Marburg: surto de vírus até 90% letal da família do ebola na Tanzânia preocupa OMS
Nove casos foram registrados, com oito mortos, até o último dia 11
A Organização Mundial da Saúde (OMS) investiga um possível surto do vírus Marburg, cuja letalidade chega a quase 90%, que já deixa oito mortos na região de Kagera, na Tanzânia. Em comunicado, o órgão afirmou que, até o dia 11, nove casos suspeitos foram relatados, incluindo oito mortos, nos distritos Biharamulo e Muleba – uma taxa de letalidade de 89%.
“Amostras de dois pacientes foram coletadas e testadas pelo Laboratório Nacional de Saúde Pública. Os resultados estão aguardando confirmação oficial. Há relatos de que os contatos, incluindo profissionais de saúde, foram identificados e estão sendo acompanhados em ambos os distritos”, continuou.
Segundo a OMS, o distrito de Bukoba, que também fica na região de Kagera, teve um primeiro surto de Marburg em março de 2023, “e reservatórios zoonóticos, como morcegos frugívoros, continuam endêmicos na área”. O surto durou quase dois meses e provocou nove casos, com seis mortes.
Sobre o novo surto, a autoridade sanitária diz que os pacientes apresentaram sintomas como dor de cabeça, febre alta, dor nas costas, diarreia, hematêmese (vômito com sangue), mal-estar (fraqueza no corpo) e, em um estágio mais avançado da doença, hemorragia externa (sangramento de orifícios).
A organização classificou o risco de Marburg na Tanzânia como “alto” devido a fatores como a alta letalidade e a origem desconhecida do surto. Além disso, destaca que os profissionais de saúde estão incluídos entre os casos suspeitos, “destacando o risco de transmissão nosocomial (hospitalar)”.
A OMS também ressalta com preocupação a “localização estratégica da região de Kagera como um centro de trânsito, com um movimento transfronteiriço significativo da população para Ruanda, Uganda, Burundi e República Democrática do Congo”.
“Segundo relatos, alguns dos casos suspeitos estão em distritos próximos a fronteiras internacionais, destacando o potencial de disseminação para os países vizinhos”, continua.
Ainda assim, o risco global permanece “baixo”. “Até o momento, não há confirmação de disseminação internacional, embora haja preocupações quanto aos possíveis riscos”, diz.
O Marburg é um vírus raro da família Filoviridae, mesma do ebola, com uma das taxas de letalidade mais altas já registradas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a mortalidade do agente infeccioso pode chegar a 88% dos contaminados.
O patógeno causa uma febre hemorrágica que começa abruptamente, com elevadas temperaturas, dor de cabeça e mal-estar intensos. A maioria dos pacientes desenvolvem quadros graves em até sete dias. Não há vacinas ou tratamentos antivirais disponíveis, embora uma série de fármacos estejam em testes.
A transmissão geralmente acontece por meio de morcegos frugívoros, que se alimentam de frutas. O vírus, porém, pode se espalhar entre humanos pelo contato direto com os fluidos corporais de pessoas contaminadas e por superfícies e materiais infectados.
Os maiores avanços da doença foram na República Democrática do Congo, de 1998 a 2000, e em Angola, de 2004 a 2005, quando foram contabilizados respectivamente 128 e 228 mortos.
Ainda assim, houve surtos esporádicos nos últimos anos na Guiné Equatorial, Gana, Tanzânia, Guiné, Quênia, África do Sul e Uganda, mas com poucos casos e de forma controlada. Há menos de um mês, a OMS declarou encerrado um surto em Ruanda com 66 casos e 15 óbitos.
Embora os diagnósticos sejam detectados no continente africano, o vírus foi descoberto nas cidades de Marburg e Frankfurt, na Alemanha, em 1967. Na época, funcionários de laboratórios adoeceram após entrarem em contato com tecidos de macacos infectados que vieram da Uganda.
Trata-se, portanto, de um zoonose, ou seja, uma doença disseminada normalmente entre animais que passou a contaminar humanos – como foi o caso com o HIV, a Covid-19 e a mpox.