Especialistas estão particularmente preocupados com o aumento do consumo de álcool entre mulheres de meia-idade, já que mais delas estão desenvolvendo doenças no fígado e no coração relacionadas ao álcool.
Pesquisadores não têm certeza sobre o motivo do aumento do consumo de álcool nessa faixa etária, embora apontem que adultos dessa idade enfrentam pressões de cuidar de filhos e de pais idosos, maiores exigências no trabalho e níveis “históricos” de solidão.
Mas a tendência é preocupante: a faixa etária acima dos 55 anos já é o período em que os efeitos de décadas de consumo de álcool, incluindo câncer e doenças cardíacas ou hepáticas, começam frequentemente a aparecer. Além disso, o consumo de álcool é mais perigoso nessa fase, pois o corpo se torna menos capaz de processá-lo e mais pessoas desenvolvem doenças crônicas que o álcool pode agravar.
— Eu não gosto de ser alarmista — diz Katherine Keyes, professora de epidemiologia da Universidade de Columbia. — Mas acho que, neste momento, é algo realmente alarmante.
Uma noite de consumo excessivo de álcool é mais arriscada aos 55 anos do que aos 25, por vários motivos. O álcool pode agravar problemas de saúde comuns em pessoas mais velhas, como alterações na glicose ou pressão alta. Mesmo uma ou duas doses podem temporariamente aumentar a frequência cardíaca de uma pessoa, elevando o risco de ataque cardíaco ou insuficiência cardíaca. Esses efeitos são especialmente preocupantes para quem já tem doenças no coração.
Além disso, medicamentos comuns usados com mais frequência na meia-idade, como anticoagulantes, podem interagir com pequenas quantidades de álcool e causar complicações graves, como hemorragias internas.
À medida que envelhecemos, nosso corpo processa o álcool de forma menos eficiente, e a tolerância ao álcool pode diminuir. O fígado enfrenta mais dificuldade para metabolizar aquele martíni ou Manhattan. A perda natural de massa muscular, que começa a partir dos 30 anos, pode tornar algumas pessoas mais sensíveis aos efeitos do álcool. Tudo isso faz com que o álcool permaneça no sangue por mais tempo, resultando em uma concentração maior do químico no sangue e em uma intoxicação mais rápida. Isso, por sua vez, pode causar quedas e outras lesões, como explica Johannes Thrul, professor associado da Escola de Saúde Pública Bloomberg, da Universidade Johns Hopkins.
— Se você é mais jovem, seu corpo se recupera mais facilmente e mais rápido — explica Thrul — Mas, com o envelhecimento, isso se dificulta.
De modo geral, quanto mais tempo o álcool permanece no organismo, mais grave é a ressaca. E a manhã seguinte ao consumo pode ser especialmente difícil na meia-idade, já que a bebida prejudica o sono, que já tende a piorar em qualidade com o envelhecimento.
— Um ou dois coquetéis podem fazer você se sentir muito bem por 15 minutos, talvez um pouco mais, e péssimo durante todo o dia seguinte — diz Timothy Stockwell, cientista do Instituto Canadense de Pesquisa sobre o Uso de Substâncias.
Beber durante a meia-idade também pode prejudicar a saúde futura: pesquisas recentes sugerem que o consumo excessivo de álcool nessa fase pode aumentar o risco de comprometimento cognitivo mais tarde na vida, possivelmente porque a substância pode danificar células cerebrais. O Departamento de Saúde dos Estados Unidos declarou recentemente que o consumo de álcool contribui diretamente para o risco de câncer e defendeu a inclusão de rótulos de alerta em bebidas alcoólicas.
— Reduzir o consumo pode diminuir drasticamente o risco de desenvolver ou agravar doenças crônicas relacionadas a bebidas alcoólicas, afirmou Stockwell — já que beber menos pode reduzir a pressão arterial e os níveis de glicose e, em alguns casos, ajudar na perda de peso.
Mesmo que a pessoa tenha consumido grandes quantidades de bebida alcoólica por anos, o fígado pode se recuperar e se regenerar, pelo menos em parte, se o consumo for interrompido. Além disso, parar de beber pode ajudar a tratar condições como a cardiomiopatia alcoólica, que ocorre quando o consumo excessivo prolongado danifica o coração.
— Você não precisa apenas aceitar isso ou se sentir mal consigo mesmo e deixar por isso mesmo — diz Thrul — Há esperança — há algo do outro lado.