TECNOLOGIA

Remoção de notícias dos resultados de busca do Google ameaça jornalismo, afirmam empresas de mídia

Em carta aberta à big tech americana, grupo pede abandono de testes que visam retirar conteúdo jornalístico das pesquisas

Editores de jornais fazem apelo a Google - Josh Edelson / AFP

Em uma carta aberta publicada nesta quinta-feira (16), com o apoio do Repórteres Sem Fronteiras (RSF), os editores de jornais europeus fazem um apelo ao Google para abandonar um teste que visa remover seu conteúdo jornalístico dos resultados de busca do Google.

Embora a big tech afirme que o objetivo seja medir a "atratividade" do conteúdo jornalístico, o grupo afirma que esse teste é "inútil" e "desonesto".

Eles dizem ainda que a medida contraria os compromissos assumidos pelo Google junto à Autoridade Francesa de Concorrência em relação à implementação da legislação europeia de direitos autorais.

De acordo com o diretor de Defesa e Assistência do RSF, Antoine Bernard, "o teste do Google é um ato de desdém para com os editores de imprensa, que estão simplesmente pedindo o que têm direito, de acordo com a lei francesa."

"O teste do Google tem uma consequência simples: tornar o conteúdo jornalístico invisível nos resultados dos motores de busca, com um impacto simbólico desastroso. Ele deve ser abandonado. Esta é uma condição sine qua non para a retomada das negociações com o objetivo de determinar uma remuneração justa pelo jornalismo nas plataformas digitais."

"O RSF apoia os editores de imprensa europeus e participará voluntariamente dos procedimentos legais iniciados na França pelo Sindicato dos Editores de Periódicos Impressos (SEPM, pela sigla em francês) contra o Google, para defender o direito dos cidadãos à informação", completou Bernard.

Leia a íntegra do manifesto a seguir.
Editores e jornalistas da imprensa europeia: A supressão unilateral do conteúdo da imprensa pelos serviços do Google é um sinal de alerta para as democracias europeias e coloca em risco a sustentabilidade da informação “Made in Europe”.

Os editores da imprensa europeia e jornalistas estão profundamente preocupados com o teste em andamento do Google, cujo objetivo declarado é remover o conteúdo da imprensa de seus serviços em vários países europeus por um período indeterminado, afetando aproximadamente 2,6 milhões de cidadãos europeus.

Este experimento, supostamente voltado para medir a contribuição da imprensa para a atratividade da marca Google, representa uma ameaça séria à sustentabilidade financeira da imprensa livre europeia, ao jornalismo europeu e à saúde das democracias europeias.

Como um "guardião digital" sob a Lei de Mercados Digitais da União Europeia (DMA, pela sigla em inglês), o Google exerce uma influência significativa por meio de seu quase monopólio na busca on-line, funcionando como o principal ponto de acesso ao conteúdo da imprensa para muitos cidadãos europeus.

Qualquer ação que reduza o alcance da imprensa aos leitores mina a capacidade dos editores de financiar suas equipes editoriais. Além disso, restringir o acesso dos cidadãos à informação afeta diretamente a qualidade do debate democrático em toda a Europa.

Com base em nossa ampla experiência de negociação com o Google, acreditamos que este "teste" está sendo realizado de má-fé. O Google não tem sido transparente nem cooperativo, recusando-se a compartilhar detalhes sobre o teste ou garantir acesso aos seus resultados.

Ao definir seus próprios parâmetros de pesquisa e avaliar seu próprio desempenho, o Google corre o risco de manipular o resultado para desvalorizar o papel econômico da imprensa e sua real contribuição para o sucesso do Google.

No contexto das negociações em andamento na Europa para garantir uma remuneração justa pelo conteúdo da imprensa sob a legislação europeia de direitos autorais, este experimento parece constituir um claro ato de intimidação. A Autoridade de Concorrência na França previu tal comportamento e identificou o risco de retaliação por parte do Google.

Para salvaguardar um processo de negociação justo, a Autoridade proibiu o Google de excluir o conteúdo dos editores. Esta intervenção permitiu que os editores de revistas franceses, por meio de sua associação nacional, conseguissem a suspensão temporária do teste na França.

Os editores e jornalistas de toda a Europa apoiam totalmente a iniciativa da SEPM. Acompanharemos de perto os procedimentos judiciais na França, com a esperança de que o resultado afirme a soberania da Europa sobre seu ecossistema de informação.

Reiteramos também nosso apelo ao Google para que termine imediatamente este "teste" em todos os países afetados.

Em um momento de interferência e manipulação generalizadas da informação e da opinião pública, uma empresa dominante como o Google deve assumir total responsabilidade por suas ações e cessar qualquer obstrução ao direito dos cidadãos de acessar informações jornalísticas.

Signatários:

Associação Europeia de Mídia de Revistas (EMMA)

Associação Europeia de Editores de Jornais (ENPA)

Federação Europeia de Jornalistas (EFJ)

News Media Europe (NME)

Repórteres Sem Fronteiras (RSF)