EUA

Fogos de artifício, queda de fios e crime: investigadores procuram causas de incêndios em LA

Autoridades estaduais e federais tentam reunir evidências em meio ao combate às chamas, no que já é considerado o pior incêndio na história da Califórnia

Casas queimadas são vistas de cima durante o incêndio de Palisades, perto do bairro Pacific Palisades, em Los Angeles, Califórnia - Josh Edelson/AFP

À medida que bombeiros continuam a tentar controlar os focos de incêndio florestal em Los Angeles, que já mataram 24 pessoas e ainda mantém mais de 100 mil sob ordem de retirada, agências federais e estaduais deram início a investigações para tentar desvendar o que pode ter causado aquele que já apontado como pior incêndio da História da Califórnia — em um momento em que meteorologistas dizem que as condições climáticas podem amplificar ainda mais o fogo.

Entre as hipóteses iniciais da investigação, estão a de que fogos de artifício, a queda de fios da rede elétrica e até mesmo uma ação criminosa possa ter iniciado as chamas.

A principal investigação deve ocorrer sob a autoridade do Departamento Federal de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos, agência federal que anunciou que suas equipes já estão atuando na área de Pacific Palisades, bairro nobre no litoral de Los Angeles onde as chamas varreram a maior parte da área afetada no estado até o momento.

Uma busca inicial já foi iniciada, mas a investigação de fato só deve ser possível quando as chamas estiverem mais controladas.


Em se tratando da região de Palisades, no oeste de Los Angeles, uma análise inicial realizada pelo jornal americano Washington Post indicou levantou a possibilidade de que fogos de artifício possam ter dado início às chamas. A partir de dados de chamados atendidos pelos bombeiros de Los Angeles, a publicação descobriu que a mesma região foi alvo de um incêndio provocado por fogos detonados na noite de Ano Novo, uma semana antes do início da crise atual.

Com base em uma análise de fotos, vídeos e imagens de satélite, a investigação comprovou que o primeiro foco identificado na região na última terça-feira foi registrado na mesma área do incêndio anterior — o que, segundo sugeriram alguns especialistas ouvidos pela mídia americana, indica que as chamas atuais podem ser na verdade uma "reignição" do incêndio anterior.

A investigação, contudo, ainda deve demorar, em meio à dificuldade natural de reunir as evidências necessárias em meio à crise. Mesmo quando as chamas forem contidas e apagadas totalmente, é possível que os esclarecimentos ainda demorem mais um tempo.

— É basicamente como jogar uma cena de crime em um forno — disse Michael Wara, diretor do Programa de Política Climática e Energética da Universidade de Stanford e ex-comissário de incêndios florestais da Califórnia, em entrevista ao Los Angeles Times, descrevendo a dificuldade de se chegar a um resultado final.

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Quedas na rede elétrica
Especialistas em incêndios florestais afirmam que fenômenos da magnitude do que ocorre Los Angeles dificilmente têm apenas uma única origem ou causa.

A combinação de baixa umidade e ventos fortes, potencializada por um aumento da temperatura média global, ainda de acordo com os especialistas, facilitaram ainda mais para que os focos se espalhassem. Porém, evidências começam a indicar possíveis caminhos.

No caso do incêndio Eaton — o mais letal até o momento, responsável pela morte de 16 pessoas —, a hipótese sob investigação é de que a queda de cabos da rede elétrica possa ter dado início às chamas a oeste de Los Angeles, nos arredores das cidades de Pasadena e Altadena.

Dados fornecidos pelo Whisker Labs, uma empresa de tecnologia de segurança para prevenção de incêndios, à agência de notícias Bloomberg indicam que o fornecimento de energia ainda estava ativo na região quando as chamas começaram, apesar das indicações sobre o corte de energia, diante do risco de queda de postes em decorrência dos fortes ventos.

Linhas de transmissão de eletricidade estiveram conectadas a vários incêndios na Califórnia e em outras partes dos EUA nos últimos anos. Em 2023, mais de 100 pessoas morreram em um incêndio na ilha havaiana de Maui, relacionada a linhas elétricas derrubadas por ventos fortes.

— O passado nos ensinou que os equipamentos de utilidade pública são uma das principais causas dos incêndios florestais mais mortais da Califórnia. Esse padrão histórico não pode ser ignorado ao discutir medidas preventivas — disse Dean Florez, membro do California Air Resources Board e ex-senador estadual, também em entrevista ao LA Times.

Incêndio criminoso
A hipótese de que ao menos um dos incêndios tenha sido provocado por ação humana ganhou força na semana passada, quando um homem de 33 anos foi preso na região nobre de West Hill, ao tentar colocar fogo em uma área de mata.

O suspeito foi detido como uma "pessoa de interesse" em uma investigação conduzida pela polícia, relacionada ao incêndio Kenneth.

Ainda de acordo com as informações policiais, o caso sob análise estaria relacionado a uma queimada que varreu cerca de 400 hectares. (Com Bloomberg)