Acordo

Cuba liberta mais prisioneiros como parte de promessa feita após ser retirada de lista suja dos EUA

Entre detentos libertos está José Daniel Ferrer, líder da oposição cubana e considerado prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional em 2021

Laida Yelkis Jacinto, mãe de Aníbal Jaciel Palau Jacinto, e Liset Fonseca, mãe de Roberto Pérez Fonseca, ambos filhos presos por sua participação nos protestos antigovernamentais de julho de 2021 em entrevista à AFP - Yamil Lage / AFP

As libertações de prisioneiros continuaram em Cuba nesta quinta-feira após mais de 20 pessoas terem sido libertadas na véspera como parte de uma promessa feita pelo governo após o anúncio de que a ilha foi retirada da lista de "patrocinadores do terrorismo" dos EUA.

Entre os libertados desta quinta-feira está o líder da oposição cubana José Daniel Ferrer, considerado um prisioneiro de consciência pela Anistia Internacional em 2021.

Ferrer, de 54 anos, foi detido em Santiago de Cuba quando tentava participar das manifestações de 11 de julho de 2021, as maiores registradas na ilha desde o triunfo da Revolução Cubana em 1959, liderada por Fidel Castro.

Os protestos foram realizados devido aos recorrentes apagões de energia e ao aumento dos preços dos alimentos no país.

O opositor fazia parte de um grupo de 75 prisioneiros na chamada Primavera Negra de 2003, a maior onda de repressão do governo de Fidel Castro. Na época, foi condenado a 25 anos de prisão e libertado em 2011 por meio da intermediação da Igreja Católica. Ferrer foi um dos 12 membros do grupo que se recusou a ir para o exílio em troca de sua libertação.

Em 2021, a Anistia Internacional o declarou "Prisioneiro de Consciência", isto é, "qualquer pessoa presa [...] unicamente por causa de suas crenças políticas, religiosas ou outras crenças de consciência, sua origem étnica, sexo, cor, idioma, origem nacional ou social, status econômico, nascimento, orientação sexual ou outro status, e que não tenha usado violência ou defendido a violência ou o ódio."

Outros quatro prisioneiros, também condenados por sua participação nas manifestações contra o governo de julho de 2021, foram libertados nesta quinta de uma prisão em San Miguel del Padrón, nos arredores de Havana, informaram os repórteres da AFP.

— Obrigado por terem me dado essa oportunidade de novo, outra vez na vida. É um novo começo — disse emocionado o jovem Marlon Brando Díaz, que estava cumprindo uma pena de 18 anos por sua participação nos protestos, à AFP.

Acompanhados de suas famílias, assim como Díaz, três outros prisioneiros que cumpriam penas na mesma prisão foram libertados, informou a agência. Na véspera foram libertadas cerca de 20 pessoas, todas também participantes das manifestações de julho de 2021, informou a ONG Cubalex, sediada em Miami.

Na terça-feira, o governo cubano se comprometeu a libertar 553 prisioneiros em um acordo negociado com a ajuda da Igreja Católica, depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, fez um anúncio surpresa de que a ilha comunista havia sido retirada da lista suja de países que patrocinam o terrorismo.

Faltando poucos dias para entregar o cargo ao republicano Donald Trump, o democrata deu uma reviravolta em sua política com Cuba ao flexibilizar as sanções para "facilitar a libertação das pessoas detidas injustamente", de acordo com uma autoridade sênior dos EUA que pediu anonimato.

As decisões tomadas por Biden podem ser revertidas pelo governo Trump, que toma posse na segunda-feira, o que ele provavelmente fará.

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Números oficiais afirmam que cerca de 500 cubanos foram condenados a até 25 anos de prisão por participarem de protestos que exigiam mais liberdades e melhorias econômicas, no entanto, as organizações de direitos humanos e a embaixada dos EUA na ilha contam até mil. Alguns dos condenados já foram libertados após cumprirem suas penas.

Cuba nega a existência de prisioneiros políticos e acusa os opositores de serem "mercenários" dos EUA.