OPINIÃO

Não há conselho possível

O que dizer a uma mãe que perde um filho? Que seja forte? Que são os desígnios de Deus? Que uma missão foi cumprida? Que ela aceite?


Como é que se aceita algo dessa natureza, minha gente? Nem natural isso é. Essa é uma daquelas horas em que não há racionalidade ou emoção que nos faça entender. A emoção quer que o tempo volte. O racional busca justiça.  E o justo é que os pais partam antes dos filhos; após tê-los criado, obviamente. 

Fico aqui imaginando como essa mãe irá dormir e como vai acordar todos os dias…  E o que vai acontecer depois que forem embora todas as pessoas que estão ao lado dela neste momento… 

Os amigos têm seus compromissos, seus trabalhos, suas férias, o lazer do fim de semana. Vivo dizendo que o tempo ajeita tudo. Isso, meus caros, o tempo não ajeita. No máximo, haverá uma acomodação de dores. Mas essa dor irá existir para sempre. 

Ela ficará pensando em todas as hipóteses para que o tempo volte e uma ação interfira no futuro: e se eu tivesse levado em outro médico? E se eu tivesse insistido naquela internação? E se eu tivesse saído mais cedo? E se aquela viagem nunca tivesse acontecido? Junto com o sofrimento,, vêm as culpas, tornando tudo ainda mais dilacerante.

Acredito que a dor maior é olhar para um quarto vazio e sem vida. Tocar nas roupas do filho que se foi, sentir o jeito ainda presente em algumas peças, ver aquela camiseta já tão velha, puída, mas que ele insistia em usar porque adorava… Olhar os brinquedos, os cadernos, as tarefas da escola ainda por fazer. 

Como é que tudo isso muda de uma hora para outra? Como é amanhecer o dia e não levá-lo mais à escola, à natação, ao inglês? Como se preenche esse oco eterno?  
É impossível pedir para uma mãe ser forte nessas horas. 

Jornalista (analima@bravacomunicacao.com).

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