Argentina

Milei reduz ritmo de desvalorização do peso argentino para o dólar de 2% para 1% ao mês

Inflação ficou pelo terceiro mês seguido abaixo dos 3%, permitindo ao presidente da Argentina a primeira mudança em sua política cambial. Desafio será alcançar o câmbio flutuante

O presidente da Argentina, Javier Milei - Nicolas Garcia/AFP

O banco central da Argentina anunciou hoje que reduzirá o ritmo da desvalorização controlada do peso argentino de 2% para 1% ao mês a partir de fevereiro. A decisão foi tomada após a divulgação de novos dados de inflação apontando estabilização do índice de preços abaixo dos 3% mensais.

A inflação em desaceleração abriu caminho para a primeira alteração na política cambial do presidente Javier Milei, conhecida como "crawling peg" (desvalorização gradual), em mais de um ano, desde que assumiu o cargo.

Os aumentos de preços ao consumidor têm se mantido próximos ao menor nível desde 2020. O presidente e seus assessores econômicos haviam prometido, em novembro, reduzir a desvalorização para 1% ao mês, caso a inflação permanecesse constante até o final de 2024.

"O ajuste na taxa de câmbio continua cumprindo seu papel como âncora complementar para as expectativas de inflação", afirmou o banco central do país em um comunicado enviado por mensagem de texto nesta terça-feira.

Dados divulgados pelo governo mais cedo mostraram que os preços subiram 2,7% em dezembro em relação a novembro, marcando o terceiro mês consecutivo abaixo de 3% e em linha com a estimativa mediana de economistas consultados pela Bloomberg. A inflação anual desacelerou para 117,8%, abaixo do pico de quase 300% no ano passado.

Popularidade em alta
A popularidade de Milei permanece alta antes das eleições legislativas de outubro, em grande parte porque ele reduziu a inflação anual enquanto manteve a taxa de câmbio relativamente estável. Os argentinos estão mais otimistas com a economia sob sua liderança, mas qualquer mudança na política cambial corre o risco de aumentar a inflação e comprometer a posição de seu partido entre os eleitores.

O governo de Milei havia mantido a desvalorização controlada em 2% ao mês, apesar de a inflação ter superado esse percentual. Embora os mercados em geral aplaudam as outras conquistas econômicas de Milei, economistas afirmam que a política cambial está supervalorizando o peso, uma abordagem que, sob governos anteriores, levou a desvalorizações abruptas e instabilidade política.

Embora Milei tenha reduzido o ritmo da desvalorização, ele também está comprometido em avançar para uma "taxa de câmbio flexível" assim que eliminar os controles cambiais da Argentina em algum momento deste ano.

A última vez que um governo argentino eliminou os controles e deixou a moeda flutuar foi em 2015, quando o plano fracassou: a inflação disparou, e o ex-presidente Mauricio Macri acabou perdendo a reeleição.

A equipe de Milei está considerando a introdução de uma taxa de câmbio gerida — um "câmbio flutuante sujo" — assim que os controles cambiais e de capitais forem eliminados, permitindo que o peso flutue livremente dentro de parâmetros rigorosos que ainda não foram definidos.