BRASIL

Presidência do IBGE nega crise, critica servidores e defende criação de fundação

Presidência do instituto vem sendo acusada de não ouvir o quadro técnico. Dois diretores já pediram exoneração

Presidente do IBGE, Márcio Pochmann - Jose Cruz/ Agência Brasil

A presidência do IBGE, atualmente nas mãos do economista Marcio Pochmann, divulgou comunicado em seu site na noite desta quarta-feira, negando as críticas de servidores e do sindicato de que não vem ouvindo o quadro técnico e o Conselho Diretor.

Na semana passada Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, diretora e diretor-adjunto de Pesquisas do IBGE, a mais importante do instituto, deixarem seus cargos. E o colunista do GLOBO Lauro Jardim informou na terça-feira que, até o fim do mês, devem sair Ivone Batista e Patrícia Costa, diretora e diretora-adjunta de Geociências.

A nota não cita a saída dos diretores e diz que se propõe a "esclarecer à sociedade brasileira a respeito de conflitos de interesses individuais e particulares frente à missão institucional do IBGE".
 

"São condenáveis os ataques de servidores e ex-servidores, instituições sindicais, entre outros, que têm espaço na internet e em veículos de comunicação para divulgar mentiras sobre o próprio IBGE", diz o comunicado, avisando que poderá recorrer à Justiça contra "desinformação e mentiras".

"A suspeição levianamente gerada sobre a possibilidade de manipulação de dados em uma casa técnica é um ataque direto à credibilidade do IBGE, agravado justamente pelo fato de ser produzido por aqueles que conhecem em profundidade o rigor, a metodologia e a ética profissional que conduzem uma instituição de quase 90 anos. Neste cenário, a direção do IBGE seguirá o exemplo dado pelo Supremo Tribunal Federal e a Advocacia-Geral da União, que vêm enfrentando judicialmente a desinformação e as mentiras."

Em reunião com coordenadores do instituto, os dois diretores que pediram exoneração explicaram os motivos do afastamento. Segundo informe sindical, tornado público na última quinta-feira, do Núcleo Chile da Assibge, "posturas desrespeitosas às competências e atribuições dos diretores eram constantemente realizadas, como por exemplo, assuntos que deveriam ser discutidos e votados pelo Conselho Diretor da instituição já chegavam praticamente decididos, sem espaço para um debate real."

Para a crítica do sindicato de que a mudança de três diretorias de um prédio no Centro do Rio para o Horto, na Zona Sul, não foi informada de forma adequada aos diretores das áreas e não foram mostrados documentos que comprovem a economia de recursos em relação aos gastos com adaptação do espaço que está sendo cedido pelo Serpro, a presidência do IBGE diz que a mudança "permitirá ao IBGE economia anual de aproximadamente 84% em relação aos R$ 15 milhões anualmente gastos em aluguel e custos de manutenção que esta unidade consumia no início da atual gestão".

"Ressalte-se que os servidores e servidoras desta unidade deverão trabalhar presencialmente no prédio do Serpro apenas dois dias por semana. Neste sentido, explicita-se o conflito entre interesses públicos e institucionais e interesses privados e individuais", diz o comunicado.

Sobre a Fundação IBGE+, que vem sendo criticada pelo sindicato e servidores por ter sido imposta de cima para baixo, "sem a participação dos profissionais que possuem o conhecimento técnico a experiência necessários para avaliar a viabilidade e os impactos de tal criação", o comunicado do IBGE nega a falta de consulta:

"Não só foram feitos os debates junto a órgãos federais e no Conselho Diretor do IBGE, como todos os diretores e diretoras deste Conselho acompanharam as discussões, aprovaram a totalidade dos documentos e assinaram a ata de criação da Fundação IBGE+, registrada em cartório e aprovada por unanimidade, em ato documentado em texto e imagens".

Em carta aberta divulgada nesta terça-feira, a Assibge diz que a "criação de uma fundação de direito privado para gerir a 'inovação tecnológica' dentro do órgão, feita sem consulta aos quadros técnicos, à comunidade científica e à sociedade, abre um flanco perigoso e sem precedentes para a interferência de interesses privados no sistema geoestatístico nacional".

Mudança de local de trabalho
Sobre a mudança no regime de trabalho, acabando como home office e adotando o trabalho híbrido, a nota diz que" a Portaria desencadeou reações, até então, inéditas do sindicato e de parte dos trabalhadores da unidade da Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro, em defesa de interesses particulares e contrariados pelo fim do regime remoto integral, o popular home office".

"Até 2023, a quase totalidade dos institutos nacionais de estatística do planeta já havia retornado ao trabalho presencial. O IBGE era uma das exceções, ainda que com uma peculiaridade: parte significativa da força de trabalho que atua na coleta dos dados já havia retornado ao trabalho presencial integral, nos cinco dias úteis da semana, além de superintendentes, chefes de agências, setores administrativos e diretores."