SHOW

As Ganhadeiras de Itapuã trazem seu samba de mar aberto à Caixa Cultural Recife neste fim de semana

O grupo baiano tem apresentações nesta sexta (17) e sábado (18), com ingressos esgotados, e levam ao palco do espaço cantos de trabalho, samba duro, samba de roda, cirandas e ijexás

As Ganhadeiras de Itapuã - Leo Carvalho/Divulgação

As ganhadeiras nascidas na praia de Itapuã/ Vendendo peixinhos baratos, pescados pela manhã/ Quem quer comprar os peixinhos, eu trago aqui pra escolher/ Deus lhe ajude a pescar pra você vender".

Esse canto ancestral, de resistência e liberdade, nos remete ao século XIX, quando o Brasil padecia de um mal chamado escravidão, e quando mulheres pretas que viviam no bairro de Itapuã, em Salvador (BA), realizavam o chamado “trabalho de ganho”, como a venda de quitutes e peixes e a lavagem de roupas na Lagoa do Abaeté.

Eram as “ganhadeiras”, que, com o dinheiro apurado desses serviços, tiravam seu sustento e compravam sua alforria e a de parentes escravizados. Provavelmente, elas são o primeiro símbolo de empoderamento feminino no Brasil.


Do século XIX, cortemos para março de 2004: um grupo propõe reconectar-se a essa ancestralidade, unindo tradição e contemporaneidade e resgatando cânticos, elementos da cultura popular daquele tempo/território, perpetuando não só o legado cultural, mas, de luta e resistência, dessas mulheres. Nasciam As Ganhadeiras de Itapuã.

Mais um salto no tempo: depois de iniciar uma turnê nacional, na própria capital soteropolitana, As Ganhadeiras de Itapuã chegam à Capital pernambucana para dois shows, hoje (17) e amanhã (18), às 20h, na Caixa Cultural Recife, no Bairro do Recife. Os ingressos já estão esgotados para os dois dias.

As Ganhadeiras 
Foi nos terreiros de Dona Cabocla e de Dona Mariinha, em Itapuã, onde as mulheres se reuniam para cantar/contar suas tradições e dançar sambas de roda, que se formou As Ganhadeiras de Itapuã.

“O que nos levou a criar o grupo foi justamente a necessidade de preservar esse legado, antes que fosse apagado em meio ao crescimento exorbitante da industrialização da cultura”, é o que defende as integrantes.

“O nosso canto remete ao grito de liberdade das nossas ancestrais, de mulheres pretas que usavam do seu trabalho com força, coragem e estratégia para libertar a si mesmas e aos seus. Sim, de alguma maneira todas nós descendemos daquelas mulheres, essa é a origem do nosso povo”, explicam.

O 1º álbum do grupo, lançado em 2014, foi vencedor do 26º Prêmio da Música Brasileira nas categorias de “Melhor Grupo Regional” e “Melhor Álbum de Música Regional”. Em 2016, participaram do encerramento das Olimpíadas do Rio.

O grupo ainda lançou, em 2019, o ao vivo “Ganhadeiras de Itapuã - 15 anos: Uma História Cantada”; e em 2020, a histórias das ganhadeiras de Itapuã virou samba-enredo da Viradouro, que foi a campeã do Carnaval do Rio de Janeiro naquele ano.

Show
Em palco, 28 pessoas se apresentam: são 10 cantoras, 10 sambadeiras e oito músicos - instrumentos de cordas, sopro e percussão. O repertório engloba cantos de trabalho, samba duro, samba de roda, cirandas e ijexás. 

Clássicos da cultura popular estão no repertório, assim como composições de integrantes do grupo, como Dona Eunice, Amadeu Alves, Edvaldo Borges, Jenner Salgado, Fabrício Rios, Seu Regi de Itapuã.

Tudo isso, com um jeito e identidade próprios, de povo de raízes afro-indígenas que vive na beira da praia. É o “canto de mar aberto”, denominação criada pelo diretor musical do grupo, Amadeu Alves.

“O samba de mar aberto é o sotaque, o jeito, a identidade da música de beira de praia nessa região da Bahia, Itapuã, que está ligado às demais matrizes de samba da Bahia, como o samba do recôncavo, a chula, o samba do sertão”.

SERVIÇO
As Ganhadeiras de Itapuã 

Quando: sexta (17) e sábado (18)
Onde: Caixa Cultural Recife - Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife, Recife - PE
Ingressos: esgotados
Instagram: @asganhadeirasdeitapua