Haddad admite preocupação com dívida pública e diz que dólar acima de R$ 5,70 é caro
Moeda americana está na casa de R$ 6; especialistas projetam dívida acima de 80% do PIB
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu nesta sexta-feira estar preocupado com a trajetória da dívida pública no Brasil.
O chefe da equipe econômica, porém, ponderou que as projeções feitas de pelo mercado sobre temas como crescimento do país e as contas públicas nem sempre se concretizam.
— Eu também estou preocupado. Nós temos que ter preocupação com a trajetória da dívida. Isso é uma preocupação do Ministério da Fazenda. Agora, eu tenho que fazer também algumas considerações sobre as projeções que são feitas e nem sempre se verificam — disse, em entrevista à CNN Brasil. — A Fazenda vai trabalhar o fiscal de forma estrutural para conter a trajetória da dívida.
Há uma preocupação de analistas sobre as contas públicas do Brasil e a dívida porque o país, por exemplo, terá o segundo maior déficit nominal do mundo este ano, num patamar bem acima de seus pares emergentes e perdendo apenas para a Bolívia, em um grupo de 22 países — é o que o BTG Pactual estima em relatório sobre o cenário macroeconômico global.
O pacote de contenção de gastos apresentado pelo governo e aprovado pelo Congresso no fim de 2024 foi considerado insuficiente pelo mercado para conter a trajetória da dívida.
O governo estima uma economia de R$ 68 bilhões em dois anos. A incerteza quanto à sustentabilidade da dívida jogou o dólar para a casa dos R$ 6.
Haddad disse que o câmbio é flutuante, mas colocou uma espécie de piso para o câmbio:
— O câmbio não é fixo no Brasil. Se eu dissesse que hoje compraria o dólar a R$ 6? Eu não compraria acima de R$ 5,70. Na minha opinião, acima de R$ 5,70 é caro. Não vou recomendar, porque não sou consultor.
Déficit
O déficit nominal deverá passar de 7,8% do PIB em 2024 para 8,6% este ano. E a perspectiva é que a dívida pública aumente, um dos fatores de atenção do mercado.
O déficit nominal é o resultado das receitas menos as despesas do governo (resultado primário) mais o pagamento dos juros da dívida pública.
É um indicador da saúde financeira do governo e mostra a trajetória da dívida pública, se vai crescer, estabilizar ou diminuir ao longo do tempo.
— O crescimento projetado no começo do presidente Lula era 0,8% no primeiro ano e 1,2% no segundo. Crescemos 3,2% no primeiro e provavelmente 3,5% no segundo. O déficit do ano passado foi de 0,1% e estava previsto em 0,8% — ponderou Haddad sobre as projeções.
A Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, prevê que a dívida pública brasileira vai continuar crescendo pelo menos até 2034.
Fecha este ano em 81,4% do Produto Interno Bruto (PIB), e chega a 91,6% em 2027 e 99% em 2029.
— Vamos arrumar a bagunça que foi deixada pelo governo anterior e melhorar o ambiente de negócios — disse.
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Imposto de Renda
Haddad afirmou ainda que o Imposto de Renda do país precisa ser mais progressivo.
— As pessoas de alta renda têm que pagar o mínimo. Hoje, você que ganha salário, o servidor, o trabalhador, não escolhe pagar ou não pagar imposto. É deduzido na fontes. Isso não acontece com o grande investidor. Estamos identificando esses casos. É uma quantidade pequena de brasileiros. Buscando a justiça tributária de quem hoje não paga — disse.