MARANHÃO

PL de Bolsonaro vai embarcar na gestão de governador que já foi aliado de Flávio Dino

Partido negocia duas pastas no primeiro escalão de Carlos Brandão (PSB); diretório é estadualmente dirigido por Josimar Maranhãozinho, desafeto de bolsonaristas

Carlos Brandão e Flávio Dino - Tom Costas/divulgação

O Partido Liberal, do ex-presidente Jair Bolsonaro, está prestes a embarcar na gestão do governador do Maranhão, comandada por Carlos Brandão (PSB), que já foi aliado do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nos bastidores, o deputado federal e presidente estadual da sigla, Josimar Maranhãozinho, negocia duas secretarias com Brandão.

Josimar tem interesse nos comandos das pastas de Desenvolvimento Econômico e Esporte e Lazer. Nesta segunda-feira, o governador começou a mexer no seu escalão, afim de abrir espaço para o PL. Ele tirou o advogado Paulo Chagas do Meio Ambiente, onde pretende colocar o atual titular do Desenvolvimento Econômico, Paulo Casé.

A participação do PL na administração remonta o período em que Flávio Dino esteve à frente do estado. Na ocasião, contudo, o partido ainda não havia abrigado Jair Bolsonaro e seus aliados.

Por seu posicionamento mais fisiológico, Josimar Maranhãozinho é um desafeto dos bolsonaristas. Na Câmara dos Deputados, ele já chegou a ser punido por votar com o governo federal em matérias que o partido fechou questão contra.

No mês passado, a situação escalonou quando Bolsonaro pediu a sua expulsão, após a Procuradoria-Geral da República (PGR) o denunciar por um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares, envolvendo prefeituras no Maranhão. Nos últimos dois anos, ele direcionou R$ 21,1 milhões em “emendas Pix” para 15 municípios. Quase metade deste valor, cerca R$ 9 milhões, foi para três cidades — Zé Doca, Maranhãozinho e Centro do Guilherme — que são governadas por parentes ou ex-funcionários de Josimar.

Logo após a ocasião, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, esteve em São Luís, no Maranhão, e deu uma entrevista coletiva defendendo o deputado.

— Não há possibilidade de o partido sair do comando do grupo do deputado Josimar Maranhãozinho. Avisei para o Bolsonaro que viria para o Maranhão e essa história está liquidada. O PL vai marchar unido, como sempre ele marchou e sob o comando do Josimar. O Bolsonaro vai compreender isso, eu já mandei o recado para ele — disse Valdemar.

Ex-aliado de Dino
Cobiçado pelo PL, Carlos Brandão foi vice de Flávio Dino em seus dois mandatos como governador. As rusgas começaram logo após Brandão assumir o Executivo, durante as eleições da Assembleia Legislativa. Dino havia costurado um acordo para reeleger Othelino Neto (PCdoB), que é marido de sua antiga suplente no senado, a hoje senadora Ana Paula Lobato.

Brandão insistiu na candidatura de Iracema Vale que, posteriormente, fez dois movimentos favoráveis a familiares do governador: conduziu a votação que tornou o sobrinho, Daniel, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MA), posteriormente vetada pela Justiça, e indicou o irmão, Marcus, para a diretoria de Relações Institucionais da Casa.

Este irmão é ponto-chave em outro incômodo entre Dino e Brandão —aproximação do governador com a direita, incluindo até mesmo o PL. Marcus hoje é presidente estadual do MDB, que abriga a família Sarney. Desafetos de Dino por anos, o clã esteve com o ministro na última eleição que disputou, em 2022.

O destaque dado a Marcus prejudicou um aliado de Dino, o vice-governador e seu ex-secretário Felipe Camarão (PT). Um acordo inicial previa que Brandão renunciaria para que Camarão pudesse concorrer ao governo do estado em 2026 já ocupando a máquina.

O governador, contudo, não dá como certo que quer o petista enquanto seu sucessor e tenta postergar, a todo custo, a decisão. Quem desponta como favorito para o cargo é justamente seu sobrinho, Orleans, que é filho de Marcus.